Editorial

Uma realidade preocupante

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

No mês da Consciência Negra, um estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz números preocupantes. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a PNAD Contínua, aponta que, no terceiro trimestre deste ano, dos 13 milhões de brasileiros desocupados, 8,3 milhões eram pretos ou pardos, ou seja 63,7%.

Assim, a taxa de desocupação dessa parcela da população ficou em 14,6%, percentual superior ao apresentado entre os trabalhadores brancos (9,9%). E das 26,8 milhões de pessoas subutilizadas no Brasil, 17,6 milhões (65,8%) eram do segmento.

Além disso, o rendimento dos trabalhadores pretos e pardos também era menor: R$1.531, enquanto o dos brancos era de R$2.757. E o rendimento real dos indivíduos pardos no terceiro trimestre, de R$ 1.492 mensais, caiu 0,3% em relação ao período imediatamente anterior. Já o dos brancos subiu 0,5% na mesma base de comparação.

Os dados mostram o enraizamento do preconceito racial, que se reflete nos setores do trabalho e da economia. Esse é um processo que perpassa a história brasileira, incluindo o modo como o país foi colonizado e o curso desse desenvolvimento. O problema é que o brasileiro parece conviver bem com a questão, só fazendo levantes contra a situação em datas específicas ou quando essa realidade triste se apresenta em forma de percentuais vergonhosos. Não deveria ser assim.

O levantamento do IBGE aponta também que somente 33% dos empregadores são pretos ou pardos. E a pesquisa segue mostrando uma realidade nem sempre tão transparente e que fica escondida, longe dos olhos. Dos 23,2 milhões de empregados pretos ou pardos do setor privado, apenas 16,6 milhões tinham carteira de trabalho assinada.

Outro dado relevante é que a participação dos trabalhadores de cor preta e parda era superior à dos brancos na agropecuária, na construção, em alojamento e alimentação e, principalmente, nos serviços domésticos. Já entre os trabalhadores por conta própria, essa população representava 55,1% do total. Mais de um milhão de trabalhadores pretos ou pardos atuavam como ambulante, totalizando 66,7% dessa ocupação. No terceiro trimestre de 2017, 25,2% dos trabalhadores pretos ou pardos atuavam como ambulantes, em 2014 esse percentual era de 19,4%.

Vale destacar que o emprego doméstico no Brasil ainda tem vestígios das heranças escravocratas e os dados da PNAD Contínua apontam que os pretos e pardos representavam 66% dos trabalhadores do setor no Brasil. O estudo também mostra que 66,7% dos 1,832 milhão de brasileiros que trabalham como ambulantes são pretos ou pardos.

Não há que se negar os avanços obtidos, mas não é mais possível tolerar que a cor da pele seja pré-requisito para que uma pessoa ocupe esta ou aquela vaga de trabalho. Todos somos iguais, e assim deve ser também na garantia ao emprego digno. Além disso, a miscigenação que prevalece no Brasil confirma que não somos um país de brancos puros, mas, sim, resultado de uma mistura que só deve nos encher de orgulho.

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