"Comemoração"

Comandado por comunista, Maranhão oferece apoio tímido a evento sobre a Revolução Russa

Regime comunista russo completou 100 anos de sua implantação; Secretaria de Direitos Humanos diz que apoio para impressão de fotos não tem relação com filiação partidária do governador Flávio Dino

OEstadoMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
(Flávio Dino)

Comandado por um governador filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Maranhão “comemorou” apenas timidamente a passagem dos 100 anos da Revolução Russa – considerada um marco do comunismo mundial.

De forma oficial, o governo Flávio Dino não participou da organização de nenhum evento em alusão à data. Mas ofereceu, por meio da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (Sedihpop) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), apoio ao I Simpósio de Política e Lutas Sociais, que promoveu debates e exposições sobre o tema em São Luís.

Um apoio envergonhado. Com o tema “Centenário da Revolução Russa: Internacionalismo e Utopias”, o evento recebeu da Sedihpop “apoio institucional na impressão de fotos” para compor uma mostra fotográfica e da Fapema apoio “científico, tecnológico e de inovação”.

Questionado por O Estado sobre a possível contradição no fato de a Secretaria de Direitos Humanos apoiar um evento em alusão a um movimento marcado pela violência e agressão a esses direitos - sobretudo de opositores ao regime -, o governo mostrou-se constrangido.

“De modo algum o apoio da Sedihpop manifestou-se considerando aspectos partidários, especialmente, por se tratar de análises de fatos históricos por uma instituição universitária e, ainda, que não admite censura prévia e cerceamento do debate acadêmico e democrático”, diz nota oficial da pasta.

Ainda segundo a Sedihpop, as violações aos direitos humanos durante a Revolução Russa, serviram de alicerce “para a construção das bases da defesa da igualdade entre os homens, inserida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, anos depois”.

Já a Fapema, para tentar explicar o suporte ao simpósio, estendeu-se em tecnicismos acadêmicos, para, então, concluir: “Não cabe à Fapema determinar as temáticas de interesse das universidades para submissão a nenhum edital. A Revolução Russa é um tema de estudo de várias áreas do conhecimento, de forma que estudar seu centenário não é estranho à comunidade científica mundial. Além disso, as universidades gozam de autonomia técnica e científica definida na Constituição Federal, portanto, seus pesquisadores, podem escolher seus objetos de estudo”.

Russa nascida no ano da Revolução de Outubro recorda 100 anos de história

Em um século de vida, ela viveu três guerras. Nasceu no final da 1ª Guerra. Sobreviveu depois à guerra entre o Exército Vermelho e o Exército Branco, formado por ex-czaristas e opositores, e, mais tarde, à 2ª Guerra, que tirou dela dois de seus filhos.

Ela também foi testemunha da coletivização das terras agrícolas, nos anos 20, dos expurgos nos anos 30, assim como da Perestroika, que antecedeu o fim da URSS em 1991.

Sua maior lembrança, contudo, é a de "ter trabalhado toda a sua vida". "Trabalhei desde muito jovem", diz ela, que já foi camponesa, enfermeira e operária. "Nossa família conta com cinco filhos, éramos camponeses normais", recorda.

"Desapropriaram nossos dois cavalos e uma vaca para os kolkhoses (fazendas coletivas). O que poderíamos fazer? Nos integramos a um kolkhoz", comentou.

Durante a 2ª Guerra, na qual morreram mais de 20 milhões de soviéticos, Maria Ryabtseva trabalhou como enfermeira no hospital de Rostov-Iaroslavki, 200 km ao norte de Moscou.

"Era duro, não havia muita coisa para comer (...) Era necessário trabalhar muito, havia tantos soldados feridos, as camas estavam cheias", lamenta. "Mas como ficamos felizes no dia da vitória! Como todo mundo, eu dançava e cantava", exclama, com os olhos brilhando de alegria pela recordação.

'É preciso viver'

Da morte de Stalin, em março de 1953, Maria lembra pouco. "Não foi uma catástrofe", diz. "Mas todo mundo ficou triste", acrescenta.

Algo que marcou a memória dessa senhora de humor intacto foi a mudança, em 1961, para um apartamento de dois cômodos no leste de Leningrado (São Petersburgo, ex-capital imperial da Rússia).

"Isso era a verdadeira felicidade: água quente, calefação central. Com que outra coisa se poderia sonhar?", pergunta.

Para ela, que na década que sucedeu a 2ª Guerra teve que viver com sua família em um barraco precário que se tornava glacial no inverno, a nova moradia era o verdadeiro paraíso.

Os tempos também foram difíceis na Perestroika, precedente à queda da URSS. "Não mudou a minha vida, mas se tornou mais dura do que antes". Já a chegada de Vladimir Putin ao poder no final de 1999 melhorou consideravelmente a vida cotidiana desta senhora, viúva há mais de 40 anos.

Maria Ryabtseva divide seu apartamento com a família de um de seus netos. Ela, que diz não interessar por política, garante que não tem a intenção de festejar o centenário da Revolução de Outubro, que acontece em 25 de outubro (pelo calendário juliano) e 7 de novembro (calendário gregoriano, o atual utilizado pelo país).

"Acho que eu teria tido a mesma vida, com ou sem revolução. De qualquer maneira, nada se pode mudar". "Se fui feliz? Não sei. Eu vivia. Quando se nasce, é preciso viver. Não é assim? Sobretudo porque a vida passa muito rápido", conclui, sorrindo.

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