Tensão

Líbano acirra hostilidades entre Arábia Saudita e Irã

A grave crise política libanesa ameaça se tornar mais um campo de batalha entre Riad e Teerã pela hegemonia no Golfo; conflito pode atrair os Estados Unidos e Israel para uma disputa mais profunda em todo o Oriente Médio

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34
O líder do Hisbolá, Hassan Nasrallah, acusa a Arábia Saudita de interferir no Líbano
O líder do Hisbolá, Hassan Nasrallah, acusa a Arábia Saudita de interferir no Líbano (O líder do Hisbolá, Hassan Nasrallah, acusa a Arábia Saudita de interferir no Líbano)

LÍBANO - A renúncia de Saad Hariri como primeiro-ministro do Líbano chacoalhou a política do país e incitou uma guerra retórica entre a Arábia Saudita e o Irã, tradicionais rivais no Oriente Médio.

Em Riad, figuras importantes do governo acusaram o Hisbolá, grupo xiita apoiado pelo Irã, de desestabilizar o Líbano. O ministro dos Negócios do Golfo, Thamer al-Sabhan, disse que o Hisbolá se envolveu em atos de "agressão" que equivalem a uma "declaração de guerra contra a Arábia Saudita".

O Hisbolá também acusou os rivais do grupo em Riad de se intrometerem nos assuntos internos do Líbano, alegando que "a renúncia foi uma decisão saudita, imposta ao primeiro-ministro Hariri".

A contenda entre a Arábia Saudita, governada por sunitas, e o Hisbolá pode marcar a propagação de uma disputa entre o governo saudita e o Irã, país dominado por xiitas. O embate já se alastra por outros países do Oriente Médio – incluindo o Iêmen e a Síria.

Política assertiva

Mas a Arábia Saudita tem tido um sucesso limitado com sua intervenção militar de três anos no Iêmen, para repelir rebeldes houthis apoiados pelo Irã. E as forças antigovernamentais que os sauditas apoiam na Síria vêm sendo repetidamente derrotadas, com o regime de Bashar al-Assad ganhando terreno, com a ajuda da Rússia e do Irã.

Yezid Sayigh, especialista do think tank Carnegie Middle East Center, com sede em Beirute, diz que na Síria, qualquer tentativa de envolvimento na política do Líbano está fadada ao fracasso.

Sayigh acredita que a Arábia Saudita pode "acabar desencadeando uma crise que poderia produzir resultados opostos aos desejados no Líbano", em grande parte porque o Irã reagiria, caso seus interesses sejam ameaçados no país.

"Os sauditas sempre tiveram uma abordagem discreta para política externa, buscando alianças, com características de uma soft power", analisa Sayigh.

"Agora, nos últimos anos, eles foram mudando para uma política externa cada vez mais assertiva. O problema nos últimos dois anos é que isso vem sendo conduzido por alguém com muito pouca experiência e que é ousado – o que nem sempre é uma coisa ruim –, mas a ousadia já causou uma guerra devastadora no Iêmen. As consequências para a Arábia Saudita serão de longo prazo", alerta.

Semanas decisivas

Se a crise política do Líbano se tornar violenta, o conflito resultante pode atrair os Estados Unidos e Israel para uma disputa mais profunda em todo o Oriente Médio. Autoridades israelenses, sauditas e americanas consideram o Irã como o principal "patrocinador estatal do terrorismo".

A Arábia Saudita classifica o Irã como a principal fonte de conflito no Oriente Médio, especialmente porque o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem se posicionado cada vez mais contra Teerã.

Para Israel, o Hisbolá representa uma ameaça à segurança em sua fronteira. Os Estados Unidos o classificam como um "grupo terrorista". Sayigh acredita que as próximas semanas e meses serão decisivos, especialmente se os EUA recomendarem novas sanções contra o Irã.

História problemática

Politicamente, o Líbano está dividido em linhas sectárias, com poder distribuído entre os principais grupos religiosos do país.

Sob um acordo de 1943, após a independência do Líbano da França, a presidência deveria ser ocupada por um cristão maronita, o primeiro-ministro deveria ser muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, um muçulmano xiita. Desde um acordo para acabar com o conflito civil de 15 anos, em 1990, o sistema confessional continuou sendo empregado com relativo sucesso.

O pai do ex-primeiro-ministro, Rafik Hariri, foi assassinado em 2005. Após uma longa investigação, um tribunal apoiado pela ONU emitiu mandados de prisão para quatro membros do Hisbolá, acusando os extremistas pelo assassinato. O grupo nega qualquer envolvimento.

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