Polêmica

Tucano se envolve em polêmica sobre “ração humana” para pobres

João Dória criou composto alimentar para programa municipal em São Paulo, mas foi criticado por especialistas de todo o país, ressaltando imagem preconceituosa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
João Doria quer servir ração humana a pobres de São Paulo
João Doria quer servir ração humana a pobres de São Paulo (João Doria)

SÃO PAULO - Uma nova polêmica veio à tona na quarta-feira, 18, envolvendo o composto alimentar apresentado pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), como carro-chefe de um programa municipal.

O produto, que ficou conhecido como "ração humana", foi alvo de críticas de diversos especialistas e nutricionistas. A discussão fez reaparecer nas redes sociais um vídeo de Doria gravado em 2007, época em que ele apresentava o programa de TV O aprendiz.

No vídeo, Doria afirma que "gente humilde" não possui "hábito alimentar" e "tem que dizer graças a Deus" caso possa comer.

Presente na entrevista coletiva, o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, buscou amenizar as palavras do prefeito: "Pobre tem fome. Hábito alimentar é para quem tem disponibilidade de alimento e quem pode se dar ao luxo de ter uma alimentação regular, refeições regulares, alimentos selecionados. O pobre não tem isso (...). Quem se arrasta no chão por fome, eu vou deixar de atender a fome dele porque ele não está podendo sentar numa mesa bem posta? A necessidade é socorrer primeiramente a fome do pobre".

Doria disse não se lembrar do vídeo, mas corroborou a afirmação de Scherer e voltou a dizer: "Pobre não tem hábito alimentar, pobre tem fome".

O suplemento alimentar deverá ser incluído na merenda das crianças em escolas e creches públicas e nas refeições dos centros de acolhida de moradores em situação de rua.

O objetivo, segundo explicou, é evitar o desperdício de alimentos que ainda são próprios para o consumo e complementar — e não substituir — os alimentos in natura.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas nesta segunda-feira (16) à proposta do prefeito de São Paulo, João Doria, de alimentar a população de baixa renda com uma "ração" feita a partir de sobras de alimentos descartados pela indústria ou comércio.

"Estamos chegando em um momento em que precisamos recontar a História desse país e mostrar a verdade do que está acontecendo. O prefeito de SP resolveu na semana passada que o povo pobre tem que comer ração. Não respeita as pessoas humildes desse país", escreveu Lula, em sua conta no Twitter.

O petista disse, também, que, como presidente da República, sempre tratou as prefeituras do país com respeito. "Nunca antes na História um presidente tratou as prefeituras com o respeito que tratei de 2003 a 2010. Pode perguntar pra qualquer prefeito. Agora o PT não está mais no governo e o que aconteceu?", observou.

Lula lembrou da campanha da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e disse que não é o presidente da entidade, Paulo Skaf, quem está arcando com as consequências da crise política e econômica do pais.

Mais

A imagem de gestor e não-político propagada pelo prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) sofreu grande desgaste, como demonstra a última pesquisa para as eleições presidenciais de 2018, divulgada pelo Datafolha, no dia 7 de outubro. Além do revés sofrido contra seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o levantamento apontou uma queda em sua aprovação (de 44% em fevereiro deste ano para 32%) e um aumento no número de eleitores que rejeitam sua gestão (de 13% para 26%). Especialistas apontam como causas as falhas de seu governo e o desencanto da população da capital paulista.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.