Ciência

Astronomia para crianças: o ensino das ciências pelo fascínio

Antonio José Silva Oliveira / físico, doutor em Física Atômica e Molecular, pós-doutor em Jornalismo Científico. Professor da UFMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h36
Criança observa o universo de telescópio fornecido pelo Ciência Móvel, em São Luís
Criança observa o universo de telescópio fornecido pelo Ciência Móvel, em São Luís (vida ciencia)

Este artigo de divulgação científica tem como base o publicado em sua versão original em 20 de julho, pelo Centro de Referências em Educação Integral, a partir de uma entrevista realizada pela repórter Ingrid Matuoka com o consultor científico de O Estado, professor doutor Antonio José Silva Oliveira. O Centro de Referências em Educação Integral é uma iniciativa da Associação Cidade Escola Aprendiz, em parceria com outras Ongs e com o apoio da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e da Unesco para promover a pesquisa, o desenvolvimento, aprimoramento e difusão gratuita de referências, estratégias e instrumentais que contribuam para a formulação, gestão e avaliação de políticas públicas de educação integral no Brasil, com sede em São Paulo.

“Toda criança é uma cientista nata, e então nós arrancamos isso delas”, já dizia o cientista estadunidense Carl Sagan (1934-1996), sobre como a educação formal e a perspectiva adulta podem ser danosas para a imaginação e curiosidade dos pequenos – elementos essenciais para a exploração científica e seu desenvolvimento integral.

Neste contexto, mais do que somente apresentar conteúdos curriculares, a escola tem um papel decisivo para estimular o gosto pela ciência. E sabendo do fascínio que os fenômenos e corpos do universo costumam despertar entre as crianças, a Astronomia desponta como um caminho de enorme potencial para essa aproximação.

“É a ciência mais emocionante. Aguça o intelecto, a imaginação, o desenvolvimento de tecnologia e se relaciona com perguntas que todos fazemos: Onde estamos? Quem somos? O que faremos?”, resume Antonio José Silva Oliveira, professor de Física na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e consultor da pagina Vida Ciência.

Para disseminar conhecimentos de ciência e sobre o cosmo, o professor Antonio Oliveira criou a Ilha da Ciência, projeto que conta com um planetário 3D, laboratório e o Ciência Móvel – unidade itinerante que percorre diferentes cidades levando telescópios para que crianças e adultos possam observar os astros e ter gosto pelo ciência.

Nesta jornada, tem a chance de aproximar a Ciência e a Astronomia para pessoas que não teriam esse acesso facilmente. No seu primeiro ano de funcionamento, em 2013, a Ilha visitou 12 comunidades quilombolas, no município de Alcântara, durante a reunião especial da SBPC, por exemplo. Considerando estes quatro anos, a unidade móvel do Ilha da Ciência já visitou mais de 30 municípios no estado do Maranhão e mais São Raimundo Nonato (PI), Campinas e Valinhos (SP). Destacamos recentemente a ação de divulgação científica na cidade de Viana (MA), localizada a 217 km da capital São Luís, com uma mostra científica, palestra, oficinas, planetário móvel 3D e observação de astros, na I Semana Municipal de Ciência e Tecnologia do município.

Também foi realizada a atividade “São Luís, Olhe para o Céu!” no Memorial Bandeira Tribuzi, em frente ao Espigão Costeira, localizado na Península da Ponta d’Areia, no dia 5 deste mês. Já estamos programando para o dia 2 de setembro realizar a atividade “São Luís, olhe para o Céu!”, na praça da Lagoa da Jansen e várias ações no interior do estado.

“Quando sai de uma sessão do planetário, a criança tem outra percepção de mundo e, em seguida, pode observar pelo telescópio os anéis de Saturno ou Júpiter e suas luas. Queremos, com isso, despertar o gosto pela ciência que está contida na Astronomia. Pode até ser que ela não se torne uma grande física ou astrônoma, mas com certeza será uma profissional mais humana”, diz o professor da UFMA.

Para Adilson Aparecido de Oliveira, professor de Física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a Astronomia pode ser o ponto de partida para introduzir diversos conteúdos de Ciências, Matemática, Geografia, entre outros, na escola. “O desafio é propor atividades que possam fazer a integração entre essas disciplinas”, diz.

Para tanto, ele sugere a realização de atividades práticas, como a observação dos movimentos do Sol ou o uso de imagens e filmes. “O importante é sempre estimular a criatividade e a imaginação dos alunos para aproximar esses conteúdos, porque o fascínio já está lá, nessa conexão profunda entre nós e o universo, e porque a ciência faz parte da cultura”, diz.

O professor Antonio Oliveira afirma ainda que a aproximação do cientista com a população, principalmente a excluída socialmente, é indispensável. “O cientista tem que ir onde o povo está, porque é lá que encontramos jovens com capacidade para desenvolver a ciência no Brasil. De maneira análoga, é a camada pré-sal do conhecimento”. Oliveira conclui seu pensamento dizendo que “enquanto os gestores da ciência e os cientistas não tiverem esta consciência, jamais o país será socialmente e economicamente justo”.

O filme “Viagem à Lua”, de George Méliès, é considerado o primeiro filme de ficção científica do mundo. Foi lançado em 1902 e narra a história de um grupo de cinco astrônomos que viajam à Lua em uma cápsula lançada por um canhão gigante, onde são capturados.

A série “Cosmos: uma odisseia no espaço-tempo”, é um documentário científico que conta com a apresentação do astrofísico Neil de Grasse Tyson. Está disponível na Netflix e tem por base a minissérie de mesmo nome apresentada por Carl Sagan (1934-1996), lançada na década de 1980. Sua abordagem didática e inspiradora parte do ceticismo próprio da ciência para revelar os mistérios e maravilhamentos do universo, mostrando como todas as coisas estão conectadas. Como lembra Tyson, “somos todos feitos do mesmo pó de estrelas.


Eclipse
Na segunda-feira, dia 21, vai ocorrer um eclipse solar, evento que está sendo considerado pelos cientistas norte-americanos como o maior experimento mundial já ocorrido. Para se ter uma ideia de grandeza do evento, os dados coletados ficarão armazenados para alimentar pesquisas científicas por mais de 10 anos. Com a tecnologia disponível nos locais onde acontecerá o eclipse total, especialmente no território norte-americano, envolvendo 14 estados, desde smartphones a satélites, o eclipse será registrado passo a passo e oferecerá aos cientistas informações mais precisas sobre o funcionamento do Sol. Calcula-se que o investimento realizado para tal experimento é superior a 150 milhões de dólares o que corresponde ao corte realizado pelo governo federal no orçamento para a área de ciência e tecnologia em 2017.

Em São Luís, está programado o acompanhamento do fenômeno a partir da Praça Maria Aragão pelo Laboratório de Divulgação Científica Ilha da Ciência, a partir das 17h.
O acompanhamento é aberto ao público!

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