SÃO LUÍS - Em dezembro de 1997, São Luís ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em virtude do seu belíssimo conjunto arquitetônico, datado da época da colonização portuguesa. Se fosse hoje, quase 20 anos depois, talvez a capital maranhense não fosse contemplada com esse reconhecimento, tendo em vista o abandono em que se encontram os casarões do Centro Histórico. A azulejaria desses imóveis, que ainda preservam um pouco da história, está cada vez mais desaparecendo das fachadas desses prédios.
A cidade é conhecida por ter os imóveis no Centro Histórico revestido com os mais belos azulejos. As peças, grande parte delas de origem portuguesa e datadas dos séculos XVIII, XIX e XX, carregavam consigo a história viva da colonização e formação da capital maranhense. Porém, tais informações estão se perdendo e ficando gravadas apenas nos livros.
Desaparecimentos
Imóveis localizados nas ruas Grande, de Santana, do Sol, dos Afogados, das Hortas, do Passeio, do Giz, do Egito, entre outras vias, eram revestidos pelo conjunto de azulejos. Hoje, são poucos os prédios que ainda mantêm em sua fachada o revestimento completo da azulejaria portuguesa.
O Estado percorreu algumas ruas do Centro Histórico da cidade e mais uma vez constatou que as fachadas dos casarões coloniais estavam cada vez mais depredadas e com a ausência dos azulejos.
Em um casarão de número 423 localizado na Rua Rio Branco, várias partes da fachada já não estão mais cobertas pelos azulejos, deixando exposto apenas o reboco. Nos espaços em que ainda há as peças, elas estão frágeis e com facilidade caem ou podem ser retiradas. A mesma situação também pode ser observada em imóveis localizados na Rua do Sol.
Já na Rua da Palma, no imóvel de número 364 B, apenas poucos azulejos de alto-relevo permanecem cobrindo a fachada do prédio. Em outro prédio também localizado na mesma via, mas de número 37 C, o espaço deixado pelos azulejos foram completados por réplicas, trabalho esse feito por restauradores que atuam no Centro Histórico com o intuito de trazer de volta as antigas características do casario colonial.
Causas
O desaparecimento dos azulejos dos prédios históricos de São Luís, juntamente com o abandono e depredação dos imóveis coloniais, é um problema antigo e cada vez mais se intensifica com a falta de ações para mudar essa realidade.
De acordo com Rafael Pestana, coordenador técnico da superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o desaparecimento dos azulejos acontece na maioria das vezes devido a furtos, atos de vandalismo e depredação e ainda pela falta de conservação dos imóveis.
No que diz respeito aos furtos, as pessoas que arrancam as peças das fachadas dos prédios fazem o ato para em seguida vendê-las de forma ilegal por um alto preço. “Nesse caso, abre-se um processo e a Polícia Federal (PF) faz as investigações”, disse. Ele afirmou que a PF já abriu diversos inquéritos para investigar tais condutas, que foram acompanhados pelo Iphan.
“Já quando é um desgaste natural, é feito um laudo para que o proprietário do imóvel faça a recuperação”, disse Pestana, referindo-se ao momento em que há o desprendimento dos azulejos das fachadas por causa da ação do tempo, aliada à falta de conservação.
Para mudar essa realidade, ele chamou atenção para a necessidade de uma mudança no comportamento e na forma de pensar da população, que necessita compreender a importância de preservar a cidade e o seu conjunto arquitetônico.
“É um desrespeito o que acontece com o nosso patrimônio. Deve haver um trabalho de conscientização da importância do patrimônio. Isso evitaria não apenas o furto, mas também os atos de vandalismo”, disse o coordenador técnico do Iphan-MA.
SAIBA MAIS
A maioria dos azulejos que ainda revestem as fachadas de imóveis do Centro Histórico de São Luís é de origem portuguesa e de padrão estampilha. A identificação da procedência é feita observando a marca da fábrica no verso da peça, o que torna o trabalho difícil.
Outros tipos são os de decalcomania, liso, majólica, marmoreado, de relevo, além de cercaduras e frisos. A maioria é disposta nas fachadas, varandas, corredores principais e escadas dos imóveis, assim como capelas e outros ambientes.
Curiosidades sobre os azulejos das fachadas dos imóveis do Centro Histórico de São Luís
- Os azulejos contribuíram para que São Luís recebesse o título da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1997, como Patrimônio Mundial
- São Luís é considerada referência nacional no campo da azulejaria, principalmente na de fachada
- Os azulejos eram usados para isolamento térmico dos imóveis
- Uma das vantagens do uso de azulejos é a durabilidade e facilidade de limpeza
- Os azulejos eram usados em Portugal em palácios, igrejas, monastérios e posteriormente em residências e comércio
- Portugal recebia produtos cerâmicos esmaltados feitos na Espanha, Itália e Holanda e só no final do século XVI passou a confeccionar as peças próprias
- Lisboa, Porto e Coimbra foram as cidades portuguesas responsáveis pela maior parte da produção de cerâmica no século XVIII, sendo que grande parte era enviada para as colônias, entre elas o Brasil
- Os azulejos vinham para o Brasil nos porões dos navios e no retorno eram substituídos por riquezas obtidas em terras tupiniquins
Saiba Mais
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