Vida urbana

Flanelinha: profissão que ainda gera polêmicas em São Luís

Guardadores alegam que têm clientela fiel porque atuam honestamente, prestam serviço de qualidade e garantem que a profissão não é sinônimo de criminalidade; com a confiança de condutores, eles vão sobrevivendo no trabalho informal

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

[e-s001]Com o aumento de carros na cidade, a figura de guardadores tornou-se uma constante. Essa atividade, que se restringia às praças, hoje pode ser encontrada nas ruas, onde se encontram localizados restaurantes, farmácias, clubes e os mais diversos estabelecimentos comerciais. O que chama a atenção nessa atividade de rua é a contradição entre o uso do bem público e o pagamento por esse uso, o que muitas vezes causa tensão entre o dono do veículo e o guardador de carros. Entretanto, em algumas circunstâncias a figura deste profissional é bem-vinda e apoiada pelos condutores. Esta semana, O Estado foi às ruas saber o que guardadores e condutores têm a dizer e encontrou reclamações, mas também relatos de confiança.

Não há números precisos de quantas pessoas pratiquem a atividade de guardadores de carro em São Luís, já que muitos deles aparecem em datas específicas, como feriados, quando um grande fluxo de pessoas se concentra em locais para comemorar ou em eventos como shows, partidas de futebol ou outros com grande concentração de veículos. O Estado chegou a procurar o Sindicato dos Lavadores, Manobristas e Guardadores de Automóveis do Estado do Maranhão, localizado no Beco da Caela, no Desterro, mas ninguém foi encontrado para dar informação.

Velhos conhecidos
Mas, para além dos guardadores de carro sazonais, existem muitos que são velhos conhecidos dos condutores da capital. É o caso de Walter Silva Muniz, que há 40 anos atua na Praça Pedro II, onde ficam localizadas as sedes dos governos estadual e municipal, do Judiciário e da Arquidiocese de São Luís, além de agências bancárias, outros órgãos e entidades e estabelecimentos comerciais. “Eu já trabalhei de carteira assinada como ajudante em empresas de prestação de serviços, mas fui demitido e comecei a trabalhar aqui. Nisso, já se passaram 40 anos”, conta.

Presto meu serviço com honestidade. Por isso tenho a confiança das pessoas. Tem gente que se aproveita do trabalho de guardador para praticar crimes, mas não é o meu caso. A maioria dos guardadores é pai de família” Walter Silva Muniz, guardador de carros que há 40 anos atua na Praça Pedro II

Walter Silva Muniz é uma figura conhecida na praça e nestas quatro décadas conquistou a confiança de diversos condutores, que formam hoje uma clientela fiel e garantem seu sustento e da sua família. “Eu tenho aqueles clientes que me pagam por semana e aqueles que me pagam por mês. Sempre tem aqueles que estão de passagem, precisam estacionar e eu também atendo, mas a maioria são os clientes fixos”, afirma.

Divisão do espaço
Os clientes de Walter Silva Muniz são, sobretudo, funcionários do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão (TJMA) e da Prefeitura de São Luís, órgãos públicos que ficam na sua área de atuação. “A praça é dividida. Na minha área, trabalhamos eu e mais três guardadores de carro. Nosso trecho é este, em frente à Prefeitura e ao tribunal. No restante da praça, tem outros guardadores”, explica.

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Ele conta ainda que cada guardador tem seu “patrão”, um condutor que diariamente deixa o carro com um dos guardadores que trabalha na praça. Walter Silva Muniz cuida de cerca de 20 veículos por dia. Quando chegam, os condutores lhe entregam as chaves do carro, que ele guarda em um local seguro e a que só ele tem acesso. Para dar conta do trabalho, o guardador chega à Praça Pedro II às 7h e sai por volta das 16h, de segunda-feira à sexta-feira.

[e-s001]Outro guardador que é figura cativa e popular na Pedro II é Biro Biro, como é mais conhecido José Ribamar Pereira Silva, que também trabalha no local há 40 anos e é muito assertivo quando perguntam qual a sua profissão. “Não sou flanelinha. Flanelinha é quem fica no sinal lavando vidro de carro. Minha profissão é guardador e conservador de veículos”, explica.

Para ele, a distinção é importante porque, para atuar na praça, ele precisou, assim como muitos, passar por cursos de capacitação que garantissem sua regulamentação como profissional, embora ele já tivesse feito uma clientela que não confia seus carros a outro guardador.

Invasores
Apesar de cada guardador de carros ter sua área de trabalho na praça, vez ou outra aparecem os “invasores”, como Biro Biro chama aqueles que não têm permissão para trabalhar no local. Mas ele garante que não há brigas por causa de espaço. “Não podemos proibir ninguém de trabalhar. Para mim, eles não atrapalham, porque eu tenho meus clientes. A praça é um espaço público e quem tem de organizar esse trabalho é o poder público”, afirma.

[e-s001]A área de atuação de Biro Biro é nas proximidades da praça em frente à Igreja da Sé, onde ficava a estátua da Iara. “Presto meu serviço com muita honestidade e cuidado aos clientes. Por isso estou aqui há tanto tempo. Nunca me envolvi em nenhuma confusão com ninguém”, conta o guardador, que trabalha de segunda-feira à sexta-feira, das 7h às 19h, dependendo do movimento do dia. “Nem todos os meus clientes vêm todos os dias. Tem dia que vêm oito, tem dia que vêm dez, tem dia que vêm mais”, afirma.

NÚMEROS

600
flanelinhas já foram capacitados em São Luís
200 flanelinhas atuam só no centro de São Luís

Fonte: Secretaria de Estado de Segurança Pública

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