Memória

Historiador russo luta para tirar vítimas de Stálin do esquecimento

Autoridades russas buscam minimizar essas páginas sombrias do passado, usando a carta da unidade nacional

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33

LENINGRADO - Há 30 anos, o historiador russo Anatoli Razumov trabalha para trazer à tona os nomes daqueles que foram executados nos expurgos de Stálin em Leningrado, atual São Petersburgo, um trabalho que tirou milhares de vítimas do anonimato.

"Não encontrei nenhuma lógica. Era desumano e inexplicável", disse o historiador à AFP depois de anos de um meticuloso trabalho, em meio a um ambiente de indiferença.

O trabalho de memória histórica continua sendo difícil mais de 80 anos depois do apogeu do regime de terror de Stálin, o qual provocou a morte de milhões de pessoas e enviou milhões para trabalhar nos "gulags" em condições insalubres, à beira da morte por inanição.

As autoridades russas - com o presidente Vladimir Putin à frente - buscam minimizar essas páginas sombrias do passado, usando a carta da unidade nacional.

Nos 13 volumes de "Martirológio de Leningrado" (tradução literal em português do título original), redigidos desde 1987 sob a direção de Razumov, estão nomes, datas de nascimento e de óbito, ocupação e destino daqueles que um dia desapareceram das ruas de Leningrado. Desvaneceram-se como se nunca tivessem existido.

No melhor dos casos, seus familiares eram informados de sua "condenação sem direito a receber correspondência", mas sem nunca chegar a saber o que, de fato, aconteceu.

"Iniciei minhas investigações em 1987, na época da Perestroika, assim que foi possível", contou Razumov à AFP.

Filho de um militar soviético que não foi engolido pela repressão, Razumov mergulhou na tarefa de prestar uma última homenagem a esses homens e mulheres, sem importar sua ocupação. Homens e mulheres que foram caluniados e executados durante esta época de terror.

O escritório de Razumov, de 62 anos, fica no centro da cidade, antiga capital imperial, dentro do enorme edifício que abriga a Biblioteca Nacional.

O local está repleto de armários cheios de livros e de documentos que ele conseguiu recuperar. Entre eles, destacam-se os arquivos da Polícia política de Stálin, a NKVD. O historiador também tem em mãos os papéis enviados pelas famílias das vítimas.

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