FORTALEZA - Longe dos grandes centros de moda do país, a produção de moda no Nordeste vem ganhando visibilidade no DFB Festival, nome atual do antigo Dragão Fashion Brasil, que foi rebatizado para ampliar o número de expressões artísticas para além da moda.
Realizado em Fortaleza há 18 anos, longe de ser considerado um evento exclusivamente regional, ele valoriza a produção de moda e lança tendências e estilo para o resto do Brasil. A programação começou na quarta-feira e será encerrada neste sábado. Na passarela, os destaques são para novos e veteranos estilistas e também proporciona espaço para música, rodada de negócios, palestras e workshops.
Nesta temporada, a principal tendência proposta pelos estilistas é a mescla de estilos e também de se apoderar da moda para criar a sua identidade. Na passarela, entre conceitos e coleções mais comerciais, as transparências, cores fortes e uma atitude mais agressiva de encarar o atual momento do país dialogaram harmonicamente com o romantismo dos vestidos longos com brilhos e transparências.
Porém, o que ficou evidente nesta temporada são conceitos cada vez mais urbanos, leves, acompanhando o ritmo dos acontecimentos e a vontade de se colocar no mundo. Um exemplo disso foi o desfile apresentado pelo Babado Coletivo, uma junção de grifes que fez uma moda desconstruindo padrões entre o que vem a ser roupa feminina e masculina. Com transparências, muitos tons de vermelho, o desfile foi um dos mais marcantes da temporada, por trazer questões como feminismo para serem discutidas dentro do ambiente da moda, estereotipado por padrões estéticos e ditadura da beleza
Homens e mulheres (cis e trans), mostraram peças que brincam com o conceito entre masculino e feminino e desmistificam rótulos. Em uma sociedade que o debate, apesar de antigo, se renova na contemporaneidade, é importante levantar essa bandeira dentro do universo da moda. Esse foi um dos destaques do evento.
Urbano
O lado urbano também esteve presente no trabalho do estilista potiguar Wagner Kallieno. No desfile, Kallieno mostrou uma nova faceta em seu estilo, apesar de ainda ter transparências, o estilista levou uma atitude para o desfile, com peças versáteis e com referências de elementos como a essência do punk, além de sutilmente versar sobre questões de preconceito racial.
A mesma pegada foi apresentada pelo estilista Caio Nascimento, vencedor do concurso Ceará Moda Contemporânea do ano passado. Em uma coleção inspirada na poética italiana, ele equilibrou tecidos leves com cores fortes.
Outro destaque foi o estilista Kallil Nepomuceno, que utilizou jeans e vestidos leves inspirados nos anos 1970 e 1980, clássicos da moda que constantemente são revisitados de diversas formas por estilistas.
Artesanal
Uma característica do Nordeste são as peças confeccionadas a partir do trabalho artesanal e elas continuam fortes em trabalhos como a grife baiana Villô Ateliê que levou tramas, crochê e rendas para a passarela, o estilista Lúcio Áureo Saldanha que com o desfile “Tramas & Sonhos” que levou ao desfile diversas técnicas de confecção artesanal para um desfile inspirado na obra de Clarice Lispector, aplicação de bordados e mistura de materiais deu um tom mais urbano ao trabalho de tessitura artesanal.
Essa mesma proposta veio na utilização da renda renascença em alguns desfiles, a grife Rendá, assinada pela estilista Camila Arraes, que misturou rendas com outros materiais como couro, além de modelagens mais contemporâneas como saídas de praia e macacãos longos, deram um novo toque para uma tradição nordestina e que é muito forte no Ceará.
Novos talentos
A valorização da essência nordestina esteve no concurso Ceará Moda Contemporânea, promovido durante a realização do DFB Festival. Desfilaram oito estilistas que trouxeram referências do árido sertão nordestino e de personagens como o vaqueiro, o cangaço de Maria Bonita e Lampião e o cotidiano das renderias estiveram entre os desfiles que empolgaram a plateia e teve como vencedor o estilista Akihito Hira que apostou no vaqueiro moderno em peças de alfaiataria.
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