Cultura e debates sociais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

Em um momento em que se discute com mais ênfase questões como preconceito racial, violência contra a mulher, identidade de gênero, machismo e feminismo, a11ª Feira do Livro de São Luís trará uma importante contribuição para o debate por meio da cultura. O evento que será aberto na próxima sexta-feira e segue até o dia 19 deste mês, no Centro Histórico, fará uma homenagem à escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, no ano que é lembrado o centenário de sua morte.
A programação será voltada para temas como identidade racial e de gênero e contará com importantes participações femininas entre os palestrantes, a exemplo da poeta Elisa Lucinda, da escritora Ana Maria Gonçalves e da rapper Negra Li.
Homenageada nesta edição, a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis é considerada a primeira autora negra do Brasil. Em 1859, lançou no anonimato a publicação Úrsula, romance abolicionista que abordava questões do racismo no país sob o ponto de vista dos negros, trazendo forte crítica ao patriarcado na época. Em sua obra, a abordagem humaniza o povo negro através da valorização de sua memória e suas heranças culturais, uma abordagem pouco comum nas obras abolicionistas da época.
A escritora Maria Firmina dos Reis também deu uma importante contribuição para a educação no estado. Em 1846, aos 22 anos de idade, ela foi aprovada em concurso público para o magistério, sendo a primeira mulher concursada como professora no Maranhão. Ao aposentar-se, em 1880, fundou uma escola gratuita para estudantes negros e brancos, o que era considerado inovador para a época e uma forma de combater o racismo por meio da educação.A escritora faleceu em 1917, aos 92 anos, no munícipio maranhense de Guimarães, onde viveu grande parte da sua vida, apesar de ter nascido em São Luís.
Mesmo com sua importância inquestionável para a literatura brasileira, por muito tempo sua obra ficou quase no anonimato, sendo a escritora ainda pouco conhecida em sua terra natal. “Úrsula”, a sua obra mais importante ganhou poucas reedições, a mais recente foi lançada este ano pelo pesquisador de literatura afro-brasileira Eduardo de Assis Duarte.
Homenagear uma escritora como Maria Firmina dos Reis em um evento literário é essencial não somente para lançar luzes para a obra da escritora maranhense, mas também mostrar a importância da arte para debater temas na sociedade atual.
Em tempos em que manifestações de intolerância tornam-se recorrentes e até mesmo tentativas de censura a produções artísticas como exposição e performances, a realização de um evento literário gratuito que aborde o protagonismo da mulher negra é uma prova de que a arte não pode ser considerada desvinculada das questões sociais.
O tema escolhido para esta edição da Feira do Livro de São Luís mostra a necessidade de se estabelecer diálogos em uma sociedade em transformação e que arte pode contribuir para a formação de gerações menos intolerantes e mais combativas em relação a preconceitos como os de gênero e racial.

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