Perda

Diretora do jornal ''Clarín'' morre aos 92 na Argentina

Ernestina Herrera de Noble era acionista do conglomerado de mídia Grupo Clarín, um dos maiores da América Latina

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38

BUENOS AIRES - Morreu na manhã de ontem, aos 92, Ernestina Herrera de Noble, diretora do jornal "Clarín" nas últimas cinco décadas e acionista do conglomerado de mídia Grupo Clarín, um dos maiores da América Latina.

Herrera de Noble assumiu a função em 1969, logo após a morte de seu marido, o fundador do diário, Roberto Noble. Transformou-se, assim, na primeira mulher a dirigir um jornal de grande circulação na região.

Sob seu comando, o Grupo Clarín se transformou no principal da Argentina e multiplicou suas atividades em várias plataformas: TV aberta e a cabo, internet e rádios.

Hoje, o jornal em papel tem uma circulação de 240 mil cópias, e seu site recebe 8 milhões de visitantes por dia, sendo o terceiro veículo em espanhol mais lido na internet.

A principal fonte de recursos do grupo, porém, vem da TV paga (Cablevisión) e do serviço de provedor de internet (Fibertel).

Em uma de suas raras entrevistas, em 1990, Herrera de Noble disse que o "Clarín" identificava-se "com o argentino e a argentina que lutam para chegar ao fim do mês, com os que têm dois empregos para dar uma boa educação a seus filhos, com a mulher que abre mão de ter um vestido para fazer a festa de 15 anos da filha e com o senhor idoso que se esforça para estudar de noite".

Avessa a falar com a imprensa, Herrera de Noble repetia que os jornalistas "não deveriam ser notícia".

Quanto à linha editorial do jornal, a definia como "independente, objetiva e imparcial, não sujeita a condicionamentos". Tendo como principal rival o "La Nación", cuja circulação hoje é de 150 mil cópias diárias, o "Clarín" foi sempre pioneiro em reformas gráficas e do formato da página web.

Briga com Cristina

Apesar disso, a relação do diário com o poder nem sempre foi homogênea. Se a partir da redemocratização, passou a levantar a bandeira da defesa dos direitos humanos, o "Clarín" por outro lado não noticiava a violência de Estado cometida durante a ditadura militar (1976-1983).

Já nos anos Carlos Menem (1989-1999) e na gestão Néstor Kirchner (2003-2007), o "Clarín" primeiro adotou uma linha editorial favorável a ambos os mandatários. Recebeu deles concessões até se transformar no grupo midiático que hoje possui, além do principal jornal, a principal emissora de TV aberta, a principal empresa de cabo e a de internet, além de rádios e revistas.

Passados os primeiros anos de ambos os mandatos, porém, o jornal adotou uma posição de oposição às duas gestões. Seu momento de maior enfrentamento com o governo, porém, foi durante o mandato de Cristina Kirchner (2007-2015).

Após o jornal se posicionar a favor dos produtores rurais contra um imposto agrário criado pela presidente, em 2008, a Casa Rosada começou uma série de políticas visando estrangular a publicação financeiramente –pressionando anunciantes a não publicar publicidade em suas páginas e formulando uma Lei de Mídia, que obrigou o Clarín a desfazer-se de parte de suas empresas.

Ao mesmo tempo, Cristina fazia críticas abertas ao jornal em seus discursos, celebrando o refrão "Clarín mente", até hoje entoado nas manifestações kirchneristas.

O "Clarín" respondeu ao assédio adotando uma política editorial dura contra Cristina. O governo, por sua vez, respondeu acirrando as suspeitas, já levantadas antes por organizações de direitos humanos, de que os dois filhos adotivos de Herrera de Noble, Marcela e Felipe, poderiam ser filhos de desaparecidos.

Após anos de pressão judicial, em que ambos foram levados a fazer um exame de DNA contra sua vontade, a saga teve fim. O resultado foi uma derrota para o governo, uma vez que concluiu que Marcela e Felipe não eram filhos de desaparecidos.

Nos últimos anos, Herrera de Noble, uma das quatro acionistas que hoje controlam o Grupo, havia se afastado do cotidiano do jornal, mas seguia em contato diário com seus editores.

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