Opinião

As coisas belas da juventude

O ideal seria que se concedessem alternativas aos clássicos que estes considerarem chatos (e isso acontece até para quem tem “estrada” intelectual)

José Ewerton Neto - Autor de O oficio de matar suicidas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

A liberdade é a maior de todas as ilusões, dizia Herman Hesse. O narrador de um meus contos finaliza sua narrativa dizendo que a juventude é a maior de todas as liberdades. Admitindo que ambos estejam certos, a juventude seria a maior de todas as ilusões.

E, por ser justamente a juventude a expressão mais comovente dessa necessária ilusão da liberdade, confesso que sempre me incomodei com a literatice imposta aos jovens nas escolas, através dos livros que lhes são intimados a ler. Acontece que, a meu ver, a propagação do hábito da leitura não se promove através da obrigação, mas pelo prazer.

Considerando que cabe ao mestre orientar seus alunos no rumo da melhor escolha, o ideal seria que se concedessem alternativas aos clássicos que estes considerarem chatos (e isso acontece até para quem tem “estrada” intelectual). Vejo como opções mesmo os best-sellers (por que não?) quando são capazes de condensar o propósito maior da literatura que é de oferecer prazer e reflexão através de uma boa escrita.

Como apreciador do bildungsroman (romance de formação) vez por outra saio à cata, nos sebos, de alguma ‘pérola’. Se não é possível, a qualquer hora, descobrir um O Apanhador no Campo de Centeio, consigo encontrar, porém, gratas surpresas:

1.Gosto de você assim. Romance de Francesco Gungui, autor italiano, tornou-se best-seller internacional. Para introdução ao seu conteúdo bastam algumas falas de sua personagem central, Alice: “As conversas de sempre, as palavras de sempre. O seu futuro antes de tudo, você tem que fazer, você tem que entender...Mas por quê? Por que tenho que encontrar um futuro? Por que tenho que ler livros de que eu não gosto?”.

Este resumo das inquietações e perplexidades de uma jovem reprovada na escola dizem mais do que qualquer crítica literária, inclusive tangenciando o assunto do início desta crônica. Uma leitura insinuante e agradável que traz uma curiosidade: um poema da escritora gaúcha Martha Medeiros, introduzido por um dos personagens.

2.Simon vs. A agenda homo sapiens. Romance cujo título pouco convencional desperta a atenção para uma jornada que faz jus ao título. A troca de e-mails entre dois jovens que se desconhecem substitui a tradição literária dos romances epistolares para uma linguagem adaptada às novas gerações, explorando uma linguagem idem, inserida numa simbologia que traduz as ansiedades típicas de uma geração.

Dessa forma a autora contorna a densidade de um tema tradicionalmente opressivo como a homossexualidade para inseri-lo no contexto da naturalidade e ironia com que os jovens o observam. Por assim dizer a autora higieniza o tema, mas não o desqualifica ou o sublima mantendo o fio condutor da trama em torno do mistério trazido pela identificação dos personagens envolvidos.

3. O Limão. Romance que talvez seja o mais literariamente valioso dos três. Deparando-me, agora, com a exiguidade deste espaço, direi, resumindo, que o encontrei no sebo do Poeme- se e que minha curiosidade foi despertada, também, quando vi o nome do tradutor, o político e jornalista Carlos Lacerda. Resgatado pelo escritor Paul Bowles de um contador de histórias árabe, o texto já instigante pelo ambiente exótico e bizarro, torna-se sobremaneira envolvente quando os diálogos reproduzem, no mesmo diapasão, igual atmosfera mágica.

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