Depredação

Azulejos estão sumindo cada vez mais de casarões

Furtos, vandalismo e falta de conservação são as principais causas do desaparecimento das peças. Situação contribui para a degradação do Centro Histórico da cidade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Azulejos históricos são retirados da fachada de imóveis coloniais
Azulejos históricos são retirados da fachada de imóveis coloniais (azulejos)

SÃO LUÍS - Em dezembro de 1997, São Luís ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em virtude do seu belíssimo conjunto arquitetônico, datado da época da colonização portuguesa. Se fosse hoje, quase 20 anos depois, talvez a capital maranhense não fosse contemplada com esse reconhecimento, tendo em vista o abandono em que se encontram os casarões do Centro Histórico. A azulejaria desses imóveis, que ainda preservam um pouco da história, está cada vez mais desaparecendo das fachadas desses prédios.

A cidade é conhecida por ter os imóveis no Centro Histórico revestido com os mais belos azulejos. As peças, grande parte delas de origem portuguesa e datadas dos séculos XVIII, XIX e XX, carregavam consigo a história viva da colonização e formação da capital maranhense. Porém, tais informações estão se perdendo e ficando gravadas apenas nos livros.

Desaparecimentos
Imóveis localizados nas ruas Gran­de, de Santana, do Sol, dos Afogados, das Hortas, do Passeio, do Giz, do Egito, entre outras vias, eram revestidos pelo conjunto de azulejos. Hoje, são poucos os prédios que ainda mantêm em sua fachada o revestimento completo da azulejaria portuguesa.

O Estado percorreu algumas ruas do Centro Histórico da cidade e mais uma vez constatou que as fachadas dos casarões coloniais estavam cada vez mais depredadas e com a ausência dos azulejos.
Em um casarão de número 423 localizado na Rua Rio Branco, várias partes da fachada já não estão mais cobertas pelos azulejos, deixando exposto apenas o reboco. Nos espaços em que ainda há as peças, elas estão frágeis e com facilidade caem ou podem ser retiradas. A mesma situação também pode ser observada em imóveis localizados na Rua do Sol.

Já na Rua da Palma, no imóvel de número 364 B, apenas poucos azulejos de alto-relevo permanecem cobrindo a fachada do prédio. Em outro prédio também localizado na mesma via, mas de número 37 C, o espaço deixado pelos azulejos foram completados por réplicas, trabalho esse feito por restauradores que atuam no Centro Histórico com o intuito de trazer de volta as antigas características do casario colonial.

Causas
O desaparecimento dos azulejos dos prédios históricos de São Luís, juntamente com o abandono e depredação dos imóveis coloniais, é um problema antigo e cada vez mais se intensifica com a falta de ações para mudar essa realidade.

De acordo com Rafael Pestana, coordenador técnico da superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o desaparecimento dos azulejos acontece na maioria das vezes devido a furtos, atos de vandalismo e depredação e ainda pela falta de conservação dos imóveis.

No que diz respeito aos furtos, as pessoas que arrancam as peças das fachadas dos prédios fazem o ato para em seguida vendê-las de forma ilegal por um alto preço. “Nesse caso, abre-se um processo e a Polícia Federal (PF) faz as investigações”, disse. Ele afirmou que a PF já abriu diversos inquéritos para investigar tais condutas, que foram acompanhados pelo Iphan.

“Já quando é um desgaste natural, é feito um laudo para que o proprietário do imóvel faça a recuperação”, disse Pestana, referindo-se ao momento em que há o desprendimento dos azulejos das fachadas por causa da ação do tempo, aliada à falta de conservação.

Para mudar essa realidade, ele chamou atenção para a necessidade de uma mudança no comportamento e na forma de pensar da população, que necessita compreender a importância de preservar a cidade e o seu conjunto arquitetônico.
“É um desrespeito o que acontece com o nosso patrimônio. Deve haver um trabalho de conscientização da importância do patrimônio. Isso evitaria não apenas o furto, mas também os atos de vandalismo”, disse o coordenador técnico do Iphan-MA.

SAIBA MAIS

A maioria dos azulejos que ainda revestem as fachadas de imóveis do Centro Histórico de São Luís é de origem portuguesa e de padrão estampilha. A identificação da procedência é feita observando a marca da fábrica no verso da peça, o que torna o trabalho difícil.
Outros tipos são os de decalcomania, liso, majólica, marmoreado, de relevo, além de cercaduras e frisos. A maioria é disposta nas fachadas, varandas, corredores principais e escadas dos imóveis, assim como capelas e outros ambientes.

Curiosidades sobre os azulejos das fachadas dos imóveis do Centro Histórico de São Luís

- Os azulejos contribuíram para que São Luís recebesse o título da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1997, como Patrimônio Mundial
- São Luís é considerada referência nacional no campo da azulejaria, principalmente na de fachada
- Os azulejos eram usados para isolamento térmico dos imóveis
- Uma das vantagens do uso de azulejos é a durabilidade e facilidade de limpeza
- Os azulejos eram usados em Portugal em palácios, igrejas, monastérios e posteriormente em residências e comércio
- Portugal recebia produtos cerâmicos esmaltados feitos na Espanha, Itália e Holanda e só no final do século XVI passou a confeccionar as peças próprias
- Lisboa, Porto e Coimbra foram as cidades portuguesas responsáveis pela maior parte da produção de cerâmica no século XVIII, sendo que grande parte era enviada para as colônias, entre elas o Brasil
- Os azulejos vinham para o Brasil nos porões dos navios e no retorno eram substituídos por riquezas obtidas em terras tupiniquins

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