Segurança

Aplicativo recebe denúncias de violência contra praticantes de religiões afro

Serviço é gratuito e está disponível desde sexta-feira, 13, para download em celulares; A ferramenta recebe denúncias de intolerância religiosa e tem até um botão de SOS para as vítimas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
Representantes de diversas religiões participam de caminhada na Praia de Copacabana
Representantes de diversas religiões participam de caminhada na Praia de Copacabana (Representantes de diversas religiões participam de caminhada na Praia de Copacabana em defesa da liberdade religiosa)

RIO - Cansado de ouvir comentários ofensivos e relatos de violência contra praticantes de religiões afro, Léo Akin Olakunde, um candomblecista do Rio de Janeiro se juntou a um amigo e à namorada para criar o aplicativo Oro Orum- Axé eu respeito. A ferramenta recebe denúncias de intolerância religiosa e tem até um botão de SOS para as vítimas. O serviço é gratuito e está disponível desde sexta-feira, 13, para download em celulares.

O estado do Rio de Janeiro vem registrando um número recorde de ataques a casas de umbanda e candomblé. Somente nos últimos dois meses, 32 casos foram registrados pelo Disque Combate ao Preconceito, um serviço do governo estadual, sendo oito notificados em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense – município com a maior concentração de terreiros. Em dois desses casos, criminosos, supostamente cristãos neopetencostais, aparecem em vídeos ameaçando sacerdotes de religiões afro-brasileiras e obrigando-os a destruir peças religiosas.

Aplicativo

Diante dos ataques, que acontecem em sua maioria na periferia, Léo Akin Olakunde, decidiu criar o aplicativo para facilitar as denúncias e organizar um banco de dados. No Oro Orum- Axé eu respeito, o usuário encontra informações sobre direitos e leis que garantem a liberdade religiosa no país, o combate à discriminação, além do formulário de denúncia. O denunciante também recebe orientação para procurar a Polícia Civil e a Defensoria Pública do Estado.

A ideia, conta Léo Akin, partiu da utilização de outro aplicativo, o Nós por Nós, criado pelo Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, com objetivo de combater a violência policial. Em ambos, há orientações para fazer a denúncia com vídeos, fotos e texto, além de coletar todas as provas possíveis, registrar testemunhas e o máximo de dados sobre o agressor. “Precisamos de políticas públicas, mas também de segurança para as vítimas denunciarem”, disse.

Léo pretende ampliar a plataforma e gerar mapeamentos das casas de matriz afro se conseguir apoio de parcerios: ele precisa da doação de dois computadores. “O aplicativo foi feito com equipamento amador, mas de forma profissional. Com um notebook velho e a internet de uma conta emprestada de minha cunhada”, diz. A ferramenta foi programada por Alexsandro da Silva, amigo de Léo, ateu e morador de Pernambuco. “Precisamos de uma internet de melhor qualidade e monitores para trabalhar todas as funcionalidades. Estamos atrás de financiamento”, disse ele, que também contou com a ajuda da namorada, a escritora Taís Espírito Santo, para criar o aplicativo.

Religiosos

Interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), o professor Ivanir dos Santos acredita que a impunidade faz com que os casos de intolerância sejam cada vez mais violentos. “Qualquer ferramenta como essa é importante no contexto de violência que vivemos”, disse. Porém, ele cobra respostas do Poder Público.

“O que nós queremos é que os dados virem inquéritos na Polícia Civil por discriminação e denúncias no Ministério Público Estadual”, cobrou. Ivanir explicou que muitos atos de violência são classificados nas delegacias como briga de vizinho ou desentendimentos. Com isso, deixa-se de aprofundar o debate sobre as origens do preconceito contra as casas de terreiro.

Dos casos que a CCIR acompanha, ele conta que a maioria acaba virando apenas um registro de ocorrência, “engavetados” pela própria polícia, como aconteceu com as notificações de Nova Iguaçu. Até o momento, dois oitos casos, a Polícia Civil confirma apenas a autuação de um pastor, por publicar vídeos em redes sociais destruindo imagens de orixás.

O professor Ivanir também cobra a atuação dos ministérios públicos Estadual e Federal, que se comprometeram a acompanhar as investigações dos casos. “As ocorrências precisam chegar ao Judiciário, com pessoas julgadas e, eventualmente, condenadas. O aplicativo é muito bom, é um pronto socorro, mas precisamos mais do que estatísticas”.

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