Artigo

Reflexões com Dodô

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35

Dodô passa os feriados em São Luís. Gosto de conversar com a mana Dodô. Colegas de brincadeira do Largo do Santiago, relembramos: A gente de caubói, a correr, montadas em cabos de vassoura, Tirávamos cabo até de vassoura nova, E a turma, comendo as goiabas de D.Edite, colhidas do pé, na casa de Tarzan, o caramanchão da vizinha, Não ficava uma flor inteira. Empinar papagaio nos meses de ventania, O cerol pitisca, o vidro de garrafa azul, moído no trilho do bonde, era o melhor. As porfias de bicicleta? Não tinha nada igual... Era cair e subir de novo na Monarck, Ir pra casa se queixar, jamais, era a conta de ser recolhida antes da hora de terminar a brincadeira.

Ei, estamos falando de brincadeiras de menino. E as bonecas? Meio chatas, né, nem se mexiam. Um chá de vez em quando, aceita uma xícara comadre, Ou um batizado, tinha que “convencer” um menino a ser o padre. Acabava o biscoito, perdia a graça, era sair correndo de novo. Dodô, digo eu, escapamos de boa, ???, Hoje seríamos enquadradas como transgêneros, meninos em corpo de meninas! Credo, mana, eu adoro ser mulher, Eu também.

Mãe dizia: essa menina parece menino, rebenta os vestidos, não tem modos, Ela tão feminina, ai meu Deus, os vestidos de organdi, pinicando o pescoço, A minha, dizia o mesmo, as mães não eram sutis, nem desconfiavam do politicamente incorreto, Mas tudo da boca pra fora.

Tenho pena das meninas saudáveis e hiperativas, cheias de energia, convencidas de estarem no corpo errado, que perderão companheiros que as completariam, deixarão de ter filhos por terem se mutilado ou engravidarão, barbadas como uma mulher de circo! Meninas interrompidas, a quem o privilégio de vivenciar o mundo diferenciado e maravilhoso das mulheres será negado.

Pra que a doutrinação, o convencimento de criaturas tão vulneráveis, em tenra idade, de que pertencem ou não a determinado sexo? As diferenças afloram naturalmente no tempo apropriado. Quem está no “corpo errado” vai descobrir por si só. E tentar sair dele.

Pois é, Dodô, temos amigos de diversas preferências sexuais. Não digo orientação, porque isso não se orienta, nem se induz, é natural, O bom é aceitar, acolher, cada um na sua. Preconceito é ignorância.

Dodô diz, sabe, mana, quando me perguntam se sou hétero, fico sem graça e digo, é... pois é, acho que não tive oportunidade... Ficou difícil ser hétero. Logo eu que pensava ser tão avançada... Depois de oito casamentos.

E aqueles meninos, induzidos a tocar em um homem nu, deitado no chão? O outro, nu, lá, numa bolha de vidro. O novo modismo é o exibicionismo? É, deve ser, Mas não havia aquelas campanhas pra criança ficar alerta com adultos? Denunciar, não tocar nem se deixar tocar?. Vai ver assunto de pedofilia já era. Cansou. Que diria Ferreira Gullar sobre adultos mostrando o sexo para crianças? Será Arte? Vixe, mana, aí danou-se, arte não se discute, é como sentença de juiz, Ora, menino de hoje vê nu a todo instante, tem irmãos, mãe, pai, primos, TV, nem se espanta, não precisa ir pra museu andar de mãos dadas... Psiu, não verbalize essa ideias, corre-se o risco de ser rotulada de atrasada, direitista, eleitora de Bolsonaro e da bancada da bala, Mas Ferreira Gullar meteu o pau em umas instalações lá da Bienal... Sei, havia uma com urubus vivos, acontece que Ferreira Gullar era imexível, já nós... Me dá mais um bolinho de tapioca aí, dane-se a dieta.

Ceres Costa Fernandes

Mestra em Literatura e membro da Academia Maranhense de Letras

E-mail: ceresfernandes@superig.com.br

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