Clima

Polícia da Alemanha prepara Hamburgo para protesto anti-G20

Líderes das 20 economias mais poderosas do planeta se reúnem nesta sexta e sábado na cidade alemã; entre eles, a "premiê do clima" Angela Merkel e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37
Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo
Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo ( Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo, que receberá cúpula do grupo)

HAMBURGO - Os líderes das principais economias do mundo se reúnem em Hamburgo, na Alemanha, para a cúpula do G20 sob a ameaça de uma tempestade de protestos.

As ruas desta cidade portuária estão repletas de cartazes repudiando o encontro dos governantes de 19 países e da União Europeia nesta sexta-feira, 7, e sábado, 8.. Um deles resume a mensagem aos visitantes: "Bem-Vindos ao Inferno".

Um dos protestos cita o americano Donald Trump, o turco Recep Tayyip Erdogan e o russo Vladimir Putin, além do brasileiro Michel Temer, como "déspotas, mandatários e seus assistentes" pela organização BlockG20.

Cúpulas do G20 costumam atrair manifestantes anticapitalismo –incluindo os "black blocks", conhecidos por ações violentas e vandalismo. Mas o encontro em Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha, deverá ser especialmente tumultuado: nos anos recentes, o G20 vinha se reunindo em cidades menores ou mais afastadas, por vezes em países sem cultura de protesto.

O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, afirmou que as autoridades preveem manifestações violentas com 8.000 pessoas, além dos milhares que irão a passeatas pacíficas. A segurança do evento ficará a cargo de 20 mil policiais.

"São as pessoas mais poderosas do mundo, mas só querem falar sobre como fazer suas economias crescerem mais rápido", diz Jaime González, do Protestwelle ("onda de protestos"). "Não estão interessados no ambiente ou nos direitos humanos. E o resto do mundo não tem nenhuma chance de influenciar o debate."

Com a Alemanha na presidência rotativa do G20, Merkel não se esquiva daquele que promete ser um tópico controverso. Berlim recentemente estabeleceu sua agenda para a conferência, confirmando o clima global como um dos temas centrais.

"A mudança climática estará no topo da agenda", diz Alois Vedder, diretor do departamento de política da WWF Deutschland. "A questão é: qual pode ser o resultado, depois que os EUA se retiraram do Acordo de Paris? Como os demais outros 19 países vão prosseguir? Eles continuarão a se ater ao acordo e assegurarão que suas metas sejam alcançadas?"

A ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) Christiana Figueres se reuniu a cientistas e líderes empresariais internacionais para compor uma lista de desejos para o G20, publicado como artigo pela revista Nature.

Ele enfatiza seis metas que o G20 estabeleceu para si até 2020, relativas a energia verde, infraestrutura de baixas emissões, transporte, uso de terras, indústria e finanças. O ano 2020 tem grande importância: não só é a primeira oportunidade para os EUA abandonarem o acordo do clima, como também o "ponto sem retorno", a partir do qual, segundo cientistas, se a temperatura global não cair, a meta dos 2ºC se torna praticamente inalcançável.

"Estamos no limiar de poder virar para baixo a curva das emissões de gases-estufa até 2020, como a ciência exige, para proteger as Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e em particular a erradicação da pobreza extrema", afirmou Figueres no comunicado.

Wael Hmaidan, diretor da Climate Action Network (CAN) International, saudou essa análise, dizendo que "caso acordada, ela poderia representar um resultado muito ambicioso e bem-vindo" para a cúpula.

Funil

Parte das manifestações contra o G20 é organizada no Rote Flora, um teatro ocupado por ativistas desde 1989, a centenas de metros do local da cúpula. O bairro, Sternschanze, é conhecido pela dissidência. Um cartaz na porta era claro: "sem imprensa". Entre mesas e uma refeição comunal, ativistas acertavam os últimos detalhes dos protestos.

Panfletos distribuídos ali divulgavam o celular de um advogado e sugeriam, por exemplo, cancelar compromissos nos próximos dias, no caso de serem detidos.

Os manifestantes vão copiar as táticas da polícia, criando um funil e impedindo a passagem dos líderes rumo à cúpula. Como o encontro será realizado no centro da cidade, é fácil cortar os acessos, já em parte limitados pelos trilhos do trem.

Grupos rebeldes pretendem montar mesas de pingue-pongue e telas de cinema na rua, organizando também uma festa "rave". A perspectiva deixa as forças de segurança atentas, segundo a mídia alemã, e já houve confrontos e uma detenção nos dias anteriores.

Em 2001, uma cúpula do mais restrito G8 em Gênova (Itália) terminou em embate entre a polícia e 200 mil manifestantes. Um ativista de 23 anos foi morto.

A cúpula do G20 deste ano se torna mais sensível a protestos também por causa da presença de líderes impopulares como o americano Trump e o turco Erdogan –os guarda-costas do segundo são conhecidos pela truculência contra manifestantes.

Em paralelo aos protestos tradicionais, um coletivo de artistas planeja uma intervenção simbólica na quarta, com a marcha de mil pessoas cobertas de argila, caladas como mortos-vivos.

"Nós nos perguntamos como fazer parte dos protestos, da resistência, de uma maneira artística", diz Rita Kohel, 39, no galpão em uma região industrial de Hamburgo onde o grupo confeccionava centenas de roupas cinzentas. "É a mesma mensagem dos outros grupos, mas não carregamos cartazes."

Em duas semanas, os artistas arrecadaram o equivalente a R$ 90 mil em contribuições para o protesto.

Uma de suas principais críticas é ao modo com que o evento é organizado, sem acesso nem participação da população –como, aliás, é comum em encontros de líderes globais.

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