Vida urbana

Trabalho policial diminui ocorrências envolvendo flanelinhas

Há cinco anos a Secretaria de Estado de Segurança Pública realiza o cadastramento e oferece cursos de capacitação para os guardadores de carro

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

[e-s001]Há cerca de cinco anos, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) começou a desenvolver a Operação Guardador Legal para cadastrar, legalizar e capacitar os guardadores de carro que atuam em São Luís. O objetivo desse trabalho é evitar que pessoas se passem por flanelinhas para cometer crimes como arrombamentos de veículos e a cobrança de preços abusivos. O delegado de Polícia Civil Joviano Furtado, que coordena esse trabalho, informa que desde o início da operação diminuiu o número de ocorrências envolvendo estes profissionais e destaca que os guardadores não podem fixar preços pelo serviço.

Guardadores como Walter Silva Muniz e Biro Biro, que há 40 anos atuam na Praça Pedro II, estão entre os que foram beneficiados pela operação. Os dois trabalham com coletes de identificação e crachá no qual constam seus nomes, foto e número de registro no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). “Este material é que garante ao condutor que ele está sendo atendido por um guardador credenciado e capacitado para prestar o serviço”, frisa Joviano Furtado.

Segundo o delegado, o centro de São Luís tem o maior número de guardadores de carro cadastrados pela Operação Guardador Legal: são cerca de 200. “Já há lei e decreto que regulamentam essa profissão. O que temos feito é regularizar a situação desses profissionais”, afirma.

Regularização
Nas operações realizadas pela Polícia Civil, os guardadores de carro que são identificados trabalhando irregularmente são notificados e encaminhados ao sindicato da categoria. Lá eles são cadastrados junto ao MTE e depois precisam fazer um curso de capacitação que inclui técnicas de relações interpessoais, para atender o condutor de forma adequada; noções de trânsito, para não cometerem infrações, e primeiros socorros. Mais recentemente, os guardadores receberam também orientações de como atender os turistas.

Para poder fazer o cadastrado junto ao MTE e participar dos cursos, o guardador não pode ter passagem pela polícia. “Desde que iniciamos este trabalho, percebemos que houve redução no número de ocorrências por arrombamento de veículos e outros danos causados ao patrimônio e integridade do condutor”, informa Joviano Furtado.

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Constantemente, são feitas fiscalizações em diversos pontos de grande concentração de guardadores de carros em São Luís. Há cerca de 20 dias, 15 flanelinhas foram retirados do Centro. “Quando identificamos um guardador de carros atuando de forma irregular, ele recebe uma notificação. Se for reincidente, é lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência por exercício ilegal da profissão”, informa Joviano Furtado.

O delegado destaca ainda que, apesar da legalização, os guardadores de carros não podem exigir valores para cuidarem dos veículos. “Esta prática caracteriza crime de extorsão. O que vale é a livre negociação entre condutor e guardador de carros. Se o condutor se sentir prejudicado, for ameaçado ou algo do tipo, deve procurar uma Delegacia de Polícia Civil e registrar Boletim de Ocorrência e esse profissional vai receber as sanções cabíveis”, explica Joviano Furtado.

[e-s001]Condutores
Guardadores como Walter Silva Muniz ou Biro Biro não representam incômodo para os condutores que diariamente estacionam na praça. Pelo contrário, eles elogiam o cuidado e honestidade com que guardam seus veículos. “Nunca tive nenhum problema com seu Walter. Deixo minha chave com ele sem problemas e no fim do dia recebo o carro da mesma forma que deixei. A gente já tem um preço acertado, que eu acho justo. Já tive problema com flanelinha foi em festas, shows e outros eventos. Nesses locais, quem aproveita para ganhar dinheiro quer meter a mão no nosso bolso”, afirma Bruno Alves, que estaciona todos os dias na Pedro II.

Apesar dos esforços para coibir a atuação de flanelinhas que trabalham sem estar cadastrados para isso, muitos voltam para as ruas e continuam cometendo abusos. Foi o que aconteceu no entorno de muitos arraiais durante o São João. É que estacionar próximo aos arraiais se tornou caro, por causa do preço abusivo cobrado por “flanelinhas de ocasião”. Motoristas reclamaram e muitos afirmaram que pagaram por causa do medo de terem o carro danificado. Em locais como a Praça Maria Aragão, alguns flanelinhas chegavam a cobrar R$ 10,00 pela vaga de estacionamento.

Lídia Castro pondera que o problema ocorre por causa da falta de vagas pela cidade. “A falta de locais para estacionar veículos é um problema sério em São Luís, sobretudo no Centro. E só aumenta à medida que cresce o número de veículos circulando pela cidade. A carência desse tipo de serviço é tamanha que provoca a nossa indignação e, dependendo do local, a gente fica à mercê do flanelinha, se não tiver um de confiança”, afirma.

[e-s001]PROFISSÃO DE PAI PARA FILHO


Muitas profissões passam de geração em geração dentro de uma família. A de guardador de carros não é diferente. Existem em São Luís diversos exemplos de filhos de guardadores de carros que acabam se tornando guardadores também. Em alguns casos, eles até herdam o ponto no qual o pai trabalhava. Em outros, toda a família, incluindo a mãe, trabalham juntos. E há ainda os casos em que pai e filho formam uma parceria que garante um dinheiro a mais para o sustento da casa.

Adeilton de Jesus tem 23 anos e há 7 anos ele trabalha com o pai, o guardador de carros Walter Silva Muniz, na Praça Pedro II. O pai atua no local há 40 anos e, por isso, tem clientes que só confiam os carros a ele. O filho, além de ajudar na guarda dos carros, cuida da lavagem dos veículos. Com isso, além da renda que ganham como guardadores, eles conseguem fazer um dinheiro extra cuidando da limpeza dos automóveis.

Adeilton de Jesus começou a acompanhar o pai para ajudá-lo a estacionar os carros dos clientes fixos e dos eventuais. Com o tempo, começou a lavar os veículos a pedido dos clientes que não tinham tempo de ir a um lava-jato e aproveitavam o fato de ter que deixar o carro parado durante toda uma manhã ou o dia todo na praça para já saírem com eles limpos de lá, ganhando tempo.

Hoje, Adeilton de Jesus lava de 6 a 8 carros diariamente. A maioria dos clientes só guardam o carro com seu pai. “Eu chego aqui às 6h e tem dias que só saio 19h. Quando o cliente do meu pai pede, lavo o carro e eles pagam a meu pai pela lavagem junto com o pagamento do trabalho de guardador”, informa. Além dos carros dos clientes do pai, ele também lava os de clientes eventuais. Neste caso, o pagamento feito logo após a conclusão do serviço.

Ele diz que leva cerca de 20 minutos para fazer a limpeza completa de cada veículo. Além da lataria, limpa os tapetes e os pneus, que são, segundo ele, a parte mais pesada do trabalho que é feito de segunda-feira a sexta-feira, na maioria das vezes, sob o sol escaldante. “É um trabalho bem cansativo, mas não dá para reclamar porque a situação está bem difícil”, comenta.

SAIBA MAIS

REGULAMENTAÇÃO

De acordo com a Lei nº 6.242, de 23 de setembro de 1975, e o Decreto nº 79.797, de 8 de junho de 1977, para exercer a profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores, o flanelinha precisa de registro na Delegacia Regional do Trabalho. O guardador deve atuar em áreas externas públicas, destinadas a estacionamentos, cabendo a ele orientar ou efetuar o encostamento e desencostamento de veículos nas vagas existentes, predeterminadas ou marcadas. Ainda segundo os dispositivos legais, os acessórios, peças e objetos guardados no interior do veículo ficam sob a responsabilidade do guardador.

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