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Como anda a saúde renal da mulher?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

Desde 2006, um movimento global dedica um dia do ano para ser o dia mundial do rim. As campanhas têm uma característica em comum: chamar a atenção da população mundial para a importância do cuidado dos rins. Os temas abordados, entretanto, têm se referido a diversos grupos de pessoas e, neste ano, o dia mundial do rim coincidiu com o dia internacional da mulher. O tema em 2018 é “Saúde da Mulher - Cuide de seus rins”.

A doença renal está intimamente relacionada a outras doenças crônicas de alta incidência na vida moderna: diabetes e hipertensão. Em todo o mundo, são as duas principais causas da doença renal. E o que é a doença renal? É a perda progressiva da função dos rins, o que pode ocorrer ao longo de meses ou anos. Quase sempre, as pessoas não percebem o processo, porque os efeitos são silenciosos, ou seja, quando um sintoma resultante da perda de função renal aparece, o estágio da doença, provavelmente, está bem avançado. Uma pessoa pode perder mais de 75% da função renal sem ter nenhum sintoma.

Há alguns anos os pesquisadores vêm usando uma frase que é muito comum ser encontrada nos artigos científicos: a doença renal é um problema de saúde pública global. Não só pela quantidade de pessoas afetadas, mas pelo impacto social e econômico de que se ressentem os países. Os dados apontam para gastos de bilhões de dólares anuais, e nos países pobres o prejuízo se conta em vidas humanas, algo incalculável, porque nestes não se dispõe de serviços de tratamento.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, estima-se que a China perderá quase 560 bilhões de dólares, na próxima década, devido o efeito da morte e incapacitação por causa da doença renal e cardiovascular. Menos de 10% das pessoas que precisam de atendimento, recebem tratamento especializado para a doença renal em países como o Paquistão e Índia. No Brasil, os gastos chegam a R$ 2,5 bilhões na terapia renal substitutiva, incluindo os transplantes e medicamentos especiais. Daí o porquê da ênfase das campanhas na prevenção. Um simples exame de sangue, como a creatinina, descoberta desde 1886 por Max Jaffé, continua a ser um marcador moderno de disfunção renal.

Ter uma vida saudável, o que inclui alimentação, exercícios físicos e o enfrentamento do estresse, constitui uma arma poderosa contra a prevenção da doença dos rins. Além é claro, para os casos específicos, do tratamento rigoroso da hipertensão, diabetes e da Obesidade. O envelhecimento da população também contribui para a vulnerabilidade dos rins.

Há tratamento para a doença renal. Significa que uma pessoa pode viver muitos anos com cuidados adequados, sem necessitar do tratamento renal substitutivo: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal. Um dado preocupante indica que entre 8% e 10% da população adulta mundial têm algum tipo de dano renal. Sem diagnóstico e tratamento, milhões de pessoas morrem de forma prematura. Além disso, a doença renal, uma vez desenvolvida, desencadeia complicações cardiovasculares. Um doente renal está mais sujeito a acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos que uma pessoa saudável.

E quanto às mulheres? Os dados recentes, em relação a esse grupo, indicam algo que precisa toda a atenção dos serviços de saúde. A doença renal é a 8ª causa de morte entre mulheres. Cerca de 195 milhões têm doença renal diagnosticada e, dessas, 600 mil morrem anualmente. Esta é a razão da campanha chamar a atenção para este grupo, neste ano.

Muitas pesquisas apontam para o fato de as mulheres terem ligeira predisposição para desenvolver a doença renal, mais que os homens. A prevalência média indica 14% para as mulheres e 12% para os homens. Este é um momento oportuno para que eventos diversos comemorativos, referentes ao dia internacional da mulher, aproveitem a enorme visibilidade do tema e agregue a discussão da saúde renal da mulher. Cuide dos seus rins. Dose a sua creatinina.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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