Além da diversão

Brincadeira de criança ajuda no desenvolvimento em toda idade

Constatação é do movimento internacional “Aliança pela Infância”, que realiza este mês a Semana Mundial do Brincar; especialistas recomendam

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38

SÃO LUÍS - Pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, telefone sem fio, rouba-ban­deira... De quantas brincadeiras você consegue lembrar ao pensar da época da infância? As brincadeiras podem até ter mudado ao longo dos anos, mas algo permanece inalterado: o gosto pelo ato de brincar que todo menino e menina tem. O que muitos pais desconhecem ou parecem não perceber é que brincar é muito mais que mera distração ou diversão. Brincando, os pequeninos descobrem o mundo, formam e fixam valores importantes na formação da personalidade.

A constatação é do movimento internacional “Aliança pela Infância”, que realiza este mês a Semana Mundial do Brincar. A iniciativa surgiu como forma de favorecer uma infância plena ao redor do planeta, a fim de se melhorar as sociedades a partir das crianças. A organização se baseia em princípios psicopedagógicos, sociais e neurológicos para criar as ações.

O neuropediatra Paulo Martins, do Hapvida Saúde, diz que a brincadeira e a infância são diretamente associadas porque é no início da vida, com tantas descobertas, que a mente humana mais exercita a imaginação como forma de entender e compreender o mundo. “Brincando, as crianças reproduzem aquilo que veem e tentam compreender o mundo que as rodeia”, revela o estudioso.

Liberdade
A psicóloga Joelina Abreu, também do Hapvida, explica que o ato de brincar pode moldar completamente a personalidade e direcionar alguns valores que as crianças vão carregar para o resto da vida, a partir da infância. “Por isso, criança que não brinca tende a se tornar um adulto com dificuldade de relacionamento por causa da dificuldade de se expressar, expressar o que sente e o que pensa”, esclarece a profissional.

A especialista recomenda que os pais favoreçam a brincadeira dentro e fora de casa, mas alerta que as famílias não confundam esses momentos de brincar com o consumismo, o que é muito prejudicial. “Se os pais apenas encherem as crianças de brinquedos, vão dar a elas a impressão de que tudo é descartável, levando os filhos a reprodução desse comportamento nas outras fases da vida, como a adolescência e a idade adulta”, aponta Joelina.

Uma forma interessante de brincar é oferecer desafios a serem superados com a cognição
Uma forma interessante de brincar é oferecer desafios a serem superados com a cognição


Sem idade
Muitos terapeutas ao redor do mundo lançam mão da brincadeira como forma de incentivar os pacientes, nos consultórios, a criarem soluções para problemas que enfrentam. “Isso se dá porque, ao brincar, o ser humano monta uma espécie de maquete da própria vida e, assim, consegue enxergar de cima. Aí fica fácil ver onde está o incômodo e dar um jeito”, revela a psicóloga.

Mas calma, não é que os pacientes estejam brincando de esconde-esconde embaixo do divã, nada disso. As brincadeiras em questão procuram explorar o lado lúdico dos jogos de imaginação, por exemplo, o que estimula a criatividade. “Pessoas que tiveram uma infância sem traumas e aproveitaram a primeira fase da vida com muitas brincadeiras tendem a ser mais proativas e visionárias justamente por causa desse incentivo que mexe com todo o cérebro”, afirma Joelina.

Esconder e dirigir
Uma forma interessante de promover a brincadeira com a criançada é oferecendo desafios que possam ser superados com a cognição. “Por exemplo: esconder um objeto na sala de casa e dar dicas para a criança, com noções matemáticas de direita e esquerda, para cima e para baixo, etc. Ela vai aprender muito, ao mesmo tempo em que se diverte e estreita os laços com os parentes”, recomenda a psicóloga do Hapvida.

Organização
Outra ideia é reservar um ambiente calmo e tranquilo, que deixa a criança livre para escolher o que verdadeiramente quer fazer. Quando ela encontra, então se concentra. Um espaço organizado, sem tantos brinquedos jogados, estimula a criança a brincar muito mais do que se o lugar estiver uma bagunça, com brinquedos por todos os lados, o que dificulta a visualização e a escolha da criança.

Música
É interessante também fazer com que a música seja restringida apenas aos encontros musicais. Assim, quando ela não for o elemento principal da brincadeira, o silêncio do ambiente é a escolha.
“Sem distrações secundárias, a criança pode brincar sozinha por alguns segundos, depois alguns minutos, até um tempo considerável para cada idade”, sugere a especialista.

Sozinha
A psicóloga Joelina Abreu também ressalta que brincar sozinha não necessariamente é estar sozinha. A criança tem necessidade de estar sozinha para se sentir livre no exercício do criar. Os adultos não precisam fazer uma narração constante da brincadeira nem se preocupar em ajudar em momentos que as crianças não querem ajuda. “Se os pais precisam de ambiente organizado, limpo e silencioso para trabalhar, pensar ou criar, por que com a criança seria diferente?”, pondera a especialista.
Foi exatamente essa questão que a contadora Danieli Morais Lobo levantou quando organizou o quarto da filha Júlia, de 4 anos. “Eu organizei quase tudo ao alcance dela para que essa autonomia a ajude em diversos momentos. Acho que, quando a gente parar de reproduzir comportamentos sociais comuns e olhar nosso filho como um indivíduo único, a gente deixa de se sentir líderes imprescindíveis para tudo relacionado à criança e passa a ser uma companhia desejada no momento e na medida certa”, orgulha-se Danieli Lobo.

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