Em busca de um milagre

Como são analisadas cura e fé nas visões de diferentes religiões

Católicos, evangélicos e espíritas encontram fundamentos em vários campos do conhecimento, mas reconhecem que crer em algo pode proporcionar dádivas

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33

[e-s001]Cada religião estuda a relação entre fé e cura de diferentes pontos de vista. Pensamentos católicos, evangélicos e espíritas encontram fundamentos em vários campos do conhecimento. No entanto, reconhecem que o crer em algo pode proporcionar grandes dádivas.

No caso do catolicismo, por exem­plo, a cura não é analisada - para alguns especialistas e representantes da religião - apenas como um reflexo da fé cristã. Para a grande maioria dos católicos, a cura é oriunda do preceito máximo da religião, ou seja, “o amor de Deus e para Deus”. Por isso, de acordo com teses teológicas ligadas ao catolicismo, a fé é vista como um “mistério” que não permite mensuração ou tratamento palpável e, ao mesmo tempo, considerado fator fundamental na relação entre o católico e Deus.

O funcionamento da relação entre católicos e Deus é a base da religião e fundamental para o entendimento da relação entre fé e cura. Determinadas ações ou atitudes que, para a maioria dos cristãos, não seriam vistas como cura, para Deus pode ser a demonstração de seu amor aos cristãos. E, neste caso, o verdadeiro católico deve estar atento para perceber quais benefícios recebido em sua vida a partir do amor de Deus.


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Com base nisso, muitos católicos são escolhidos e agraciados com dádivas e agradecem diariamente por elas. Em São Luís, há vários exemplos de eventos religiosos promovidos para esta finalidade. Um deles é a missa da saúde, celebrada em diversas paróquias da capital e de outros municípios da região metropolitana. No bairro Angelim, semanalmente, é celebrada a missa da saúde, em que cristãos se reúnem para agradecer por bênçãos recebidas, segundo suas crenças, por intercessões divinas.

Na quinta-feira, 18, a celebração foi liderada pelo orientador espiritual da Renovação Carismática Católica (RCC), frei Wanderlan Carvalho. Ele proferiu a palavra a partir do conceito, para os católicos, de que as pessoas são protegidas e curadas por anjos da guarda. “É necessário agradecer a Deus e aos anjos enviados por ele para nos proteger e livrar de todo o mal”, disse. Ele reconhece ainda a importância de Deus no processo de cura.

Para o presidente do Conselho Arquidiocesano da RCC, Robert Araújo, o “crer” na benção e na cura está previsto na palavra de Deus. Ele cita a passagem bíblica do livro de João, capítulo 11, versículo 40, em que Jesus se refere a Marta, cujo irmão havia morrido. “Ele afirma que, ‘se creres, verás a glória de Deus’. Portanto, para todos nós, é, sim, possível alcançar qualquer milagre a partir da nossa crença verdadeira em Deus”’, disse.

Espiritismo
Os espíritas consideram que existe uma relação direta entre a fé e a cura com base em conceitos subjetivos e científicos. Uma das principais interpretações dos seguidores dessa religião é que o “crer” (entendido neste caso como fé) pode vir a ser um componente de motivação comportamental que pode induzir o sistema imunológico a combater diretamente o obstáculo enfermo. Outro fator de crença para o espírita é a cura a partir da mera substituição de uma “molécula enferma” por uma molécula considerada “saudável”.

Para o integrante do Centro Espírita Yvonne Pereira - fundado há duas décadas e situado no Jardim Renascença (em São Luís) - Luiz Henrique Jansen Pereira, o tratamento se dá a partir do perispírito, ou no corpo fluídico da alma. “O Espiritismo prega essa tese, porque são os espíritos desencarnados com o médium que fazem o procedimento de cura”, disse.
Além de considerar a fé como fator para alterações no sistema imunológico, para o espírita, o comportamento também pode ser fundamental para alcançar a cura, já que o seguidor da religião tende a relativizar problemas e a tratar as dificuldades como apenas “questões a mais” a serem resolvidas.

Em um trecho de “O Livro dos Médiuns”, do escritor conhecido do segmento espírita Allan Kardec, é possível ter uma fundamentação sobre o tema. Para ele, “sendo o Espírito encarnado capaz de atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites”. Segundo o autor, é sob este conceito que se constrói a convicção de que a cura dos males é real e pode ser personificada, por exemplo, por um simples contato com as mãos.

[e-s001]Outro fator considerado pelos espíritas, neste caso, é a crença de que a obediência ao tratamento, no caso de enfermidades, também ocorre a partir da confiança de que, ao seguir as recomendações médicas, o paciente será curado. Em síntese, para os espíritas, a relação entre fé e cura extrapola o campo da mistificação e do imaginário apenas, pois se reflete - por exemplo - na construção de hábitos mais regulares, tornando as pessoas mais equilibradas e harmoniosas entre si.

Evangélicos
A religião evangélica considera a dependência entre fé e cura a partir do pensamento de que o curar está relacionado ao lado físico e espiritual. Para os evangélicos, todo aquele que crer em Jesus como o filho enviado de Deus para nos conceder graça e morrer por todos nós, aceitando-o como salvador, não somente receberá a cura da alma, como também por consequência terá condições de lidar com as moléstias físicas, psíquicas e emocionais.

Os evangélicos baseiam seu pensamento a partir de passagens da Bíblia, como a registrada no livro II de Coríntios capítulo 7, versículo 14. No trecho, é preconizado que “se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter de seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra”.

Outro trecho bíblico que corrobora a tese é Marcos, capítulo 9, versículos 17 a 27. No texto, é relatada a história do menino com o demônio no corpo. Nenhum dos apóstolos procurados pelo pai do jovem consegue a cura. Mesmo assim, o pai não desiste e procura Jesus Cristo que questiona a falta de fé das pessoas. No versículo 23, Jesus resume a passagem, proferindo a seguinte frase: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”.

Para o pastor-presidente da Assembleia de Deus da cidade de Timon (MA), Euvaldo Pereira de Sá, a fé e o elemento norteador de toda a relação dos evangélicos para com Deus e Jesus Cristo. “Uma vez confirmada, o homem somente desfruta dos benefícios de Deus. Para isso, ele precisa fazer a sua parte, alimentando espiritualmente todos os dias por meio da oração a sua relação com Deus”, disse.

A cura “apenas pelo dinheiro”
Estudo divulgado pela Universidade de Texas aponta que a taxa de mortalidade infantil cresce gradativamente em comunidades que frequentam determinadas igrejas , em especial, as chamadas neopentecostais. Para especialistas, esta mortalidade é relacionada à certeza considerada “irracional” de cura a partir meramente de dízimos ou doações materiais, como algumas igrejas nascidas nas últimas décadas apregoam dentre seus líderes, sem qualquer participação de médicos ou tratamentos medicamentosos.

A necessidade de cura a partir de uma realidade aparentemente sem solução imediata é o principal fator que leva vários seguidores de determinadas igrejas neopentecostais a “doarem”, por conta própria, bens pessoais como carros, computadores, dentre outros itens.

[e-s001]Em contrapartida, existem decisões favoráveis a ex-fiéis que acreditaram na cura e abandonaram seus tratamentos. Em 2015, um fiel (que não teve o nome revelado), ganhou aproximadamente R$ 300 mil após comprovar que deixou de se tratar contra a Aids a partir de aconselhamentos feitos por pastores ligados à igreja que frequentava no Rio Grande do Sul (RS). À época, ele declarou que doou celulares e computadores para atingir tal milagre.

SAIBA MAIS

Catolicismo – A cura é gerada pela fé e pelo amor a Deus e demonstrações deste amor aos outros.
Espiritismo - A cura está relacionada ao sistema imunológico, capaz de transformar uma “molécula enferma” em “saudável”.
Evangelismo – A cura somente é possível pela graça de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. Para isso, o (a) cristão (ã) deve demostrar a sua fé.

Fonte: http://algomaior.com.br

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