Continuidade

Grupos mirins ajudam na formação de novos nomes do São João

Além de se apresentarem nos grupos juninos, crianças participam de cordões criados exclusivamente para elas, o que incentiva a preservação do folclore

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

[e-s001]Dizem que, no Maranhão, o amor aos folguedos juninos vem de berço. Mas não é só o amor, não. A participação também. E tem até grupos formados só por meninos e meninas que desde cedo dão os primeiros passos embalados pelos ritmos juninos. Essas brincadeiras dão verdadeiros celeiros de talentos mirins, preparando os menores para integrarem os grupos tradicionais que fazem a festa do São João maranhense. Mas engana-se quem acha que basta o talento vindo de berço. Para atingir o nível de qualidade, os pequenos têm de se esforçar.

Aos 9 anos, Alef James Gomes Rodrigues é um cantador já referenciado na comunidade da Maioba, onde mora. Ele é integrante do Boizinho Precioso, um grupo junino criado há dois anos por seu pai, Alysson James Ribeiro Rodrigues, 41 anos. “Eu nunca fui integrante de nenhum grupo, mas desde jovem eu acompanho o cordão do Boi da Maioba, tocando matraca. Meu filho já nasceu nesse meio e desde muito pequeno começou a participar”, conta.

Acompanhando o pai no cordão do Boi da Maioba, Alef James Gomes Rodrigues não demorou a se apaixonar pelo som das matracas e a reproduzir os poemas das toadas cantadas pelo batalhão. Assim, ele começou a se apresentar no Boizinho Mirim Sítio Grande, por volta dos 4 anos. “Lá eu gostava de cantar, sempre pedia para me deixarem cantar. Eu cantava uma ou duas toadas, mas o boizinho acabou”, lembra o menino.

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Apelo da comunidade
Como a comunidade já tinha aprovado o jeito de cantar de Alef James, que apesar da pouca idade já demonstrava muito talento, a comunidade começou a pedir a Alysson James Ribeiro Rodrigues que fundasse um boizinho mirim em que Alef e outras crianças da comunidade pudessem se apresentar. “Primeiro eu disse que não iria criar, porque manter um grupo de bumba meu boi dá muito trabalho”, diz. Mas não demorou para ele ceder ao apelo da comunidade e ao desejo do filho de ser cantador.

[e-s001]Em 21 de abril de 2015, fundaram oficialmente o boi e começaram a arrecadar dinheiro para comprar os instrumentos e as indumentárias. Em agosto do mesmo ano, ocorreram os primeiros ensaios e no ano passado veio a primeira apresentação, no arraial do Itapera, comunidade vizinha à Maioba. O Boizinho Precioso, sotaque de matraca, como seu inspirador, Maioba, tem 30 integrantes de 3 a 14 anos e Alef James Gomes Rodrigues como seu cantador.

Alef James conta que está seguindo os passos da família. “Na minha família, todo mundo é boieiro, desde meu tataravô. Todo mundo cresceu no barracão da Maioba. Foi com Maioba que eu aprendi a balançar o maracá e tomar o gosto por cantar as toadas”, conta.

O menino já decidiu que ser cantador é sua vocação. “Eu não pretendo parar de cantar. A comunidade me aplaude quando eu canto e isso me incentiva muito. Se depender de mim, vou cantar até morrer, porque é isso que eu gosto de fazer”, afirma.

Barriquinha
Outro grupo criado exclusivamente para mostrar o talento infantil é o Barriquinha. Com 27 anos de fundação e 68 integrantes de 6 a 12 anos, a brincadeira surgida na Madre Deus é atração garantida em diversos arraiais privados da cidade. O sucesso do grupo e o talento das crianças é tamanho que muitos bailarinos que hoje integram diferentes grupos de bumba meu boi (incluindo o Boizinho Barrica) e outras manifestações, são provenientes do grupo. “O nosso grande objetivo, na verdade, é manter vivo o folclore maranhense, incentivando as crianças”, informa Antônio Madeira, coordenador-geral do Barriquinha.

Mas para fazer parte do cordão é preciso se esforçar. Depois da seleção (feita geralmente após o Carnaval), tem início uma maratona de ensaios, aos quais nem mesmo as mães têm acesso. E para que tudo saia perfeito, a cada ano as mães dos bailarinos se dedicam ao bordado das indumentárias, confeccionadas, a exemplo do Boizinho Barrica, com palha de buriti e tecido. “Os pais e padrinhos das crianças são os maiores patrocinadores do Barriquinha”, conta Antônio Madeira.

Este esforço todo geralmente é bem recompensado. Os aplausos ao final de cada apresentação coroam de êxito o trabalho do grupo, que é sempre convidado a se apresentar nos principais arraiais da cidade, além de festas em escolas públicas e particulares e residências. Além disso, os mirins realizam ainda um trabalho social fazendo shows em hospitais e casa de saúde. Ao contrário do que muita gente pensa, o Barriquinha não tem vínculo institucional nem financeiro com a Companhia Barrica.

SAIBA MAIS

O que diz a legislação sobre a participação de crianças em grupos juninos?

Segundo a legislação, a partir de 6 anos o menor pode se apresentar nos arraiais juninos. Para isso, o representante da brincadeira precisa solicitar na Divisão de Proteção Integral à Crianças e ao Adolescente (DPI) alvará judicial que autoriza a participação de crianças de 6 a 12 anos incompletos; quanto aos adolescentes (12 a 17 anos), as autorizações são efetivadas pelos pais e deverão ser apresentadas nas fiscalizações. As apresentações também têm limite de horário. Não devem ultrapassar o horário da meia-noite, no caso de crianças de 6 a 11 anos, e sem ressalva de horário no caso de adolescentes. Se durante as fiscalizações forem constatadas irregularidades, após a lavratura do auto de infração pela equipe de comissários, o processo poderá ensejar multa de 3 a 10 salários mínimos. Os pais podem ser destituídos do poder familiar nos casos mais graves e após o devido processo legal. As fiscalizações são realizadas durante o período de festas juninas nos arraiais da cidade. Em 2017, foram solicitados 35 alvarás, em São Luís.

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