Editorial

Canais digitais e o impacto no emprego

Entre 1990 e 2001, o setor bancário teve redução de 46% nos números de vagas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

Um estudo técnico realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre “A inovação tecnológica recente no setor financeiro e os impactos nos trabalhadores” dá uma dimensão real de como o as transações virtuais dos canais digitais estão modificando não somente a relação com os clientes, mas principalmente em relação à categoria bancária.
O emprego da categoria tem sido afetado pela tecnologia da internet e mobile banking (operações bancárias realizadas em aparelhos celulares, principalmente smartphones para pagamentos ou contratação de produtos financeiros, como crédito). Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que, em 2011, 38% das transações bancárias eram realizadas nos canais digitais, percentual que saltou para 57% em 2016.
Na contramão desse crescimento, as transações realizadas nos canais tradicionais (agências, terminais de autoatendimento, contact centers e correspondentes bancários) caíram de 46% para 33% no mesmo período.
E a perspectiva, não é nada animadora para os bancários. A continuar essa curva ascendente de uso dos canais digitais, o emprego da categoria será ainda mais ameaçado.
Entre os anos 1990 e 2001, o setor bancário brasileiro experimentou redução de 46% nos números de postos de trabalho. Situação que foi atenuada até 2012, com o aumento de 30% no saldo de emprego bancário. Porém, no ano seguinte, 4.329 postos foram fechados, acentuando-se a partir daí uma tendência que em 2016 chegou à eliminação de 47.233 vagas.
E num nível de maior detalhamento, os dados coletados pelo Dieese revelam que do ponto de vista da participação das ocupações, os escriturários de banco foram os mais atingidos, com redução de 15.654 postos de trabalho, passando de 20.368 para apenas 4.708 trabalhadores, queda de 77% no período compreendido entre 2003 e 2015. Ou seja, a participação dessa ocupação nos bancos caiu de 8,9%, em 2003, para 1,8% do total de trabalhadores, em 2015.
Outra função esvaziada é a de caixa, como bem coloca o Dieese, com a perda da importância das formas tradicionais de atendimento e o aumento da participação dos canais digitais na realização das transações bancárias. Os profissionais dessa área tinham participação de 20,4%, em 2003, passando para 15,8% em 2015.
O Dieese também identifica que essas transformações tecnológicas em curso no setor bancário também têm afetado o próprio sindicalismo. Isso porque o fato de as transações estarem sendo realizadas em um ambiente externo, fora das agências, tende a fragmentar ainda mais as categorias profissionais, deixando os trabalhadores divididos em muitas categorias distintas (bancários, comerciários, processamento de dados etc.).
Por conseguinte, essa fragmentação, pulverização dos trabalhadores e de crise das entidades de representação coletiva tem levado o movimento sindical a novos desafios, a buscar se reinventar em relação a suas ações, greves e até mesmo nas negociações.
Como se percebe, a tecnologia, introduzida pelos bancos para facilitar a vida dos clientes, proporcionando aos mesmos que tenham um serviço bancário literalmente na palma da mão, acaba agravando ainda mais um grande problema social que afeta hoje quase 14 milhões de brasileiros, que é o desemprego.

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