Reforma do Ensino Médio

“Pela primeira vez, será disciplinado o que será ensinado”, diz educador

Ademar Celedônio, que esteve em São Luís para participar de palestra, acredita que nova lei irá ajudar a contornar o que chama de educação enciclopédica, que ensina muito conteúdo com pouca aplicabilidade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Ademar Celedônio fez palestra em São Luís esta semana
Ademar Celedônio fez palestra em São Luís esta semana (ademar celedonio h)

Os caminhos para a implantação da reforma do ensino médio ainda deixam educadores e gestores em dúvida. Para o educador Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Plataforma de Educação, a reforma traz um modelo mais alinhado com os países desenvolvidos, ao flexibilizar as trajetórias escolares e incluir a opção pela formação profissional.

Ele esteve em São Luís, na segunda-feira, para proferir a palestra “Reforma do Ensino Médio: Um Cenário de Mudanças”, durante o IV Seminário de Líderes Educacionais, promovido pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Maranhão (Sinepe/MA), e conversou com O Estado.

Foi uma boa reforma?

A forma como foi conduzida que causou a polêmica, pois foi um projeto de medida provisória, mas existia um projeto de lei desde 2013, que nunca avançava. A reforma era necessária, porque todos os indicadores de performance brasileiros não foram atingidos.

O que a base propõe é ter um requisito mínimo de conteúdos, que vão pautar os exames nacionais e os vestibulares. Pela primeira vez, será disciplinado o que será ensinado.

A reforma faz uma aproximação entre o aluno, não só com o mercado de trabalho, mas com as vivências, o que é importante para aplicabilidade no futuro. Traz protagonismo às salas de aula, faz com que os alunos participem mais da construção do saber.

Mas essa ideia de ensino mais tecnicista é criticada.

Temos que respeitar esta posição. Mas é o que as sociedades do mundo todo praticam, onde se estuda essencialmente matemática, a língua mãe e se dá alguma coisa de formação técnica para jovens de 16/17 anos, para que ele comece a ter gosto por uma orientação profissional. A intenção é também levar para que a pessoa faça descobertas.

É isso que o novo ensino médio propõe. A escola, além do conteúdo, vai ter que dar as chamadas trilhas do conhecimento. A escola vai começar a oferecer células de conhecimento para que a criança comece a perceber o que ela gosta e faça a primeira descoberta profissional. O que se propõe hoje no Brasil são as melhores práticas do mundo. Que é melhor ter menos conteúdo e mais prática no ensino médio, já preparando o aluno para a universidade e para o seu campo profissional.

Alguns estudantes acham cedo ter de decidir ainda no primeiro ano o itinerário para seguir. Isso pode ser um complicador?

No ensino médio todo, o aluno poderá escolher várias áreas. No primeiro ano, ele pode escolher a trilha de artes. Na segunda série, de física. Ele pode escolher mais do que um itinerário formativo durante todo o ensino médio.

Para as escolas públicas, o processo será mais complexo?

O desafio será maior para o governo. Cerca de 5% dos municípios do Rio Grande do Sul têm apenas uma escola de ensino médio, mas 35% dos municípios de Alagoas têm apenas uma escola desse nível. Essa única escola deverá ensinar as cinco trilhas do conhecimento. Apesar de que não são obrigadas a dar todas as trilhas. Não tenho dúvida de que as escolas particulares vão se adaptar rápido, até por uma questão de sobrevivência de mercado. O desafio será forte para o ensino público.

Existe a possibilidade de a escola pública ser a única a oferecer o itinerário “formação técnica e profissional”?

É provável que a gente tenha um número menor de escolas particulares oferecendo o ensino profissionalizante e um número maior de escolas públicas não oferecendo as outras trilhas do conhecimento e sim a formação técnica.

O que é muito relevante na sociedade hoje é que não há respeito pela profissionalização técnica. Há um preconceito muito grande. Em outra sociedades, a graduação não quer dizer muita coisa frente ao ensino profissionalizante.

As escolas particulares vão acabar aumentando o valor da anuidade para manter a estrutura?

Se a escola não souber fazer um bom trabalho de gestão, ela poderá quebrar. Mas existe uma coisa: as escolas já trabalham hoje com cargas horárias muito maiores do que a lei está pedindo. Hoje, o Brasil pede 800 horas e que, em 5 anos, chegue a 1.000, com o propósito que chegue a 1.400. O que já é bem próximo da meta. Então, o que a escola precisa é de organização, porque ela já tem esse custo estabelecido hoje.

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