Reflexão

Violência e pensamento

O pensamento, que serviu à evolução da humanidade, não atingiu a violência

Aldy Mello - Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro do IHGM e da ALL.

Atualizada em 11/10/2022 às 12h36

Das leituras que andei fazendo, procurando as causas de tanta violência no mundo, outras ideias me fizeram pensar diferente daquilo que comumente se atribui como causa da violência.

Assim como se encontra grandes homens que pensaram na ciência antes que fosse comum, como hoje, também existiram homens que se preocupavam com o pensamento, algo que permite aos seres humanos encararem a vida e o mundo e o que acontece ao redor deles.

Jean Piaget, considerado um dos maiores pensadores do século XX, responsável pela teoria do conhecimento baseada nos estudos da gênese psicológica do pensamento humano, ensina que o pensamento é construto do conhecimento. É o principal veículo do processo de conscientização. Como ele, René Descartes demonstrou, através da matemática, as formas e as medidas dos corpos. Em sua obra “Discurso sobre o método”, de 1636, mostrou o pensamento filosófico para todas as ciências: “Penso, logo existo”. Para ele, uma verdade é consequência da outra. Pitágoras, filósofo grego antes de Cristo, também afirma que é preciso educar as crianças para que não seja necessário punir os adultos.

Nunca o mundo viveu tão longe do pensamento, deixando-se contaminar pela violência, desequilibrando sistemas, nações e pessoas. Os homens deixaram de pensar? O pensamento lógico, que predomina os conceitos e arrasta o raciocínio, sumiu? Onde está o mundo racional, que difere os seres humanos dos demais seres?

A escravatura foi banida da face da Terra porque os homens de bom senso assim pensavam e queriam. As mulheres ocuparam seu espaço no cenário social e econômico porque o pensamento evoluiu. Os preconceitos foram diminuindo porque se espalhou um novo pensamento acerca da diversidade. E a violência?

A nossa vida é comandada pelos sentimentos. Eles vão e vêm em nossos pensamentos, passam pelas nossas emoções e podem comandar as nossas ações. Cabe-nos, então, regrá-los conscientemente, fazendo isso de acordo com o pensamento que domina o mundo. Hoje, o pensamento dominante é aquele em que a sociedade vive as paranoias de segurança com muros, cercas eletrônicas, câmaras e sensores, em nome da violência urbana, outras paranoias avançam no mundo contemporâneo, que são as arquiteturas de conveniência. A paranoia das arquiteturas existe de fato e se expande por todas as grandes cidades do mundo.

Convivemos, hoje, com as paranoias cibersociais, que são aquelas difundidas pelas redes sociais, exercendo uma força sobre os indivíduos a ponto de fazer desaparecer a soberania deles sobre sua vontade.

É possível que não haja espaço para o pensamento se não houver uma saída de cada pessoa de si mesmo em direção à existência e experiência do outro, o que na linguagem da comunicação humana se chama diálogo. Pensamento tem muito a ver com o comportamento pessoal, com a relação que o homem tem com o mundo e vice-versa. O homem, como um "ser no mundo", edifica sua consciência que deve ser a consciência do mundo, porque não há consciência no vácuo de si mesmo.

Cabe aos homens, às instituições fazer a história do pensamento, e aqui os escritores, as academias de letras e cultura têm o papel preponderante de construir um novo pensamento.

O pensamento, que tanto serviu à evolução da humanidade, não atingiu a violência, que se expande cada vez mais no mundo inteiro. O respeito pela vida e o amor ao próximo são essências. A inteligência há muito deixou de ser instrumento para servir à vida e sem ela não haverá pensamento.

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