Artigo

2018 - Mais um ano de violência?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

O carnaval de 2018 foi o mais violento dos últimos anos. A própria Campanha da Fraternidade adotou como tema “Fraternidade e Superação da Violência”. Das leituras que andei fazendo, procurando as causas de tanta violência no mundo, outras ideias me fizeram pensar diferente daquilo que comumente se atribui como causa da imensa violência no planeta. Assim como se encontra grandes homens que pensaram na ciência antes que fosse comum, como hoje, também existiam homens que se preocupavam com o pensamento, algo que permite aos seres humanos encararem a vida e o mundo, e o que acontece ao redor deles.

Jean Piaget, considerado um dos maiores pensadores do século XX, responsável pela teoria do conhecimento baseada nos estudos da gênese psicológica do pensamento humano, ensina que o pensamento é construto do conhecimento. Como ele, René Descartes demonstrou, através da matemática, as formas e as medidas dos corpos. Em sua obra “Discurso sobre o método”, de 1636, mostrou o pensamento filosófico para todas as ciências. Para ele, uma verdade é consequência da outra. “Penso, logo existo”. Pitágoras, filósofo grego antes de Cristo, também afirma que é preciso educar as crianças para que não seja necessário punir os adultos.

Nunca o mundo viveu tão longe do pensamento, deixando-se contaminar pela violência, desequilibrando sistemas, nações e pessoas. Os homens deixaram de pensar? O pensamento lógico, que predomina os conceitos e arrasta o raciocínio, sumiu? Onde está o mundo racional, que difere os seres humanos dos demais seres?

A escravatura foi banida da face da terra porque os homens de bom senso assim pensavam e queriam. As mulheres ocuparam seu espaço no cenário social e econômico porque o pensamento evoluiu. Os preconceitos foram diminuindo e os novos conceitos, decorrentes de um novo pensamento, foram se espalhando acerca da diversidade. E a violência?

A nossa vida é comandada pelos sentimentos, dentre eles, o medo. Eles vão e vêm em nossos pensamentos, passam pelas nossas emoções e podem dirigir as nossas ações. Cabe-nos, então, regrá-los conscientemente, fazendo isso de acordo com o pensamento que domina o mundo. Hoje, o pensamento dominante é aquele em que a sociedade vive as paranóias com muros, cercas eletrônicas, câmaras e sensores, em nome da violência urbana. Convivemos com as paranóias cibernéticas, que são aquelas difundidas pelas redes sociais, exercendo uma força sobre os indivíduos a ponto de fazer desaparecer a soberania deles sobre sua vontade.

É possível que não haja espaço para o pensamento se não houver uma saída de cada pessoa de si mesmo em direção à existência e experiência do outro, o que na linguagem da comunicação humana se chama diálogo. Pensamento tem muito a ver com o comportamento pessoal, com a relação que o homem tem com o mundo e vice-versa. O homem, como um ser no mundo edifica sua consciência no vácuo de si mesmo.

Cabe aos homens, às instituições fazer a história do pensamento, e aqui os escritores, as academias de letras e cultura têm o papel preponderante de construir um novo pensamento.

O pensamento, que tanto serviu à evolução da humanidade, não atingiu ainda a violência, que se expande cada vez mais no mundo inteiro. O respeito pela vida e o amor ao próximo são essenciais. A inteligência há muito deixou de ser instrumento a serviço da vida. Sem ela (inteligência) não haverá pensamento.

Aldy Mello

Ex-reitor da UFMA e do CEUMA, fundador da ALL e membro efetivo do IHGM

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