Artigo

Esperança que não morre

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35

O homem, ao se organizar socialmente, impôs a si mesmo alguns limites de comportamento e propósitos de virtudes. Alguns teóricos e cientistas sociais, a exemplo de Rousseau, chamam a essa organização, contrato social. O conjunto de regras, marcos, códigos e tipos, positivam a convivência humana convergindo-a para uma relação fraterna e pacífica. Esse jeito de viver e conviver socialmente pode apresentar diferenças, a depender do tempo e do espaço, mas no geral prevalece em todas as civilizações. É um esforço, uma verdadeira empreitada, em vista da construção da identidade, pessoal e social.

Há, no entanto, outro limite. Um verdadeiro mistério que segue a história humana, desafiando-a através dos séculos: a morte. Este, o homem não impõe a si. Mas se obriga a obedecê-lo. Não tendo como explicá-lo, submete-se a entendê-lo como um misterioso inimigo. Um ponto final, ou bom começo.

A luta pela imortalidade protagonizou roteiros interessantíssimos, desde as primeiras civilizações mesopotâmicas, que evidenciavam suas castas sociais pela pompa de suas sepulturas até os antigos Faraós com seus sarcófagos e mausoléus que testemunham às gerações o sonho de não morrer. A cultura ocidental é herdeira da crença na imortalidade, da continuidade da vida, que tem em si mesma, a palavra final.

Essa vida que às vezes escapa à norma, escorrega da previsão e some no vagão do tempo. É aqui, exatamente aqui, que surge o conhecido adágio popular: “a esperança é última que morre”. Vivemos de esperança! Daquela esperança que ressurge a cada dia, que acorda com a gente! Esperança, cantada por João Bosco e Aldir Blanc, que ‘faz chorar Marias e Clarisses”.

Na tradição cristã, a esperança ocupa o centro das virtudes, as chamadas teologias. Sucede a fé e precede à caridade! A Sagrada Escritura ao conceituar a fé, a define como: “fundamento da esperança e certeza do que não se vê” (cf. Hb 11,1).

Vivemos tempos difíceis. Há uma descrença generalizada, permeando as relações, as instituições e até mesmo as mais profundas convicções humanas da ética e do bem viver. Um caminho sombrio que por vezes faz titubear a esperança que ainda temos, fazendo-a passar na “corda bamba”. Mas, qual seria a razão de tanto desânimo? Onde estaria o motivo para tanto pessimismo sobre o presente e o futuro? A quem interessa a perpetuação da divisão e da intolerância?

Não estacionemos no cemitério da história, nem deixemo-nos tomar pelo luto que nos tira a certeza do novo, do bem e do belo. Somos todos tripulantes numa travessia arriscada e igualmente sedutora. A ânsia de chegar melhor e mais rápido, pode nos ter feito ignorar a beleza do caminho. É preciso fazer a releitura dos sinais, fitar os olhos no farol do tempo, sem nos permitir que nos roubem a esperança. Não a roubemos de nós mesmos!

Ainda há razões para sorrir. Existem sinais de vida germinando por todo canto, rompendo a esterilidade da indiferença e da intolerância. Uma centena de milhares de gente que vive e que sonha atravessando a corda bamba da história, “que sente aquela dor pungente, que não há de ser inutilmente (...) e em cada passo dessa linha (...) a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista, tem que continuar”.

Quer na vida ou diante da morte, equilibremo-nos na esperança. Ela não morre!

Kécio Rabelo

Advogado

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