Veículos antigos

Amor pelo Fusca não tem idade e é passado de geração a geração

Jovens e idosos possuem, em São Luís, o mesmo gosto pelo Fusca; há os que o usam para passeio; outros, para serviço, e até como meio de transporte em viagens; mas é preciso gostar de carro antigo para apreciar o veículo

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

[e-s001]Jovens, idosos, mulheres, homens. Não há sexo nem idade. Quando se fala de Fusca, há os que pensam apenas em algo velho, dá problemas e não serve mais. Porém, outras pessoas o consideram um membro da família e gastam o que têm (e até o que não têm) para mantê-lo em circulação, mesmo cheio de defeitos. Quem gosta diz: é preciso gostar bastante de carro antigo para apreciar o Fusca.

Em São Luís, além de cidadãos comuns, que têm suas profissões e seus Fuscas ainda na garagem, há os clubes – montados a partir de mobilizações em redes sociais – de pessoas que curtem o velho Fusca. No próximo dia 10, às 19h, inclusive, haverá um encontro dos amantes do veículo, em frente ao Golden Shopping, no Calhau.

Um dos que estarão no encontro é Michel de Oliveira, de 38 anos. Natural do interior de São Paulo e residente na Ilha, ele pode se chamar de “doido” pelo Fusca, já que não se contentou em apenas ter um – verde-oliva, comprado em São Paulo e datado de 1980. Em sua garagem, estão três. Além do Fusquinha verde-oliva, cujos detalhes de cor (original e mantida apenas com polimentos semanais) e design das rodas (que remetem à fabricação do modelo) impressionam, também estão sob posse do fã o tipo Sheriff (customizado com detalhes como se fosse um carro de polícia), de 1971, e o mais “novo”, de 1983, com rodas esportivas. “Eu sempre gostei do Fusca e, quando tenho um, quero logo trocar por outro”, disse.

O amante do Fusca Michel de Oliveira já perdeu as contas de quantos teve. “Nem lembro mais!”, conta, sentado no interior do modelo de 1980, sintonizando uma estação em AM do rádio original do carro. Outros detalhes, como o quebra-vento, ajudam a dar charme à versão 1980 do Fusca. “Eu gosto desse carro como se fosse da minha família”, afirmou. Apesar do gosto, ele confessou que o modelo está à venda. “Está, pois quero passar meu amor para outra pessoa”, disse. Para mais informações sobre o Fusca à venda, basta ligar para (98) 99911-7007.

Quem também ama o Fusca é o mecânico Marcos Porto. Ele recebeu O Estado em sua oficina no bairro Cohatrac (na esquina das avenidas Contorno Leste e Norte), ajustando uma das peças de seu Fusca, comprado há seis anos e fabricado em 1979. Ao contrário daqueles que têm Fusca apenas pensando na originalidade do modelo, o mecânico preferiu colocar a sua cara no carro. “Coloquei alguns frisos e uns detalhes em vermelho para dar um estilo ao carro”, disse. As rodas, inclusive, também são em vermelho.

Ele contou ainda que o Fusca é usado para viagens. “Quando vou para o interior, em especial para a Baixada Maranhense, coloco a bagagem e a minha família nele”, contou. Desde que comprou o carro, o mecânico disse que em nenhuma viagem o Fusca apresentou problemas. “Eu só me preocupo em colocar gasolina”, disse, orgulhoso.

Questionado, em tom de brincadeira, se pensa em vender o seu carro, ele foi direto. “Nem vem com essa proposta”, disse.


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Presente
O gosto pelo Fusca também faz parte da vida de jovens, como Jonas Sakamoto, de 29 anos. O Fusca 1977, que atualmente está mais na oficina do que nas ruas, foi motivo de grande felicidade para ele, em julho de 2015, quando ganhou o carro de seu pai. “Ele [pai] viajou para Parnaíba a trabalho e olhou este Fusca. Disse inicialmente que estava difícil negociá-lo quando, um belo dia, ao sair do trabalho, o carro estava parado na porta de casa, aqui em São Luís. Meu pai fez uma surpresa para mim”, afirmou.

O amante de Fusca Jonas Sakamoto contou a O Estado que já recusou ofertas tentadores pelo veículo. “Uma vez, estava em uma festa com amigos quando um cara me deu uma chave de um veículo importado para trocar com o meu Fusca. E eu recusei”, afirmou.

Grupo que aprecia o Fusca
Em São Luís, existem vários grupos amantes do Fusca. Um deles é a “Turma do Fusca”, criada no dia 21 de setembro de 2015, a partir da iniciativa de um “doido” por Fusca, Tiago de Paula.

“A turma começou na verdade em 2004, quando eu usava imagens tirada de um celular velho do meu Fusca. Várias pessoas começaram a me procurar para pedir informações, a partir do momento em que as imagens eram postadas. Começamos a nos juntar e hoje estamos no grupo”, disse.

Atualmente, a “Turma do Fusca” conta com 57 seguidores e promove eventos em prol da memória do modelo. “Tem de gostar muito do Fusca para ter, mas só quem gosta para entender esse amor”, afirmou.

[e-s001]Mercado raro, mais ativo
O leitor deve se perguntar ao chegar a este ponto da reportagem: e aí, se der um problema em um desses Fuscas, como achar peças? Engana-se quem pensa que não há mais oferta de peças feitas exclusivamente para o Fusca. Um dos raros locais na capital maranhense que ainda comercializa acessórios e itens da mecânica do Fusca está situado na Avenida Guajajaras.

Em plena quinta-feira, 1º, chuvosa, o dono do estabelecimento, Lúcio Gonçalves, informou que havia acabado de montar o motor do Fusca de um cliente. “Acabei de receber um dono de Fusca aqui na loja”, disse. Ele conta o porquê de ainda negociar peças de um modelo que é usado apenas por apreciadores. “Há muita gente que gosta do Fusca, e temos vários clientes”, afirmou, mostrando algumas peças, como a “cabeça de boi”, que forma parte da lataria do Fusca.

Ele também apresentou o kit de motor, um conjunto de quatro peças vendidas juntas. “As peças são todas originais e novas”, garantiu Lúcio Gonçalves, que informou de onde vêm as peças. “Elas são, em sua grande maioria, originais de São Paulo”, afirmou.

APELIDOS
Carocha (Portugal)
Beetle (Estados Unidos)
Boble (Noruega)
Volta (África do Sul)
Kodok (Indonésia)
Brouki (República Tcheca)
Peta (Bolívia)
Baratinha (Cabo Verde)
Cucarachita (Guatemala e Honduras)
Escarabajo (Venezuela)
Garbus (Polônia)
No Brasil
Apelidos: Pulga, Joaninha, Corcunda, Besouro, Barata, Baratinha
Fonte: https://www.areah.com.br

NÚMEROS
21.529.464
modelos foram produzidos do Fusca de 1931 até 2003
R$ 55 mil é o valor que ainda pode ser encontrado um Fusca à venda em sites
1938 foi o ano de nascimento do Fusca no Brasil
990 marcos foi o valor inicial do Fusca, assim que saiu da sede produtora do modelo

CURIOSIDADES

Carro de guerra
Se o objetivo inicial foi fabricar o Fusca para uso popular, anos mais tarde, o veículo foi usado durante a Segunda Guerra Mundial. Para isso, foi lançada a versão, por exemplo, chamada de Schwimmwagen, ou o Fusca anfíbio. A apresentação militar do Fusca ocorreu em 1939, ano do pontapé dos conflitos bélicos no mundo. Para se adaptar à guerra, o Fusca precisou ser modificado, com a inclusão de motor mais potente (de 26 cavalos). Estima-se que, para os interesses de guerra, mais de 70 mil unidades militares foram fabricadas.

Fusca “rejuvenescido” e valorizado
Em sites de compra e venda de veículos na internet, é possível encontrar bons Fuscas para quem quer optar pelo saudosismo na escolha do carro. Dependendo do tempo de uso (quilometragem), estado de conservação e acessórios, ainda se encontra Fusca na faixa de preço de R$ 3 a R$ 5 mil. No entanto, diante da procura e exigência dos clientes, alguns vendedores ofertam verdadeiros Fuscas repaginados que podem custar até R$ 55 mil, dependendo da conservação da tinta da parte externa e de detalhes, como forração do teto, de portas e bancos. Além das peças, conta ainda para a elevação do preço do Fusca a originalidade. Ou seja, quanto mais antiga for a sua lanterna, por exemplo, mais caro pode ser o modelo. O Estado pesquisou que uma loja de compra e venda de veículos na Avenida São Luís Rei de França, no Turu, ainda comercializa Fuscas.

Datas especiais para o Fusca
Algumas datas são particularmente especiais para o modelo em questão. 22 de junho é o Dia Mundial do Fusca pois, neste dia, no ano de 1934, foi assinado o contrato entre Ferdinand Porsche e a Associação Nacional da Indústria Automobilística Alemã, dando início ao desenvolvimento do Fusca. Já no Brasil, o Dia Nacional em alusão ao modelo foi instituído no dia 20 de janeiro, dia em que foi iniciada a produção popular no país.

[e-s001]O MAIS ANTIGO

Segundo o site flatout.com.br, o Fusca 1942 de um senhor alemão chamado Otto Weymann é considerado o mais antigo em circulação do mundo. No Brasil, os mais antigos que ainda rodam são de décadas mais recentes, em especial de 1970 em diante.

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