Amor ao que faz

Cinquenta anos dedicados à fitoterapia: a história de Terezinha Rêgo

Farmacêutica ludovicense que, devido às suas pesquisas pioneiras, virou referência no Brasil e no mundo, segue atendendo pacientes e desenvolvendo pesquisas na área.

Thiago Bastos - Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37
Terezinha Rêgo recebeu um prêmio na China pelo desenvolvimento de três medicamentos fitoterápicos para tratar a pneumonia asiática
Terezinha Rêgo recebeu um prêmio na China pelo desenvolvimento de três medicamentos fitoterápicos para tratar a pneumonia asiática (terezinha rego h)

Ludovicense de nascimento, interiorana pelos laços familiares e mundial pela carreira, a doutora Terezinha Rêgo completa, em 2017, 50 anos dedicados à sua paixão: a fitoterapia - o estudo das plantas medicinas para seu uso no tratamento de doenças. Atualmente, a farmacêutica por formação acadêmica dedica-se às suas recentes pesquisas e ao atendimento de pacientes. Aos 84 anos de idade, ela nem pensa em se aposentar, sabe de cabeça o número de pacientes assistidos (cerca de 80 mil) e faz planos para o futuro.

Ao receber O Estado em sua sala, ao lado do Herbário Ático Seabra, que leva o nome de um de seus mentores dos tempos de aluna, no campus São Luís da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), Terezinha Rêgo acabara de atender a trigésima paciente do dia, por volta das 17h de uma tarde de terça-feira. Mesmo diante da rotina e com a lucidez que a acompanha na carreira, ela começa a discorrer sobre a profissão e o início de tudo, por influência de um dos avôs.

“Foi o senhor José [Moreira de Almeida], meu avô, lá em Cajapió, que me despertou para a farmácia, ainda aos 8 anos de idade. Ele sempre prescrevia receitas à base de plantas para as pessoas e aquilo me encantava mesmo nova. Decidi que era aquilo que iria fazer”, disse.

A minha maior felicidade é ser farmacêutica. Se nascesse 100 vezes, seria 100 vezes farmacêutica”
Farmácia

A escolha pelo curso de Farmácia veio na contramão da própria família, cuja tradição sempre foi pela formação em Direito. “Nossa família sempre teve esta tendência e eu, humildemente, quebrei esta série”, disse. Após ser graduada e passar pelas especializações no Maranhão e em outros estados, Terezinha Rêgo descobriu, por meio de pesquisas, a relação entre os potenciais contidos em plantas medicinais e a cura de doenças. Foi daí que partiu o seu trabalho pioneiro, a partir da classificação do princípio ativo de vegetais. “Depois desta fase de minha vida, me dediquei ao desenvolvimento de pesquisas nesta área”, afirmou.

Antes do doutorado em São Paulo, Terezinha Rêgo se especializou em Botânica em curso feito na cidade de Havana, em Cuba. De lá, ela extraiu as melhores lições de sua vida. “É encantador o que é feito em Cuba. Lá, por ser uma Ilha, há um enorme potencial quando o assunto é espécie vegetal, eles têm e precisam ter um conhecimento vasto no uso das plantas, já que aproveitam tudo o que uma espécie tem. Este momento da carreira serviu demais para mim”, afirmou.

Terezinha Rêgo desenvolveu uma capacidade única de descobrir tratamentos em fontes, até então, desprezadas. É dela, por exemplo, a pesquisa que pautou a sua tese de doutorado em que ela relaciona a cura da sinusite com uso de essência de cabacinha. Os estudos para análise desta planta duraram 20 anos. “Não se faz pesquisa por fazer, e sim, com responsabilidade. Demorei duas décadas e, finalmente, após o isolamento do princípio ativo, conseguimos comprovar o bom uso desta espécie para o tratamento de doenças alérgicas”.

A cabacinha usada na produção não é cultivada no Herbário Ático Seabra, e sim, em uma fazenda em Cajapió.

Alface é usada em pesquisa para controle de ansiedade

A alface, usada comumente na dieta de boa parte da população, é a mais recente fonte de pesquisa usada por Terezinha Rêgo. O alimento, a partir da extração de seu princípio ativo, é usado para o controle da ansiedade em pacientes psiquiátricos.

Os primeiros testes começaram a ser feitos, em parceria com o Hospital Nina Rodrigues, em São Luís, e com a obtenção de resultados positivos. Em praticamente todos os pacientes, o medicamento a base de alface reduziu a necessidade do uso de antibióticos. “Trata-se de uma pesquisa recente e que apresentou resultados satisfatórios”, disse a farmacêutica.

Para Terezinha Rêgo, a nova descoberta ressalta a importância do fitoterápico. “Não se trata de desconsiderar o medicamento industrial em si, mas citar a importância do fitoterápico”, citou Terezinha Rêgo.

Apesar do potencial em fontes naturais existentes não somente no território maranhense como em todo o país, a fitoterapia ainda não possui a visibilidade e importância necessárias, segundo a farmacêutica. “Eu consigo ser mais reconhecida no exterior do que aqui no país, o que chega a ser uma ironia. No Brasil há um incômodo em relação à fitoterapia, já que as tradicionais multinacionais, por exemplo, não querem que este trabalho tenha um desenvolvimento maior. Daí a resistência que alguns profissionais ainda têm quanto a esta importante fonte do conhecimento”, frisou a farmacêutica.

Futuro

Para quem pensa que a fitoterapeuta pensa em se aposentar, um recado: “Eu não penso nisso, mas o meu legado já está aí graças a Deus. Sou feliz por ajudar a minha comunidade e sei que nosso trabalho é importante. A minha maior felicidade é ser farmacêutica. Se nascesse 100 vezes, seria 100 vezes farmacêutica”, finalizou.

Reconhecimento

Além de ser coordenadora do Programa de Fitoterapia da UFMA, Terezinha Rêgo recebeu vários reconhecimentos internacionais. A farmacêutica foi responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento de três medicamentos fitoterápicos que auxiliaram no tratamento da pneumonia asiática (Sars). Por causa da descoberta, Terezinha Rêgo recebeu um prêmio na China.

Pessoas interessadas
em adquirir algum medicamento produzido no herbário cuidado por Terezinha Rêgo devem se dirigir à universidade (na avenida dos Portugueses, Itaqui-Bacanga). Ou ainda entrar em contato pelos telefones (98) 3272-8525/8526.

Linha de produção

Essência de Cabacinha
Nome científico: Luffa operculata
Indicação: Sinusite, rinite e adenoide

Xaropes
Agrião
Indicação: Expectorante e bronquite
Ameixa
Indicação: Prisão de ventre
Couve
Indicação: Asma
Ervas (urtiga, agrião e romã)
Indicação: Afecções respiratórias
Mastruço
Indicação: Anti-inflamatório
Milho
Indicação: Fortificante
Romã
Indicação: Faringite e laringite
Urtiga Branca
Indicação: Alergia
Urucum
Indicação: Pneumonia e tuberculose

Tinturas
Alfafa
Indicação: Prostatite (inflamação na próstata)
Agoniada
Indicação: Menstruações difíceis
Alcachofra
Indicação: Redução das taxas de colesterol
Amora
Indicação: Tratamento hormonal
Assa Peixe
Indicação: Asma e bronquite
Castanha Iodo
Indicação: Problemas na tireóide
Baicurú
Indicação: Moléstias inflamatórias do útero e ovário
Carobinha
Indicação: Ameba e giárdia
Cipó de Azougue
Indicação: Herpes
Chanana
Indicação: Favorece a defesa orgânica
Cactus
Indicação: Abuso de álcool e fumo
Douradinha do campo
Indicação: Problemas na circulação sanguínea
Espinheira Santa
Indicação: Úlcera e gastrite
Erva de Bicho
Indicação: Hemorróidas
Laranjinha do Mato
Indicação: Dor no colo intestinal
Pau Ferro
Indicação: Diabetes
Sucupira
Indicação: Artrose, artrite e reumatismo
Raiz de Caixeta
Indicação: Diarreias crônicas e agudas
Ginkobiloba
Indicação: Perda de memória e labirintite

Pomadas
Urtiga Branca
Indicação: Alergia de pele
Mastruço
Indicação: Cicatrizante

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