BUENOS AIRES - Morreu na manhã de ontem, aos 92, Ernestina Herrera de Noble, diretora do jornal "Clarín" nas últimas cinco décadas e acionista do conglomerado de mídia Grupo Clarín, um dos maiores da América Latina.
Herrera de Noble assumiu a função em 1969, logo após a morte de seu marido, o fundador do diário, Roberto Noble. Transformou-se, assim, na primeira mulher a dirigir um jornal de grande circulação na região.
Sob seu comando, o Grupo Clarín se transformou no principal da Argentina e multiplicou suas atividades em várias plataformas: TV aberta e a cabo, internet e rádios.
Hoje, o jornal em papel tem uma circulação de 240 mil cópias, e seu site recebe 8 milhões de visitantes por dia, sendo o terceiro veículo em espanhol mais lido na internet.
A principal fonte de recursos do grupo, porém, vem da TV paga (Cablevisión) e do serviço de provedor de internet (Fibertel).
Em uma de suas raras entrevistas, em 1990, Herrera de Noble disse que o "Clarín" identificava-se "com o argentino e a argentina que lutam para chegar ao fim do mês, com os que têm dois empregos para dar uma boa educação a seus filhos, com a mulher que abre mão de ter um vestido para fazer a festa de 15 anos da filha e com o senhor idoso que se esforça para estudar de noite".
Avessa a falar com a imprensa, Herrera de Noble repetia que os jornalistas "não deveriam ser notícia".
Quanto à linha editorial do jornal, a definia como "independente, objetiva e imparcial, não sujeita a condicionamentos". Tendo como principal rival o "La Nación", cuja circulação hoje é de 150 mil cópias diárias, o "Clarín" foi sempre pioneiro em reformas gráficas e do formato da página web.
Briga com Cristina
Apesar disso, a relação do diário com o poder nem sempre foi homogênea. Se a partir da redemocratização, passou a levantar a bandeira da defesa dos direitos humanos, o "Clarín" por outro lado não noticiava a violência de Estado cometida durante a ditadura militar (1976-1983).
Já nos anos Carlos Menem (1989-1999) e na gestão Néstor Kirchner (2003-2007), o "Clarín" primeiro adotou uma linha editorial favorável a ambos os mandatários. Recebeu deles concessões até se transformar no grupo midiático que hoje possui, além do principal jornal, a principal emissora de TV aberta, a principal empresa de cabo e a de internet, além de rádios e revistas.
Passados os primeiros anos de ambos os mandatos, porém, o jornal adotou uma posição de oposição às duas gestões. Seu momento de maior enfrentamento com o governo, porém, foi durante o mandato de Cristina Kirchner (2007-2015).
Após o jornal se posicionar a favor dos produtores rurais contra um imposto agrário criado pela presidente, em 2008, a Casa Rosada começou uma série de políticas visando estrangular a publicação financeiramente –pressionando anunciantes a não publicar publicidade em suas páginas e formulando uma Lei de Mídia, que obrigou o Clarín a desfazer-se de parte de suas empresas.
Ao mesmo tempo, Cristina fazia críticas abertas ao jornal em seus discursos, celebrando o refrão "Clarín mente", até hoje entoado nas manifestações kirchneristas.
O "Clarín" respondeu ao assédio adotando uma política editorial dura contra Cristina. O governo, por sua vez, respondeu acirrando as suspeitas, já levantadas antes por organizações de direitos humanos, de que os dois filhos adotivos de Herrera de Noble, Marcela e Felipe, poderiam ser filhos de desaparecidos.
Após anos de pressão judicial, em que ambos foram levados a fazer um exame de DNA contra sua vontade, a saga teve fim. O resultado foi uma derrota para o governo, uma vez que concluiu que Marcela e Felipe não eram filhos de desaparecidos.
Nos últimos anos, Herrera de Noble, uma das quatro acionistas que hoje controlam o Grupo, havia se afastado do cotidiano do jornal, mas seguia em contato diário com seus editores.
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