Artigo

Para imortalizar um nome

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

Existem termos populares que você nem imagina que tenham sido originados de nomes próprios. Seus donos acabaram se imortalizando apenas por causa dessa popularização, o que significa que ter executado um grandioso feito não é condição sine qua non para ter um nome eternizado. Charles Boycott é um exemplo disso.

Ele foi um capitão francês que viveu de 1832 a 1897 e teria ficado obscurecido sob os mantos da história não tivesse sido encarregado pelo conde de Earnes para cobrar impostos extorsivos de trabalhadores empobrecidos. Pois Boycott foi tão açodado em sua tarefa, que teve sua cobrança solenemente ignorada pelos habitantes da região. E, assim, se tornou o primeiro ‘boicotado’ da história.

Simplesmente aconteceu que, a uma atitude corajosa de repulsa coletiva a uma cobrança, faltava um termo que a traduzisse, o que faz pensar que novos nomes poderiam ser criados para expressar melhor certas atitudes de quem as executa. O futuro nos agradeceria se as criássemos:

1.Michelismo. Muitas das ações do nosso presidente, ou todas juntas, ainda não acharam um termo apropriado para traduzir a prodigalidade em traquinagens que o personagem encerra!

Como representar com uma só palavra a atitude de quem chama de bandido àquele que recebe com abraços e beijos, altas horas da noite em sua residência? Ou cujos homens de confiança manuseiam malas de dinheiro com endereçamento obscuro? Ou ao mandatário que compra o apoio de deputados para fugir da cadeia, usando para isso emendas parlamentares? Que tal chamar a tudo isso de Michelismo?

Isso facilitaria enormemente a comunicação futura do brasileiro já que, ao que tudo indica, as falcatruas continuarão. Podemos imaginar daqui a 30 anos um deputado, eufórico, antecipando a grana de sua emenda aprovada e ofertando-a à sua digníssima esposa “Nosso Natal chique mais uma vez está garantido!” “Como conseguiu , meu amor? “ Ora, querida, Michelismo, pra variar. Isso nunca acabará neste país. Felizmente para nós!”

2.Buenada ou Galvanada. Um neologismo criado a partir das patriotadas de Galvão Bueno (cujo teor se eleva na proximidade das Copas) poderia definir melhor, através de uma só expressão, esse tipo de patriotismo de araque e de encomenda que tem sido a marca das transmissões de futebol na tevê. Buenada ou Galvanada ficaria ótimo. Substituiria com precisão o que hoje fica entre exibicionismo e histrionismo podendo sobrepor-se até mesmo ao preconceituoso e execrável bahianada com que nossos irmãos do sul brindam os nordestinos, toda vez que alguém comete uma asneira.

3.Geddelânia.O termo sumiço já existe. De esposa, de marido, de dinheiro e de celular etc. Só ainda não existe uma palavra capaz de expressar o sumiço de 55 milhões de reais.

Geddelânia, inspirada em Geddel Vieira, o autor da façanha, poderia ser criada, então, para nomear esse fantástico lugar, onde 55 milhões de reais se amontoam e não aparece dono. Ao invés de Pasárgada, o paraíso proposto pelo poeta Manoel Bandeira onde ‘qualquer homem teria a mulher que gostaria na cama escolhida’ teríamos a Geddelânia como esse lugar paradisíaco da grana farta e sem dono. Assim, ao se indagar a alguém na fila da Loteria, o que faria com um prêmio caso fosse sorteado a resposta passaria a ser: adquirir uma Geddelânia. E, assim, resumiria tudo: sumiço, fartura de grana alheia e impunidade.

José Ewerton Neto

Autor de O ABC bem humorado de São Luis

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

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