Reflexão

Para além da violência

Espetáculo do Ateliê Contemporâneo Cia de Dança levará ao palco do Teatro Arthur Azevedo, este fim de semana, histórias de mulheres vítimas de violência

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33
Espetáculo aborda a violência contra a mulher
Espetáculo aborda a violência contra a mulher

SÃO LUÍS - O Ateliê Contemporâneo Cia de Dança leva ao palco do Teatro Arthur Azevedo neste sábado e domingo, às 20h, o espetáculo de balé “Feminicídio”. A montagem pretende falar, através da caligrafia do corpo, sobre um tema que ainda é tabu na sociedade brasileira e, assim, alertar para a questão da agressão às mulheres.

O balé foi montado a partir de um conjunto de fatos verídicos, com histórias de mulheres que morreram e também de crimes contra mulheres de diferentes idades. “O balé Feminicídio visa ampliar o ingresso não só de mulheres, mas de toda a sociedade na luta contra todos os tipos de agressão. Acreditamos que a dança será um meio diferente para falar sobre o tema, e através das redes sociais da Cia observamos que o objetivo começou a ser atingido. Porém, o interessante foi que obtivemos resultados complementares. A parceria estabelecida entre a companhia, vítimas e pessoas que conhecem casos, se estabeleceu e diariamente recebemos vários relatos de mulheres que vivem atualmente em meio a agressões e outras que conseguiram se libertar”, destaca a diretora da Cia, Silvana Noely.

A diretora explica que o balé inicia na década de 1970, na época da ditadura militar, quando muitas mulheres morreram e muitas nunca foram encontradas. Uma das sobreviventes, Dulce Maia, tem participação fundamental no balé. “Seria a voz que narra o inicio do espetáculo. O último contato com Dulce foi no dia 5 de maio de 2017 e sete dias depois ela veio a falecer”, lamenta Silvana Noely.

Em seu relato, a mulher narra os momentos de horror que passou nas mãos dos militares. “Muitos deles vinham assistir para aprender a torturar. E lá estava eu, uma mulher franzina no meio daqueles homens alucinados, que quase babavam. Hoje, eu ainda vejo a cara dessas pessoas, são lembranças muito fortes. Eu vejo a cara do estuprador. Era uma cara redonda. Era um homem gordo, que me dava choques na vagina e dizia: 'Você vai parir eletricidade'. Depois disso, me estuprou ali mesmo”, contou Dulce Maia em conversa com o grupo de dança. Ela era ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e produtora cultural. Foi presa na madrugada de 26 de janeiro de 1969, em São Paulo (SP).

Outra história que será abordada no espetáculo é o da jovem Bárbara Penna, de Porto Alegre, que foi agredida pelo companheiro que botou fogo no apartamento e matou os dois filhos dela. Após meses no hospital, Bárbara conta que viveu para fazer justiça e contar sua história para alertar outras mulheres.

Vítima de violência doméstica, a cantora Elza Soares, cujo último trabalho é o disco “A mulher do fim do mundo”, enviou um vídeo de apoio ao espetáculo. “Tivemos a honra de ter o apoio moral da cantora Elza Soares. Ao chegar ao seu conhecimento que sua música ‘A mulher do fim do mundo’ faz parte da trilha sonora do balé, fez questão de vestir a camisa que enviamos e usou em entrevista ao apresentador Zeca Camargo. Ela nos enviou um vídeo onde colabora com o Ateliê fazendo um apelo, para que as mulheres denunciem”, conta Silvana Noely, descanado que mulheres como Dorothy Stang, Ângela Diniz, Maria Féa, Daniella Perez e Eliza Samudio serão lembrados durante o espetáculo.

Espetáculo é inspirado em histórias reais
Espetáculo é inspirado em histórias reais

Equipe

Para levar tudo isso ao palco, um time de profissionais compõem o Ateliê. O coreógrafo é Fábio Alcântara, atualmente residente do Ateliê Contemporâneo Cia de Dança. O profissional coreografou a obra “O que tinha de ser”, em 2016, do Balé da Cidade de Taubaté (SP). Retornou recentemente da Europa onde ganhou os prêmios de melhor bailarino e melhor coreógrafo do NFD International Dance Competition Porto, Portugal ano passado. É natural de Recife (PE) e já atuou em companhias de dança em São Paulo, Rio de Janeiro e atuou como bailarino na Gala do Theatro Municipal de São Paulo.

Érica Ateruya e Cléo Júnior são os ensaiadores. Érica é uma das bailarina do Balé da Cidade de Taubaté desde 2010. Entre os trabalhos, destaca-se o duo "Entre Nós", de Fábio Alcântara, recentemente premiado no Festival Norte de Dança Porto, em Portugal como melhor duo contemporâneo e melhor bailarina. Também participou de obras de Victor Navarro e Dani Bittencourt e oficinas de Luiz Fernando Bongiovani e Jorge Garcia.

O maranhense Cléo Junior é bailarino, coreógrafo e ensaiador. Iniciou seus estudos de Ballet Clássico com Reynaldo Faray. Em seguida, esteve no Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Estadual de Danças Maria Olenewa. Em Belo Horizonte, fez o Curso de Metodologia da Escola Cubana de Ballet, com Reynaldo Muniz.

A diretora geral Silvana Noely é de São Luís assina mais de 30 coreografias e cinco espetáculos: “Nudez”; “Rímel”, vencedor do Prêmio Sated 2010 de melhor espetáculo e melhor coreografia; “Insanos”; “Clichê”; e “Feminicídio”. É fundadora do Ateliê Contemporâneo Cia de Dança. Tara-se de uma companhia nascida em 2003, quando ainda assinava como Companhia de Teatro e Dança Resgate. Em 2016 mudou o nome tendo como característica a originalidade, com manifestação artística através da dança contemporânea.

Com uma linguagem coreográfica de abordagem, sempre levantando questões sociais e poéticas em sua estética e temáticas. Utiliza-se também da diversidade de linguagens artísticas como ferramenta de criação, priorizando a busca de um corpo versátil que se aproxime ao máximo do particular contemporâneo. A Cia tem 27 bailarinos, um coreógrafo, dois ensaiadores e é sediado no bairro do Vinhais.

Serviço

O quê

Balé “Feminicídio”

Quando

Sábado e domingo, às 20h

Onde

Teatro Arthur Azevedo, Rua do Sol, Centro

Ingressos

R$ 40,00 (plateia e frisa), R$ 30,00 (camarote e balcão) e R$ 20,00 (galeria)

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