Editorial

O Enem e a “deficiência invisível”

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

O tema da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), “Desafios para Formação Educacional de Surdos no Brasil, aplicado no último domingo, 5, para estudantes que participam do certame em todo o país, serviu para chamar a atenção para a chamada “deficiência invisível” que marginaliza cerca de milhões de pessoas só no país.

Segundo o Censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 9,7 milhões de pessoas têm deficiência auditiva. Desses, 2.147.366 milhões apresentam deficiência severa, situação em que há uma perda entre 70 e 90 decibéis (dB). Cerca de um milhão são jovens até 19 anos.

De acordo com especialistas no assunto, a exclusão dessa parcela significativa da sociedade poderia ser amenizada com medidas simples, como legenda nos filmes nacionais, o uso de intérpretes de Libras nos bancos, no comércio, nas sessões de teatros ou ainda a exigência do cumprimento de garantias constitucionais, como direito ao emprego, por exemplo.

O tema do Enem deste ano seguiu a tendência de abordar assuntos sociais. No passado, já foram assunto da redação do Enem a intolerância religiosa, a violência contra a mulher, a publicidade infantil, a lei seca e o movimento imigratório.

O tema da redação em 2017 alertou sobre os desafios na educação de surdos do Brasil, conforme avaliação da diretora de políticas educacionais da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), Patrícia Rezende. Ela avalia que o assunto é polêmico porque aponta para uma política que não condiz com a qualidade de ensino para surdos. E mais: é necessária uma política linguística urgente no país.

“Surpreendente”. Foi como a assistente social surda Mariana Hora, definiu o tema da Enem, que considerou muito oportuno. Ela observa que os surdos estão esquecidos e colocar a educação dos deficientes auditivos como tema da redação faz com que a sociedade seja cutucada a refletir sobre o assunto.

Já o fotógrafo Cristiano Carvalho, que dá aulas de fotografia para surdos no projeto Surdofoto, considera que o melhor caminho para a maioria dos surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no Brasil é a educação bilíngue. Ele considera a iniciativa um direito dos deficientes, uma vez que são brasileiros e a Libras é uma língua oficial reconhecida por lei.

Pela primeira vez, o Enem deste ano foi disponibilizado com o recurso da videoprova traduzida em Libras. O Inep, instituição responsável pelo Enem, diz que a maioria dos participantes com direito a recurso declarou não precisar de nenhum apoio para a realização das provas.

O Inep também ofereceu outros recursos de acessibilidade, como prova em braille, tradutor-intérprete de Libras, prova superampliada, guia-intérprete para pessoa com surdocegueira, leitura labial e mobiliário acessível.

No último dia 26 de setembro foi comemorado o Dia Nacional do Surdo. A data foi criada em 2008 e alerta para as barreiras de acessibilidade que ainda afligem os portadores de deficiência auditiva.

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