Artigo

Finitude

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35

A simples ideia de que deixarei de existir, assim como as perdas de pessoas que amo, sempre mexeu comigo, desde criança. Agora, que estou mais velho e tenho presenciado a partida de muitos queridos e queridas, aumenta ainda mais a minha angústia. Por mais que saibamos que a vida é finita, nunca estamos preparados para essas perdas.

Viver é tão somente adiar a morte, e administrar perdas; o que difere uns dos outros é a capacidade de saber gerenciar sua vida, para isso existe o livre arbítrio, que demanda escolhas, que geram consequências. Creditar o rumo da vida ao destino, sina, carma, aos astros, foi a maneira que o homem achou para seguir em frente, isso, desde os tempos das cavernas.

Quando criança, ainda na mais terna idade, tenho lembranças de velórios e funerais, e de segredos, já que esses assuntos não eram comentados abertamente na presenças dos pequenos. Já adolescente e estudante do antigo ginásio do Colégio Batista, fui ao enterro de uma colega de turma que tirou a vida, jogando-se de um prédio de nossa cidade, que viria a ser marcado por outros suicídios. Vim a saber que no local que foi erguido o prédio, em uma das principais artérias do cento, existiu um cemitério, o quê só aguçou nossas crendices e superstições. Como a vida é ilógica, pois não sabemos de onde viemos e muito menos para onde iremos, es se intervalo é preenchido pela fé, religiosidade, por crendice; e assim , tentamos dar alguma racionalidade aos mistérios da vida.

Em tempos de tanta intolerância e não aceitação da opção religiosa do outro, sempre achamos que estamos salvos e o outro não.

Quando vou a cemitérios, despedir-me de amigos e familiares, sempre reflito, ao observar as lápides, em que estão escritos os nomes do que já partiram; a data de nascimento, e data de falecimento, e fico a pensar, no intervalo, e a me perguntar, será que essa pessoa foi feliz? Realizou seu sonhos? Viveu dignamente? Viveu ou somente existiu? Nessas hora, penso em minha existência, nos anos decorridos, no tempo que me falta, nas brigas diárias por ter, por amealhar coisas, e me pergunto, o quê realmente vale a pena?

Acredito que os cemitérios sejam os lugares de maior interrupção de sonhos, de planos de futuro, de amores desfeitos, de remorsos dos que não tiveram a oportunidade do perdão, da despedida que não houve. A nossa hora de partir é incerta, por isso um mistério. Tenho perguntado a diferentes pessoas, alguém morre feliz?

Li que a morte é libertadora, pois a ideia de finitude faz com que estejamos mais atentos a querer viver melhor, pois tudo acaba. Mesmo assim, teimamos em sermos arrogantes, egoístas, gananciosos, falsos e dissimulados, esquecendo de olhar o outro, o que gera muitas distorções e injustiças.

Se efetivamente pensarmos que somos tão somente passageiros nesta nave chamada Terra, que nascemos sem trazer nada, e ao morrermos não levaremos lada, e no meio brigamos por algo que não trouxemos e não levaremos, tudo fica mais leve.

E, neste dia dedicado aos que já partiram, faço minhas as palavras que li no para-choque de caminhão pelas muitas estradas da vida que já percorri. “Não esquenta que desta vida ninguém sai vivo mesmo".

A vida é curta, não a torne pequena.

Dedico essa crônica à minha querida e inesquecível mãe, que morreu aos 43 anos, no dia 02/11/1976, deixando uma saudade é um vazio sem tamanho.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo e palestrante

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