Artigo

A cruz é o início de nova vida (II)

Atualizada em 11/10/2022 às 12h36

No artigo anterior, discorri acerca do maior símbolo dos cristãos, que é a cruz, refletindo a partir dos escritos do frei Raniero Cantalamessa. A morte de Cristo na cruz é como uma semente. Em suas próprias palavras, Ele disse que se a semente de trigo que cai na terra não morrer, fica sozinha, mas se morrer, dará muitos frutos. Do mesmo modo, sua morte a que se seguiu a ressurreição, produziu muitos frutos na forma de discípulos que creram nele.

A cruz é fonte cristalina para onde olhamos, quais sedentos, com esperança de sermos saciados. Nele fixamos nosso olhar, não aterrorizados pela cena dantesca, mas confortados, pois o que nela se realizou foi o que foi predito ao longo de centenas de vozes proféticas e que teve seu anúncio mais vivo na boca de João Batista, quando disse: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!

A origem deste símbolo traz uma história de tristeza e desonra. A crucificação, com requintes de extrema crueldade, era o flagelo determinado como forma de aviso aos desobedientes em determinados impérios por ser uma forma de morte dolorosíssima e agonizante. A intenção com esta morte era impor o terror em quem visse, estando perto ou longe, mas também humilhar e envergonhar a vítima, além de fazê-la sofrer a dor física.

Mas eis que aquilo que encerrava somente castigo e humilhação recebe em Jesus um novo sentido, posto que encerra um ciclo de desesperança. A cruz encerra uma expectativa e uma busca. A cruz abre as portas do lugar mais íntimo para o encontro com Deus.

Nossa oração é no sentido de que os mártires, que foram irmanados ao Nosso Senhor, literalmente, com uma morte terrível encontrem paz. Que nós, os que seguimos cada dia, entristecidos com estas horrendas notícias, olhemos para a cruz redentora, como peregrinos que olham Jesus redivivo em formato de cruz, mas num convidativo abraço que nos dá confiança e paz.

Que o sofrimento e o martírio de Nosso Senhor sejam um alerta para que nossas próprias cruzes, dores e angústias sejam suportadas com mais paciência e resignação, posto que somos servos de quem um dia enfrentou a própria morte e venceu. Ressurreto, nos anima a prosseguir.

O mais interessante é que o próprio Cristo determina que quem desejasse segui-lo deveria tomar sua cruz e segui-lo. O que o Mestre quis dizer com isso? O fato de que não devemos tornar-nos por importantes demais a nossos próprios olhos. Que acima de nossos egos há a limitação sobre nós da própria vida, das dificuldades, dos cuidados com o próximo e, sobretudo, do temor a Deus, cujo amor e cuidado estão a velar-nos sempre. Ter a consciência de carregar a própria cruz é saber que somos finitos, limitados. Mas acima de tudo, dependentes de um Deus que venceu o calvário e que está sempre disposto a nos auxiliar na nossa jornada.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.