GOLPES

População deve ficar atenta aos diversos tipos de golpe

Cada dia que passa os criminosos se reinventam e buscam novos meios para tirar dinheiro de vítimas; uma dica das mães serve muito: não fale com estranhos

Jock Dean/O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37
Ao utilizar ajuda para fazer operações em caixas eletrônicos, sempre peça a funcionários que estejam utilizando colete ou crachá da agência
Ao utilizar ajuda para fazer operações em caixas eletrônicos, sempre peça a funcionários que estejam utilizando colete ou crachá da agência (Caixa)

Entra ano, sai ano, e os criminosos não cansam de aplicar golpes. E os bandidos são criativos, tem golpe do falso sequestro, do carro quebrado e até do “falso parente”. Os golpes são aplicados pelo telefone ou até mesmo pessoalmente, na casa da vítima. Por isso, uma dica repassada pelas mães geração após geração ainda é uma arma importante para não passar por situações do tipo: não conversar com pessoas estranhas.

A universitária Andressa Leão ignorou o conselho e acabou sendo vítima do golpe do falso parente. Um dia ela estava estudando em casa quando o interfone tocou. Do outro lado, um homem afirmando ser uma parente de seu pai. “O que me chamou atenção foi que assim que eu atendi ele disse que era da mesma cidade em que meu pai nasceu, São Bento”, informou. São Bento é uma cidade da Baixada Maranhense, distante 299 quilômetros de São Luís.

Durante a conversa ele ainda disse o nome do pai e da mãe da estudante, que não desconfiou que se tratava de um golpista. Após algum tempo de conversa, ela o deixou entrou entrar em casa, mesmo estando sozinha, ignorando os riscos que poderia correr. “Deixei-o entrar em nossa casa, porque ele insistiu de forma muito sutil, muito tranquila. Não houve ameaça, coação de qualquer tipo. Ele falava comigo como se realmente conhecesse nossa família”, conta Andressa Leão.

Já na sala da casa da estudante, ele continuou conversando e dando informações simples sobre a família da jovem. “Em dado momento, ele disse que tinha vindo a São Luís para nos convidar para a formatura dele do curso de enfermagem. Como estávamos no fim do semestre letivo da UFMA não desconfiei. Acreditei realmente que ele falasse a verdade porque tudo que ele me disse fazia muito sentido”, lembra.

Só que o homem queria dinheiro. Ele disse a estudante que precisava de R$ 180,00 para alugar a beca para a cerimônia de formatura. “Nisso, eu liguei para a minha mãe e contei a história que ele tinha me falado. A gente não tinha dinheiro em casa, mas minha mãe também acreditou em tudo que ele tinha dito e pediu que eu fosse com ele ao banco para sacar o dinheiro que ele precisava. Foi o que fiz”, informa.


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Já no caixa eletrônico, ele disse que precisava de mais que R$ 180,00 e acabou levando cerca de R$ 300,00 da família. ‘Lembro q ele falava que era um favor de família que nós estávamos pagando para ele”, disse. Após pegar o dinheiro o homem foi embora e não fez mais contato. Por sorte, a estudante e sua família não tiveram mais que prejuízos financeiros.

Mas a história que ele contou à jovem tinha um ponto que não se encaixava. “Quando ele tocou o interfone da minha casa disse que seu pai se chamava Alex, que morava em São Bento, que seria parente do meu pai. Depois que ele foi embora e minha mãe chegou em casa, resolvemos ligar para minha tia que mora em São Bento, contamos a história e ela nos disse que só conhecia um Alex da cidade e que ele não tinha filhos”, conta.

Deixei-o entrar em nossa casa, porque ele insistiu de forma muito sutil, muito tranquila. Não houve ameaça, coação de qualquer tipo. Ele falava comigo como se realmente conhecesse nossa família”Andressa Leão, vítima de golpe

Foi quando a família percebeu que havia caído em um golpe. “Minha primeira reação foi querer ir a uma delegacia, registrar um Boletim de Ocorrência e fazer um retrato falado, mas minha mãe ficou receosa dele voltar e tentar algum tipo de violência contra nós após saber que tinha sido denunciado”, afirmou. Mas dois dias depois do ocorrido, sem que a mãe e o pai soubesse, ela registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.). “Fui tentar falar com a delegada, mas ela não estava lá e o escrivão acabou me convencendo que não valia à pena ir atrás do cara por causa de pouco dinheiro e eu acabei deixando para lá”, informa.

Algumas semanas depois a família descobriu como o golpista conseguiu tantas informações que lhe convenceram que de fato se tratava de um parente distante vindo de uma cidade do interior. “Um vizinho contou ao meu pai que há alguns dias um homem vinha rondando o bairro, como se procurasse alguém, e em uma conversa com esse vizinho perguntou se ali morava alguma família do interior. Meu vizinho disse que sim, indicou nossa casa, falou o nome dos meus pais e outras informações básicas que vizinhos costumam ter um do outro após anos de convívio. Foi assim que ele armou todo o golpe contra nós”, relembra.

Andressa Leão e sua família não são as únicas pessoas a caírem em um golpe aparentemente simples de descobrir. O golpe do falso parente é hoje um dos golpes mais comum cometidos no Brasil, segundo a Delegacia de Defraudações. Ele ocorre sempre da mesma forma: o criminoso liga para a vítima, se passa por um parente distante e aplica o golpe, dizendo estar em uma situação de dificuldade, que sofreu algum acidente ou que bateu com o carro, e precisa de um depósito para o conserto. O caso de Andressa Leão, em que o criminoso foi direto à sua casa é menos comum.

As ligações quase sempre partem de presídios e são aleatórias, o que significa que não há, por parte do criminoso, uma investigação prévia para a escolha da vítima, que em alguns casos, sem perceber, acaba informando o nome do parente e dando munição para o criminoso. Os números utilizados pelos criminosos geralmente são clonados, e para validar o chip, eles usam CPF de terceiros, o que de acordo com a Delegacia de Defraudações, dificulta o trabalho da Polícia.

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FIQUE DE OLHO

Telefones
Os bandidos costumam usar celulares com números clonados e ligam, em sua maioria, para telefones fixos. Geralmente as ligações são feitas de dentro de presídios, e são aleatórias. Ou seja, os bandidos fazem inúmeras ligações sem saber quem vai atender ao telefone.
Valor dos depósitos
Ao exigir que a vítima faça um depósito imediato, o bandido discrimina um valor. Caso a vítima diga que não tem esse valor, eles abaixam. E, se a vítima deposita, eles continuam tirando dinheiro da vítima até ela perceber o golpe.
Relação
Os bandidos não costumam saber quem é a vítima. Por isso, não existe relação entre eles. É difícil rastrear esses criminosos e descobrir quem são eles. Devido a essa não relação, a vítima não consegue recuperar o dinheiro que depositou para o bandido.

5 golpes de telefone mais comuns aplicados por criminosos de dentro de presídios
- Ligação premiada: golpista envia mensagem ou liga para a vítima informando que ela foi premiada com dinheiro e uma motocicleta. Para receber o prêmio, pede que seja transferida determinada quantia para uma conta, geralmente, clonada. Muitas vezes os criminosos dizem ser de um programa de televisão de grande audiência.
- Sequestro virtual: golpista finge que algum parente da vítima foi sequestrado. A vítima, surpresa, faz o pagamento exigido na ligação para que o parente seja liberado.
- “Bença, tia”: uma pessoa liga, se identifica como parente que mora longe e estava indo a Fortaleza de surpresa, mas o automóvel quebra e necessita de um valor em dinheiro para consertar e chegar à cidade. Nesse caso, a própria vítima é induzida a informar os dados do familiar para o golpista.
- Envelope vazio: golpista demonstra interesse em um produto comercializado pela vítima. Ele combina pagar por meio de depósito bancário. O depósito é feito sem colocar nenhum dinheiro dentro do envelope no caixa eletrônico. Mesmo assim, o comprovante é emitido. Resultado: a vítima fica sem o pagamento e sem o produto “vendido”.
- Anúncio de veículo roubado: golpista vê o anúncio do veículo roubado e liga para o proprietário por meio do telefone anunciado e diz que está com o carro, informando até o número do chassi, obtido a partir da placa do veículo. Ele afirma que a entrega só será feita mediante depósito bancário. O proprietário deposita e, ao chegar ao local combinado para receber o veículo, descobre que foi enganado.

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