Problema natural

Infestação de mosquitos causa transtornos na Lagoa e entorno

Tipo é aparentemente inofensivo, não transmite doenças, mas tem provocado uma série de transtornos às comunidades que vivem às margens da Lagoa

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Água da Lagoa está represada, o que estaria causando a infestação
Água da Lagoa está represada, o que estaria causando a infestação

SÃO LUÍS - Um desequilíbrio ambiental, ocasionado por obra realizada pelo Governo do Estado (por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura) de troca da comporta da Lagoa da Jansen, estaria causando, nas últimas semanas, uma infestação de mosquitos que invadem as residências situadas às margens da reserva natural. Apesar de considerados inofensivo, ou seja, não transmitir doenças, os insetos têm provocado uma série de transtornos aos moradores e, em alguns casos, ocasionando coceira e alergia.

Morador da Lagoa mostra o teto tomado por mosquitos (detalhe); eles também estão nas paredes e em móveis
Morador da Lagoa mostra o teto tomado por mosquitos (detalhe); eles também estão nas paredes e em móveis

Segundo estudo técnico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) sobre o assunto, os mosquitos (que predominantemente têm hábitos noturnos) são da família Chironomidae, cujas larvas se desenvolvem em ambientes aquáticos e com grande quantidade de sedimentos. Com os serviços de troca da comporta, a água - que antes obedecia a um ciclo contínuo entre a Lagoa da Jansen e o mar para minimizar o acúmulo de sedimentos que causam mau cheiro no local - está temporariamente represada, o que contribui para a concentração maior de substâncias prejudiciais à saúde e, em consequência, para a proliferação das larvas do mosquito.

Outro fator apontado para o agravamento do problema são os índices pluviométricos, que alteraram a concentração de sal na água da Lagoa da Jansen. Com a intensificação das chuvas, nos primeiros meses do ano, a água da reserva natural está mais salobra, o que também atrai larvas do mosquito e contribui para a sua evolução.

De acordo com o biólogo da UFMA José Mendes Macário, apenas a finalização dos serviços da Sinfra no local evitaria a propagação em massa dos mosquitos. “Não há outra solução, pois está havendo um claro desequilíbrio ambiental na região, que somente cessará quando a água puder efetuar o seu ciclo normal”, afirmou.

Segundo ele, a disseminação em excesso dos mosquitos chama a atenção para a problemática da poluição da Lagoa da Jansen. “Se não houvesse sujeira ou acúmulo de sedimentos no local, mesmo com a obra é muito possível que este problema não aconteceria”, afirmou o biólogo.

Monte de mosquito retirado por morador de uma residência
Monte de mosquito retirado por morador de uma residência

Transtornos

A grande quantidade de mosquitos é vista, em especial, na Rua Pedro Neiva de Santana, no São Francisco. A via tem pelo menos 50 casas e a maior parte delas está a poucos metros da Lagoa da Jansen. O Estado esteve na noite de quinta-feira, 25, no local e constatou que, atraídos pela luz das lâmpadas e televisões ligadas, os mosquitos invadem as casas, transformando o simples hábito de permanecer no interior da residência em verdadeiro martírio. Se durante a noite o transtorno é a presença dos mosquitos, durante o dia, o problema é outro: os mosquitos, desorientados, morrem e ficam expostos no chão dos imóveis.

De acordo com o aposentado Sebastião Pereira, a situação dos mosquitos é considerada a mais grave das últimas três décadas. “Eu moro há 30 anos aqui nesta mesma casa e nunca tinha visto uma situação semelhante”, disse na entrada de sua casa e rodeado por mosquitos. Para evitar a invasão dos insetos, os moradores encontraram algumas soluções, como comprar mosquiteiros, inseticidas e, até mesmo, desligar as luzes da casa. “Aqui em casa é somente assim, ou seja, tudo desligado”, disse o aposentado.

O mecânico Eduardo Lopes, também morador de comunidade situada às margens da Lagoa da Jansen, disse que a situação é prejudicial à população. Ele mostrou os móveis de sua residência cobertos por uma “camada” espessa de mosquitos. “Como é que a gente vai se deitar aqui em casa deste jeito? ”, indagou. Ele informou que os mosquitos causam, ao terem contato com a pele, coceira.

Não há outra solução, pois está havendo um claro desequilíbrio ambiental na região, que somente se cessará quando a água puder efetuar o seu ciclo normal”José Mendes Macário, biólogo da UFMA

Saiba mais

De acordo com estudos sobre o mosquito, somente no Maranhão, podem ser encontradas até 180 espécies de Chironomidae. Além do Maranhão, outros estados como o Pará, Amazonas, Acre e Roraima também possuem presença maciça do mosquito. Em todo o país, existem 308 espécies de Chironomidae. Embora haja algumas espécies terrestres, semi-terrestres e marinhas, a maioria das larvas deste mosquito vive em ambientes de água doce.

Outro lado

Apesar da gravidade do problema, de acordo com a Sinfra, a propagação dos mosquitos deve ocorrer nos próximos meses. Segundo a pasta, o prazo final para a conclusão da troca da comporta é até outubro deste ano. Em nota, a Sinfra informou que promove serviços em quatro etapas. O Governo do Estado informou ainda que a responsabilidade sobre os mosquitos, neste caso, era da Prefeitura de São Luís – por meio da Vigilância Sanitária Municipal que, até o fechamento desta edição, não se pronunciou sobre o assunto.

Nota da Sinfra

A Secretaria de Estado da Infraestrutura (Sinfra) informa que está realizando serviços na comporta da Lagoa da Jansen em quatro etapas: a primeira, que está em fase de conclusão, é a retirada das infiltrações; na segunda etapa, será feito o selamento das emendas danificadas; na terceira fase, a Sinfra vai refazer a comporta e, para concluir os serviços, será feita a urbanização do entorno. A fonte do recurso é do Tesouro Estadual e tem prazo para conclusão para o final de outubro.

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