Artigo

Estandarte da liberdade (III)

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35

Encerrei o artigo anterior anunciando o início da trajetória política de Neiva Moreira. Final dos anos 40. O então governador paulista Adhemar de Barros tinha pretensões de sair candidato à presidência da República. Adhemar foi governador de São Paulo nos anos de 1947 1951 e também de 1963 a 1966. Fundou o Partido Social Progressista e, no Maranhão, a representação do partido coube a Clodomir Millet, médico e suplente de deputado federal. Para dar apoio a essa pretensão política, havia de se ter um veículo de imprensa. Nascia então o Jornal do Povo, fundado em 1950, e por iniciativa de Millet, Neiva Moreira foi convidado para dirigi-lo no Maranhão.

No Jornal do Povo, com a reportagem intitulada Geração da Lama, assinada em parceria com o jornalista Reginaldo Telles, o menino de Nova Iorque solidificou a estrada rumo à política. Neiva Moreira era a voz que bradava veementemente contra Vitorino Freire. Na onda de sucesso do jornal, Neiva Moreira candidatou-se a uma cadeira na Assembleia Legislativa. Acompanhou de perto a evolução de Saturnino Belo – principal adversário de Vitorino Freire – e sua trágica morte, em pleno período de apuração dos votos. Mesmo com todas as suspeitas acerca da fraude que marcou a eleição, foi diplomado como novo governador o candidato do PSD, Eugenio Barros, apoiado pelas hostes vitorinistas. Artigo assinado por Neiva Moreira em 2 de julho de 1950 no Jornal do Povo dava conta do clima que dominava o cenário pré-eleição: “O vitorinismo está se liquidando numa orgia de artifícios que até parecem barragens de pólvora seca para tentar encobrir o desastre”.

Com a morte de Saturnino Belo e a vitória - contestada - de Eugenio Barros, houve um clima de revolta na cidade, e Neiva Moreira mais uma vez fortaleceu seu nome como um dos líderes da Greve de 51, uma das mais importantes comoções sociais do século passado, em São Luís. Nessa época, Neiva Moreira foi apelidado de Caramuru, alvo de uma campanha virulenta de ataques por parte de seus adversários, que o culpavam de estar por trás de fogueiras nas palhoças de trabalhadores que residiam no Goiabal e no Lira.

Em 1954, foi eleito deputado federal pelo PSP ao lado de Clodomir Millet, Henrique de La Rocque e Afonso Matos, e na Câmara Federal foi um dos vice-líderes do partido, integrando ainda a Frente Parlamentar Nacionalista. Como parlamentar, foi Secretario Geral da Frente Parlamentar Nacionalista nos idos de 1955 a 1964, devido à enorme capacidade administrativa que possuía. Em 1958, foi eleito para novo mandato, a despeito de todas as tentativas de fraude travadas pelos adversários. Em 1960, reeleito, sonhava em disputar o governo do Estado na eleição que ocorreria em 1965. Ocorre que o golpe militar de 1964 sepultou seu sonho: foi um dos mais perseguidos pelos militares e teve o mandato cassado, com a consequente suspensão por dez anos de seus direitos políticos. Chegou a passar temporadas preso em quarteis do Rio de Janeiro e Brasília, amargando a triste notícia do fechamento de seu querido Jornal do Povo. Foi liberto graças à intervenção do então deputado Henrique de La Rocque, quando então decidiu partir para o exílio. Mas este é o assunto do nosso próximo artigo.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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