Eleições

Alemães vão às urnas domingo; Merkel pode continuar no poder

Segurança, trabalho, impostos e imigração são os temas que mais preocupam os alemães; 60 milhões de eleitores estão convocados para escolher os novos deputados; a atual chanceler Angela Merkel segue como favorita

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
Angela Merkel, do CDU, e o seu principal adversário Martin Schulz, do SPD
Angela Merkel, do CDU, e o seu principal adversário Martin Schulz, do SPD (Angela Merkel, do CDU, e o seu principal adversário Martin Schulz, do SPD)

BERLIM - Mais de 60 milhões de eleitores alemães estão convocados a escolher os novos deputados do país neste domingo, 24, numa eleição que, ao final, definirá se a chanceler federal Angela Merkel continuará no poder.

A campanha eleitoral alemã chegou ao final, e a atual chanceler Merkel, é favorita nas pesquisas e pode assumir seu quarto mandato. Sondagem mostra que 34% dos eleitores não pretendem votar ou ainda estão indecisos.

No último dia 3, Merkel e seu principal adversário, Martin Schulz, participaram do único debate televisivo da campanha, visto como a grande oportunidade para os candidatos convencerem os eleitores indecisos. Apesar de Schulz ter atacado duramente Merkel com questões sobre imigração e relações com a Turquia, a atual chanceler se saiu melhor no debate.

Para muitos alemães a reeleição de Merkel já é certa. Segundo os especialistas, o número de pessoas que pode se abster de votar é considerado muito alto. De acordo com a pesquisa divulgada ontem (21) pela empresa GSM, o índice de abstenção (34%) é 5% maior do que nas últimas eleições.

Com medo de que uma alta taxa de abstenção venha a favorecer o partido de extrema-direita AfD, Angela Merkel e Schulz, apelaram para que a população vá em peso às urnas. O partido de Merkel (CDU) registrou 37% das intenções de voto, enquanto o SPD de Schulz registrou 22%.

O partido de extrema-direita, AfD, que tem cerca de 10% de intenções de voto, vem recebendo inúmeras críticas por seus militantes se mostrarem simpáticos ao nazismo e ao uso da violência. Alexander Gauland, um dos fundadores do AfD, é uma figura polêmica e já declarou, por exemplo, que os alemães deviam “ ter orgulho” do que o seu exército fez nas duas grandes guerras.

Como o posicionamento dos dois principais candidatos, Merkel e Schulz, é muito semelhante em relação a diversos assuntos, acredita-se que após as eleições de domingo conservadores e sociais democratas podem voltar a governar na chamada “grande coligação”. Os partidos já estiveram coligados duas vezes sob a administração de Merkel, entre 2005 e 2009, e entre 2013 e 2017.

Estima-se que nestas eleições, 61,5 milhões de pessoas devem votar, 3 milhões primeira vez. Mas mais de um terço dos eleitores, 22 milhões, têm mais de 60 anos.

Metas

Para conquistar os eleitores, cada partido definiu suas metas em relação a uma série de assuntos. Eles fazem promessas para áreas como segurança, trabalho, impostos e imigração, caso cheguem ao poder:

Os principais partidos da Alemanha concordam no quesito segurança: o país precisa de mais policiais. A CDU e o SPD querem 15 mil novos policiais nos níveis nacional e estadual. Também o Partido Verde e o partido A Esquerda defendem o aumento no número de policiais.

Os liberais reivindicam um equilíbrio entre segurança e liberdade e exigem o respeito dos direitos fundamentais e do Estado de direito. O partido rejeita o armazenamento de dados e defende uma abordagem "responsável" em relação à vigilância por vídeo. Já o nacionalista de direita AfD dá especial atenção em seu programa eleitoral ao combate da criminalidade praticada por estrangeiros.

Mercado de trabalho

Pleno emprego até 2025 – essa é a meta da CDU, partido da chanceler federal Angela Merkel, em seu programa eleitoral. O objetivo é reduzir a taxa de desemprego para menos de 3%. Um objetivo difícil, considerando que a média de 2017 é 5,9%. A CDU/CSU defende também a flexibilização da jornada de trabalho e mais apoio aos empreendedores.

Também os social-democratas querem a criação de mais postos de trabalho para alcançar o pleno emprego. O SPD quer ajustar o salário dos trabalhadores terceirizados ao dos funcionários contratados.

Já os verdes querem melhorar as condições de trabalho com pisos salariais específicos por setor mais altos que o salário mínimo, ou por meio de um horário de trabalho flexível. A Esquerda quer estender o período de concessão do auxílio desemprego e elevar o piso mínimo dos atuais 8,84 euros por hora para 12 euros. Já o Partido Liberal Democrata (FDP) exige melhores condições para empregadores por meio de menos regulações sobre o horário de trabalho. Além disso, o partido quer apoiar empreendedores e start-ups.

Imigração

A CDU/CSU quer manter baixo o número de refugiados no país. Um limite concreto, no entanto, como pretende a CSU, não aparece no programa eleitoral. Ambos prometem uma lei que permita a entrada no país de trabalhadores qualificados que tenham um contrato para trabalhar na Alemanha. CDU e CSU não querem uma lei de imigração e prometem deportar todos os que tiverem os pedidos de asilo rejeitados.

O SPD quer uma lei de imigração nos moldes do sistema de pontuação empregado no Canadá. O Parlamento seria responsável por definir o número de imigrantes. Quem quiser migrar para a Alemanha receberia pontos conforme a qualificação, conhecimentos linguísticos e idade. Quanto mais pontos, melhores suas chances de ficar na Alemanha.

Da mesma forma, os verdes prometem fazer pressão por uma lei de imigração com sistema de pontos. Eles querem que a qualificação profissional de estrangeiros seja mais facilmente reconhecida e reivindicam menos burocracia nesta avaliação. Refugiados deveriam ter a possibilidade de trocar seu status para o de "trabalhadores migrantes" desde que cumpram determinados requisitos. Os verdes também são explicitamente contra deportar refugiados para o Afeganistão.

A Esquerda rejeita um sistema de pontuação aos moldes canadenses. Na visão do partido, a Alemanha deveria ser uma "sociedade aberta à imigração", facilitando consideravelmente a naturalização.

Já a AfD defende uma cota anual mínima de deportações. Para evitar a chegada de novos refugiados, defende o fechamento das fronteiras e a construção de cercas.

Integração

A CDU/CSU quer impedir que a dupla cidadania seja transmitida de geração para geração. O programa eleitoral da legenda prevê que migrantes e seus filhos podem ter dois passaportes, mas as próximas gerações devem se decidir por uma nacionalidade. Além disso, o partido defendem que a "cultura guia" seja a alemã. Nesse contexto, define uma série de valores e habilidades, como o idioma, a motivação e a equiparação entre homem e mulher.

Os verdes, o SPD e A Esquerda rejeitam o debate sobre a "cultura guia". Os três partidos são a favor da manutenção da dupla cidadania.

Política fiscal

O programa de CDU e CSU quer eliminar cerca de 15 bilhões de euros em impostos. A taxa de tributação mais alta, de 42%, incidiria sobre uma renda anual a partir de 60 mil euros, em vez dos atuais 54 mil euros, no caso de pessoas solteiras. A taxa de tributação para ricos, de 45%, atingiria rendas anuais a partir de 232 mil euros, em vez dos atuais 251 mil euros, também no caso de solteiros. Além disso, a CDU promete que a chamada "taxa de solidariedade" seja extinta gradualmente entre 2020 e 2030 – recuando 0,5 ponto percentual por ano. Essa contribuição existe desde a década de 1990 principalmente para financiar os custos da reunificação alemã.

Também o SPD defende um alívio fiscal de 15 bilhões de euros. Além disso, quer elevar para 60 mil euros o piso para a tributação mais alta. No entanto, os social-democratas querem canalizar novamente uma parte do dinheiro para o governo, criando uma faixa de imposto mais alta ainda, com um percentual de 45% sobre uma renda anual (para solteiros) a partir de 76 mil euros. A tributação para ricos com renda a partir de 250 mil euros subiria de 45 para 48%.

Os liberal-democratas planejam amplas reduções de impostos – no total de 30 bilhões de euros no próximo período legislativo. A Esquerda defende uma taxa de 75% para ricos, no caso de renda anual a partir de um milhão de euros. O partido também quer taxas mais altas sobre rendimentos da receita do capital, bem como sobre heranças.

Defesa

A CDU quer aumentar os gastos com a defesa para 2% do Produto Interno Bruto da Alemanha até 2025 – como reivindicam a Otan e os Estados Unidos. Os liberais também querem aumentar os gastos com a defesa.

Já o SPD é contra a meta de 2%. Os verdes e A Esquerda rejeitam aumentar os gastos com a defesa do país. A Esquerda, particularmente, quer até reduzir o orçamento em 30% e retirar as tropas alemãs de todas as missões no exterior. Além disso, o partido quer tirar a Alemanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.