Lembrança

Uma data inesquecível

Roseana Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
Roseana Sarney, governadora na época, comandou a campanha do título de Patrimônio Histórico
Roseana Sarney, governadora na época, comandou a campanha do título de Patrimônio Histórico (Roseana Sarney)

A sessão da Unesco que reconheceu São Luís como Patrimônio da Humanidade, realizada há exatamente 20 anos, em Nápoles, na Itália, foi um dos momentos mais emocionantes de minha vida.

Redobrou em mim, forte e intensamente, o orgulho de ser maranhense e filha de São Luís. O título representou o reconhecimento, por parte de todas as nações que integram a Convenção para o Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Unesco, do “valor universal excepcional” do centro histórico de nossa capital. Na solenidade que oficializou a decisão, estava acompanhada do presidente José Sarney e do prefeito de São Luís, Jackson Lago.

A exemplo das cidades do Velho Mundo e aquelas que marcaram o princípio da colonização das Américas, o casario colonial, os sobrados de azulejos, as fontes e igrejas do centro de São Luís passaram a constituir, a partir daquele instante, um patrimônio mundial a ser preservado e conservado por todas as gerações.

Tenho a honra de ser a autora da proposta que nos proporcionou aquele momento tão significativo para o nosso povo.

O título foi o coroamento de uma luta sem tréguas, que envolveu o trabalho altamente competente desenvolvido pelas equipes técnicas do meu governo, com a ajuda de consultores e especialistas, amparados em experiências anteriores bem sucedidas em defesa da nossa memória cultural.

Menos de um ano depois que entreguei nossa proposta à Unesco, em Paris, o Bureau do Comitê do Patrimônio Mundial aprovava, sem reservas, a recomendação positiva do Comitê Internacional de Monumentos e Sítios Históricos, passo decisivo para a conquista definitiva.

É importante destacar que, embora parte do centro histórico da cidade tenha sido inscrito em 1955 no livro do tombo do antigo Departamento do Patrimônio Histórico, o seu plano de recuperação só começou a ser executado no final da década de 60. Nessa época, o então governador José Sarney construiu as pontes sobre os rios Anil e Bacanga, permitindo a expansão da cidade em direção às praias, impedindo a descaracterização das construções antigas.

Presidente da República, Sarney ajudou o então governador Epitácio Cafeteira a realizar a primeira restauração do casario da Praia Grande. Dez quarteirões foram totalmente recuperados e o Convento das Mercês, fundado pela Ordem dos Mercedários, em 1654, reconstruído.

O então Governador Edison Lobão retomou o projeto. Restaurou e transformou em escola as antigas instalações da fábrica de tecidos do rio Anil e restaurou e modernizou o Teatro Arthur Azevedo, o segundo mais antigo das capitais brasileiras.

Como governadora, promovi a maior de todas as etapas de intervenções já realizadas por um programa de preservação e revitalização de sítios históricos. Foram mais de R$ 100 milhões investidos na recuperação completa da infraestrutura de 50 quarteirões da área histórica mais rica e expressiva da cidade, ou seja, exatamente aquela que foi reconhecida pela Unesco.

Além das obras de infraestrutura urbana, de renovação completa das redes de utilidade pública, todas subterrâneas, para ressaltar ainda mais a beleza da arquitetura colonial, foram realizadas obras de restauração e adaptação dos maiores e mais valiosos sobrados históricos, para os quais o Governo estabeleceu novos usos de grande interesse social, cultural e habitacional.

Decidi também estender os trabalhos de restauração ao bairro da Madre Deus, zona tombada pelo Patrimônio Histórico estadual, onde se encontra a Fábrica Cânhamo, centro de produção e comercialização de artesanato e de apoio a atividades culturais.

E, o que considero igualmente importante: incentivei e apoiei as organizações ligadas à cultura popular: os ritos de origem africana, o Tambor de Crioula, que também foi elevado à condição de Patrimônio Imaterial do Brasil, grupos de bumba-meu-boi, blocos tradicionais, e outras danças e festas do povo, como o Carnaval e o São João. São Luís restaurou o seu esplendor cultural.

O investimento em obras de infraestrutura na cidade nova, suas grandes avenidas, viadutos, serviços de saneamento, o Parque Ambiental da Lagoa da Jansen e o Aeroporto Internacional de São Luís integraram outro projeto: o da exploração da vocação de nossa cidade como um dos mais atraentes destinos turísticos do Brasil.

Pela nobreza do seu povo, que soube manter o seu patrimônio e preservar a sua memória, e também pela obra de todos que contribuíram para sua restauração, a velha São Luís renasceu.

Hoje, quando se completam 20 anos da conquista daquele título, ostentado por poucas cidades no mundo, vejo, com tristeza, o abandono a que foi relegado o Centro Histórico da nossa capital, que guarda, em suas ruas, becos e vielas, a alma de um povo que sabe amar a cultura como ninguém.

Lamentavelmente, o governo do Estado ignora por completo esta data histórica, e até mesmo a importância do título, que pode ser perdido, a continuar a degradação atual do nosso Centro Histórico. Desperdiça, assim, as amplas oportunidades de alavancar investimentos, projetar a nossa cultura, atrair turistas e promover a felicidade do nosso povo.

Maus governos passam. O nosso patrimônio cultural permanece. Mesmo precisando de cuidado e carinho, nos enche de orgulho.

Parabéns, São Luís, minha cidade, capital de todos os maranhenses, Patrimônio Cultural da Humanidade!

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