Lava Jato

Doleiro revela ter dado R$ 1 milhão para Cunha comprar deputados no impeachment de Dilma

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, Lúcio Funaro revelou que, depois de uma semana da aprovação do impeachment começou a enviar dinheiro ao ex-presidente da Câmara

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35

BRASÍLIA - Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República (PGR), o operador financeiro Lúcio Funaro afirma que repassou R$ 1 milhão ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) para que o então presidente da Câmara, atualmente preso em Curitiba, comprasse votos de outros parlamentares para aprovar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Ele me pergunta se eu tinha disponibilidade de dinheiro, que ele pudesse ter algum recurso disponível pra comprar algum voto ali favorável ao impeachment da Dilma. E eu falei que ele podia contar com até R$ 1 milhão e que eu liquidaria isso para ele em duas semanas no máximo", disse Funaro, acrescentando que recebeu mensagem de Cunha dias antes da votação do impeachment, ocorrida em 17 de abril de 2016.

Funaro, que prestou o depoimento em agosto deste ano e teve a delação homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), foi questionado por uma procuradora se Eduardo Cunha "falou expressamente em comprar votos". No documento, ao qual o jornal Folha de S.Paulo teve acesso, o doleiro reafirmou: "Comprar votos". Em seguida, a procuradora pergunta se ele "consolidou esse valor". "Consolidei o valor", respondeu o doleiro.

"Depois de uma semana de aprovado o impeachment, comecei a enviar dinheiro para ele (Cunha) ir pagando os compromissos que ele tinha assumido", disse Funaro, acrescentando que o dinheiro foi entregue em Brasília, Rio e São Paulo e que o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) foi um dos parlamentares "comprados", mas acabou faltando à sessão do impeachment.

"Tem um caso até hilário, mas um dos deputados que ele (Cunha) comprou e pagou antecipado, pelo que ele me disse, foi o Aníbal Gomes. Ele disse que tinha pago para o Anibal Gomes R$ 200 mil para o Anibal Gomes votar favorável ao impeachment. O que aconteceu? O Anibal Gomes não veio no dia da votação, faltou. Aí ele (Cunha) ficou louco (...). O cara deu a volta nele", disse o delator.

Tanto Cunha quanto o deputado Aníbal Gomes classificaram as declarações de Lúcio Funaro como mentirosas.

Mais

Embora a delação premiada do operador Lúcio Bolonha Funaro tenha voltado ao Ministério Público Federal (MPF) para que sejam feitas adequações, uma novidade em relação a ela já se sabe: ele confirmou que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, da JBS, para que permanecesse em silêncio e não revelasse o que sabia sobre corrupção e movimentação ilegal de recursos por parte de influentes políticos do país. Essa informação, apostam aliados e opositores do governo federal, deverá constar da denúncia que o procurador-geral da República Rodrigo Janot entregará, nos próximos dias, em face do presidente Michel Temer a partir das delações de Joesley Batista e executivos da JBS. O presidente da República é investigado por obstrução de Justiça e envolvimento em organização criminosa.

Defesa de Temer critica vazamento de delação

BRASÍLIA - A defesa do presidente Michel Temer criticou ainda no sábado, 14, o vazamento dos vídeos com depoimentos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR). Em nota, o advogado Eduardo Carnelós diz que o vazamento é “criminoso” e foi produzido por quem pretende “insistir na criação de grave crise política no país”. O advogado de Temer também afirma que as declarações de Funaro são “vazias” e “sem fundamento”.

“É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no país, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa”, diz a nota.

O Palácio do Planalto informou que o presidente Temer não fazia parte de nenhuma bancada, referindo-se ao grupo de Eduardo Cunha, e diz que “toda e qualquer afirmação nesse sentido é falsa”.

Para a defesa de Temer, o vazamento tem o propósito de constranger parlamentares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara que vão votar na próxima semana o parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) pela rejeição do pedido de autorização para dar sequência à denúncia apresentada pela PGR contra o presidente Temer.

Segundo Carnelós, Funaro faz acusações vazias e sem provas. “As afirmações do desqualificado delator não passam de acusações vazias, sem fundamento sem nenhum elemento de prova ou indiciário, e baseadas no que ele diz ter ouvido do ex-deputado Eduardo Cunha, o qual já o desmentiu e o fez de forma inequívoca, assegurando nunca ter feito tais afirmações.”

Em nota sobre os vídeos da delação de Funaro, o advogado de José Yunes, José Luis Oliveira Lima, diz que o doleiro já faltou com a verdade em inúmeras oportunidades e não tem credibilidade. “José Yunes, ao contrário de Funaro, goza de credibilidade. Tão logo esses fatos ficaram públicos procurou a PGR e prestou todos os esclarecimentos devidos. Segundo Lima, Yunes irá processar Funaro por denúncia caluniosa.

A defesa de Eduardo Cunha ainda não se manifestou.

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