Coluna do Sarney

Vamos ser compadres

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

A fidelidade do povo maranhense aos santos juninos é não somente uma tradição, mas uma demonstração de fé. Veja-se até hoje como essas devoções tem atravessado séculos: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo. Depois veio agregar-se a veneração a São Marçal. Depois do bairro do João Paulo receber a Avenida São Marçal, a ele coube a responsabilidade de juntá-lo às nossas festas de junho.

Hoje, com as cidades cheias de asfalto e a quantidade de carros ocupando ruas, avenidas e praças, desapareceu o ritual de, em torno da fogueira, aquecidos pelo calor do fogo e da devoção, escolher-se (assim muitas vezes presenciei na minha infância) um amigo querido para ser compadre. E então, de mãos dadas, atravessavam a fogueira e faziam o juramento: “Juro por São Pedro e São Paulo que recebo (dizia-se o nome do escolhido) para ser meu compadre”. O outro respondia o mesmo juramento. Depois eram o abraço e as cantigas de roda em torno da fogueira, com a temática de São João, a mesma das quadrilhas.

São Marçal veio depois, não era Santo do interior, era santo venerado em São Luís. Foi aqui que eu o conheci e incorporei-o aos festejos joaninos, principalmente rumando para São José de Ribamar, onde criou-se a tradição de reunir os Bois para encerrar os festejos.

Como todas as tradições, com o tempo, elementos vão se juntando e depois fazem parte do todo. Assim é que o João Paulo era o limite para os Bois até 1966, sem poderem entrar na cidade porque era “Brincadeira de caboclo”. Eu acabei com isso abrindo-lhes as portas do Palácio dos Leões: ali a noite toda de São João os Bois dançaram e os “caboclos” beberam sua tiquira, que era a bebida de outrora que acompanhava a “pipoca”. Leio que agora ali no João Paulos se reúnem no dia 30 os Bois de matraca e durante o dia mais de 300 mil pessoas participam dos louvores a São Marçal e aos Bois do sotaque de matraca. Quantos anos nosso grupo, eu, Tribuzi, Luís Carlos, Lucy, Floriano, Madeira, Evandro, Domingos Vieira, filho, Cadmo, Pedro Paiva acompanhamos a noite toda o Boi da Maioba, nós de matraca na mão, até o romper do dia quando se cantava a “despedida”: “Adeus, eu já vou me embora / é chegada a hora de partir. / Assim como o dia se despede da noite, / eu me despeço de ti.”

São Marçal foi mandado para a Gália por Décio e Crato para ser Bispo de Limoges, hoje a cidade da França célebre por suas belas louças, e de lá converter a Aquitânia. Uma lenda dizia que tinha sido apóstolo de Cristo, companheiro de Pedro, o que foi desautorizado pela Igreja.

São Pedro foi o apóstolo dos circuncidados (judeus), já Paulo foi designado para pregar aos gentios (Carta os Gálatas) e é um dos maiores consolidadores da doutrina cristã. São João foi o apóstolo dileto e querido, a quem Deus entregou sua mãe Maria, e quem escreveu o mais belo dos Evangelhos e o Apocalipse.

Mas não podemos esquecer que as festas do Boi começam com o batismo no dia de Santo Antônio, 13 de junho, e se encerram no dia 30, de São Marçal.

Você, meu leitor, aceite, em torno dessa fogueira virtual - linguagem de hoje -, ser meu compadre em nome de São Pedro, São Paulo e São Marçal…

José Sarney

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.