Artigo

Microalgas da Petrobras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

Li com grata satisfação que o Centro de Pesquisa (Cenpes) da Petrobras está desenvolvendo tecnologia pioneira para produzir biodiesel a partir de microalgas. O biodiesel é uma alternativa aos combustíveis derivados do petróleo.

A primeira vez que vi pesquisa desse tipo foi em 2007. Fiquei tão fascinado com os resultados obtidos pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) que escrevi ao presidente Lula contando sobre esse experimento que primeiramente foi testado na Estação Espacial Internacional (ISS) usando algas para absorver o CO2 gerado pela respiração da tripulação. Depois escrevi aos deputados e senadores. Esperava despertar na classe política deste país o interesse em providenciar leis que estimulassem avanços nessa área. Principalmente na recuperação de CO2 tal como foi feito pelo MIT.

Será que esperei demais dos nossos políticos? Afinal de contas, temos muitas indústrias que geram CO2 e que acabam lançados na atmosfera, como acontecia com a termelétrica do MIT. E não é melhor utilizar o CO2 da queima de combustível para fazer crescer algas. E mais ainda uma que produz óleo. Eles escolheram uma que o óleo representa mais da metade do peso da alga.

Temos que ter em mente que a alga é um ser vivo de apenas uma célula, que cresce muito rápido, dobrando de peso a cada duas horas, permitindo uma grande produção de biodiesel. Como vantagem adicional, essas algas reduziram a emissão de CO2 da usina elétrica do MIT em 82% nos dias ensolarados e de 50% nos dias nublados, porém, a redução de óxidos de nitrogênio foi de 85%, tanto de dia e quanto de noite. E a produtividade por hectare foi de 250 vezes maior quando comparado com o óleo de milho (nos Estados Unidos da América).

Já o projeto das microalgas da Petrobras foi apresentado como um projeto de vanguarda, pioneiro no Brasil e que logo estará disponível. As microalgas têm como principal vantagem não ter sazonalidade (períodos de safra) e não depender de condições específicas, como de solo, por exemplo, para sua produção. Sua fabricação possibilita colheitas semanais, com uma produtividade até 40 vezes maior do que a da biomassa feita de vegetais terrestres.

O Cenpes informa que o próximo passo é produzir o biocombustível de microalgas em escala comercial, pois já foi submetido a testes de qualificação em laboratório, sob os padrões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e os resultados preliminares mostraram-se promissores.

E cada tonelada de microalgas usadas para a produção de biodiesel pode retirar até 2,5 toneladas de gás carbônico do ar, taxa muito maior que a de outros vegetais como a soja ou a cana-de-açúcar.

O Cenpes ainda estuda o cultivo de microalgas em águas oriundas da produção de petróleo, contribuindo no tratamento dessa água para descarte ou para reuso. As microalgas utilizam as substâncias presentes na água de produção, como nitrogênio e fósforo, como insumos para a conversão em biomassa.

Atualmente, o processo é testado em uma escala piloto, em tanques abertos, com capacidade para 20 mil litros. Já os deputados e senadores, que leis fizeram?

Mario Eugenio Saturno

Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

cientecfan.blogspot.com

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