Artigo

Noites de junho

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

Estamos novamente festejando Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal.

Em Caxias dos meus tempos de moço, quando os papagaios já haviam vencido os fortes ventos de Maio, os festejos juninos que se seguiam alegravam as noites da cidade e varavam as suas frias madrugadas.

Lembro-me, por exemplo, da Marujada comandada pelo Atanásio, que conheci já bem idoso. Tendo à frente o Joaquim Soldado, envergando uma vistosa e colorida fantasia de adereços diversificados dos pés à cabeça, visitava as residências portando uma escultura em madeira de um animal qualquer, carregado no topo de uma taboa, bicho que tanto podia ser uma cotia como um porco. As manifestações do Divino Espírito Santo também enriqueciam o nosso acervo cultural de valores e crenças.

Tenho algumas preferências pelo bumba-boi, embora não seja um frequentador assíduo dos arraiais onde canta e dança. Acho lindas as dançarinas vestidas de índias, e as toadas; lembro-me de um nosso eficiente colaborador em tempos idos, que gostava de cantar quando ia despachar comigo. Apreciava, como eu, a “Bela Mocidade”, a mais bonita já composta pelo Coxinho, cantador reverenciado pelos ludovicenses.

Voltemos a Caxias dos anos 46 a 54, no mês de junho, onde, com antecedência, moças e rapazes já haviam ensaiado as danças tradicionais da época, destacando-se as Quadrilhas; o grande mestre Othon Cunha -de tradicional família da qual descende a minha inesquecível Conceição- era um exímio dançarino de todos os ritmos, um verdadeiro Fred Astaire.

A Praça Gonçalves Dias se transformava num verdadeiro “campo de guerra” entre os adultos: busca-pés, morteiros, foguetes, além dos inofensivos “estalinhos”, a cargo dos mais jovens, das crianças. O cheiro de pólvora impregnava o ar misturado à fumaça dos artefatos detonados.

E as crendices? Eram muitas: a de que Santo Antônio é casamenteiro; a de que pingos de vela numa bacia com água desenham as iniciais do nome do futuro marido ou esposa; a de que uma faca enfiada na bananeira vem manchada com as letras iniciais daquele ou daquela que virá e ficará para sempre de posse do nosso coração.

Conceição, minha sempre lembrada esposa, garantia que fizera isso! Foram 60 anos de feliz convivência entre namoro, noivado e casamento.

Há pouco mais de dez anos, o destino, pela mão dos homens e mulheres, e em certas circunstâncias, acabou por colocar sob minha responsabilidade velar pela cultura de Caxias, assim como pela educação, o desporto e o lazer. Foram grandes os esforços despendidos em pleitos inclusive submetidos ao Ministério da Cultura.

Tentar recuperar espaços antes palco de manifestações do gênero, como o Teatro Fênix e o que ainda existe no Centro de Cultura; resgatar o que denominamos a História Oral da Cidade; reinstalar uma Biblioteca Pública; dotar a Lira Municipal de novos instrumentos musicais; promover cada vez mais os intelectuais adquirindo seus livros, para acervo das escolas.

Que todos aproveitem e se divirtam em nome da paz e da tranquilidade, a tônica entre os caxienses e ludovicenses amantes das letras, das artes e comprometidos com o bem-estar e o progresso.

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Economista, membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.