Opinião

Uma tese em economia

O que estaria acontecendo com os formuladores de política monetária?

Antônio Augusto Ribeiro Brandão - Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

“Desafios/Challenges” foi escrito no decorrer da chamada crise da “bolha”, iniciada nos Estados Unidos e repercutida principalmente nos países da zona do euro. É um livro técnico, de fácil leitura, não sequenciado de começo, meio e fim. Ao longo do tempo, de 2008 a 2015, fui escrevendo artigos à medida em que a crise se desenvolvia; ao todo são 40 selecionados.

O livro está dividido em três partes, que podem ser lidas sem preocupação de sequência; entretanto, os textos da terceira parte estão embasados nas teorias expostas na primeira e nos cenários traçados, na segunda.

Não tive a intenção de estabelecer contradições entre a teoria econômica existente, tradicional e consagrada pelos grandes autores, e que é ainda ministrada nas universidades.

Acabei levantando uma tese em virtude de medidas heterodoxas adotadas pelo Federal Reserve – FED, o banco central americano, para combater a crise. É que políticas de auxílio à liquidez, de afrouxamento monetário (“quantitative easing” - QE), não causaram inflação!

A questão acima permite indagações sobre a Teoria Quantitativa da Moeda -TQM e sua velocidade de circulação, Base Monetária - BM e seu multiplicador; os autores, professores e acadêmicos sabem que excesso de meios de pagamento sobre bens e serviços disponíveis causam inflação. Mas isto não ocorreu!

Estou propondo discutir essa tese. O que estaria acontecendo com os formuladores de política monetária: usando mal os modelos existentes ou a Teoria econômica precisaria de novas formulações?

As práticas heterodoxas adotadas pelos bancos centrais “testaram com êxito novos caminhos para a política monetária”; Draghi, do banco central europeu, “levou adiante a experiência do FED e recolocou a economia europeia na dinâmica do crescimento”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros (“A política monetária”, Valor Econômico, edição de 15/07/17).

Economistas clássicos, neoclássicos e marginalistas, entretanto, como Adam Smith, David Ricardo, Alfred Marschall e John Maynard Keynes, à exceção deste que admitia, excepcionalmente, auxílio à liquidez em períodos de caracterizada recessão, não pregaram essas práticas.

Mas por que não houve inflação, por quê? A mencionada TQM (dada pela expressão MV = PT) relaciona as variáveis quantidade de moeda e sua velocidade de circulação, que devem corresponder ao produto ao nível de preços de mercado e o volume de transações).

No caso específico das repercussões positivas havidas na economia americana em virtude do QE, a velocidade de circulação da moeda pode ter diminuído.

Quanto à Base monetária e seu multiplicador, sob supervisão e controle dos bancos centrais, se expandida além da conta, pode-se esperar efeitos , muitas vezes, maiores às unidades monetárias postas em circulação.

Thomas Piketti e Yanis Varoufakis, nos seus livros “O capital do século XXI” e “O Minotauro global”, explicam os efeitos maléficos do capital em sua crescente concentração, principalmente em tempos de globalização, e as dificuldades enfrentadas pelos países periféricos, como a Grécia, para fazerem os ajustes fiscais severos e que lhes foram exigidos.

A Teoria Econômica precisa adequar-se aos novos tempos.

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