Editorial

Sobre renda e desigualdade no Brasil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h36

A desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. É o que revela estudo divulgado nesta semana pela equipe do economista Thomas Piketty, conhecido por propor a taxação dos mais ricos para reduzir as disparidades na distribuição de renda. De acordo com os dados, a maior parte do crescimento econômico neste século foi apropriada pelos 10% mais ricos da população.

O estudo, conduzido pelo World Wealth and Income Database, instituto codirigido por Piketty, aponta que a fatia da renda nacional dessa parcela da população passou de 54,3% para 55,3% de 2001 a 2015. No mesmo período, a participação da renda dos 50% mais pobres também subiu 1 ponto percentual, passando de 11,3% para 12,3%. A renda nacional total cresceu 18,3% no período analisado, mas 60,7% desses ganhos foram apropriados pelos 10% mais ricos, contra 17,6% das camadas menos favorecidas.

Vale ressaltar que a expansão foi feita à custa da faixa intermediária de 40% da população, cuja participação na renda nacional caiu de 34,4% para 32,4% de 2001 a 2015. De acordo com as informações do estudo, a queda se deve ao fato de que essa camada da população não se beneficiou diretamente de políticas sociais e trabalhistas dos últimos anos nem pode tirar proveito dos ganhos de capital (como lucros, dividendos, renda de imóveis e aplicações financeiras), que ficam restritos aos mais abastados da população.

A manutenção da desigualdade no Brasil foi classificada pelo estudo como “chocante”, principalmente se comparada com outros países desenvolvidos. Dados revelam que a renda média dos 90% mais pobres no Brasil é comparável a dos 20% mais pobres na França. Nesse cenário, de acordo com o estudo, o 1% mais rico no Brasil ganha mais que o 1% mais rico no país europeu.

Um ponto que merece ser destacado é que o levantamento exclui transferências de renda. Considerando o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada, a participação dos mais pobres teria encerrado 2015 em 14%, mas a evolução da renda dos 10% mais ricos permaneceria inalterada. No entanto, o salário mínimo, as aposentadorias e pensões e o seguro-desemprego estão incluídos no cálculo.

As transferências sociais, segundo explicação do World Wealth and Income Database, foram retiradas do levantamento para facilitar a análise da estrutura da economia. Essa medida, conforme a equipe responsável pelo estudo, permite estimar quanto da renda nacional vem do capital e quanto vem do trabalho.

Para chegar à distribuição da renda nacional, os autores usaram dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que analisa o padrão de vida e a renda das famílias mais pobres. Os dados sobre a parcela mais rica da população vieram de informações sobre a Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física, enviados pela Receita Federal com a preservação do sigilo fiscal dos contribuintes.

Para acrescentar a participação do capital e as rendas não tributáveis, o estudo usou as Contas Econômicas Integradas, de 2000 a 2014, e as Contas Nacionais Trimestrais do IBGE de 2015. A partir da junção das três bases de dados, os economistas elaboraram a série histórica dos últimos 15 anos da renda nacional com a participação de cada faixa de renda da população.

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