Editorial

Deflação e a crise

Não resta dúvida de que o político mais do que nunca pauta o econômico no Brasil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

Em meio ao termômetro quente de Brasília, com a crise política ainda a ter forte impacto na economia, um chamou a atenção. Pela primeira vez em 11 anos, o Brasil registrou deflação mensal (em junho). Ou seja, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi negativa em 0,23%.
Num momento de tantas dificuldades, de consumo retraído, o registro de queda nos preços de produtos e serviços nesse patamar significa de alguma forma um recuperação do poder de compra. Isso é possível graças a reduções verificadas na energia elétrica, transportes e alimentos (safra recorde). E na energia tem um efeito simbólico enorme, posto que, nos últimos anos, o consumidor tem pago uma conta alta para sustentar os equívocos da política do setor elétrico.
Para a população, a notícia soa como ótima. Mas os economistas observam o fenômeno com certo receio, pois o que seria “bom” para a população não necessariamente é para a economia. Isto porque, persistindo por longos períodos, podem retratar as dificuldades que as empresas estão tendo pra vender, sendo obrigados a baixar os preços.
Esse tipo de comportamento da inflação, de acordo com registros históricos, é comum em países desenvolvidos, ou mesmo que enfrentam estagnações econômicas prolongadas, como o Japão, ou recessões severas acompanhadas de alto desemprego, como a Grécia.
No Brasil, a primeira vez que ocorreu deflação foi em 1930, como efeito da quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929. Os preços dos produtos caíram 8,9% em um ano no país. Após isso, inflação negativa por um período maior foi verificado em 1998, por quatro meses consecutivos.
Na década de 2000, o fenômeno apareceu novamente no Brasil, mas de forma esporádica. Em junho de 2003, a inflação ficou negativa em 0,15%; em junho de 2005, -0,02% e em junho de 2006, -021%.
Com deflação ou não, o que o brasileiro quer mesmo é que o país saia dessa estagnação econômica, que as empresas invistam e aumentem a sua produção, gerem emprego e renda e tenham para quem vender. Esse é o ciclo da retomada do crescimento, tão esperado, mas ao mesmo tempo tão distante, devido às incertezas políticas.
Não resta dúvida de que o político mais do que nunca pauta o econômico no Brasil. O mercado interno e externo reage a cada notícia que envolve o alto comando do país. Atualmente, vive-se uma nova expectativa: a de aprovação da admissibilidade da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) na Câmara dos Deputados.
Novamente, a economia é colocada à prova, ainda que o discurso do Ministério da Fazenda seja de repassar confiança e tranquilidade ao mercado.
Isso sem falar que Eduardo Cunha estaria pronto para revelar, por meio de acordo de delação premiada, tudo o que sabe sobre os esquemas de corrupção descoberto pela operação Lava Jato. Com certeza a crise da crise se apresentará novamente e mais uma vez a economia tende a ser afetada.
O problema é que esse ciclo de denúncias parece não ter fim, o que é muito ruim para o Brasil. Pobre Brasil!

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