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Para cientistas políticos, embate Lula X Moro abriu campanha eleitoral de 2018

Analistas entendem que esta foi a única conseqüência da audiência de quarta-feira, aguardada com expectativa em todos os segmentos sociais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Lula encarou Moro em depoimento que repercutiu em todo o país
Lula encarou Moro em depoimento que repercutiu em todo o país (Discurso Lula)

BRASÍLIA - A expectativa pelo primeiro encontro entre o ex-presidente Lula e o juiz federal Sérgio Moro era grande, mas parece que não foi atendida. O encontro colocado como "embate", acabou praticamente "neutro", acreditam cientistas políticos de diferentes linhas de pensamento. Para eles, contudo, a sessão de cinco horas e dez minutos serviu para pelo menos uma coisa: alavancar a candidatura petista para 2018.

Frederico de Almeida, professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp, aponta que o depoimento "não traz nada de novo. Do ponto de vista jurídico, então, o professor não espera uma desdobramento imediato. Já no político, Almeida ressalta que havia uma expectativa "muito grande" de que o depoimento causasse um constrangimento para Lula ou para Moro. Criticando a ideia de "embate" criada em torno do encontro de réu e juiz - para ele, algo "lamentável" - o professor aponta que não houve "vencedor", contudo.

Tenho a impressão de que o próprio Moro alimentou a visão do embate, da forma que ele se coloca no debate público, como referência no combate à corrupção”Clarice Gurgel, cientista política

O saldo da mobilização pró-Lula, acredita Almeida, é a "força do Lula em mobilizar". "Acho que a resposta que ele está dando em politizar o processo se dirige à politização que foi criada antes", diz ele.

Moro eleitor

A cientista política Clarisse Gurgel, professora da Unirio, chama a atenção para o fato de que se trata apenas do primeiro depoimento, e que "provavelmente Moro vai pensar muito no que fazer para o segundo". "O que Lula fez foi algo que ele sabe fazer muito bem, que é o princípio estratégico básico da política: transformar ameaça em oportunidade."

"Sem dúvida, a esquerda que estava crítica ao Lula está começando a pegar carona na onda que ele está conseguindo instaurar, de perseguição. O grande eleitor do Lula parece ser o Moro.Ele está criando um palanque para o Lula, transformando ele em vítima. Indubitavelmente, Lula está sendo perseguido pelo Moro."

Roberto Gondo, doutor em Comunicação Política, por sua vez, aponta o que seria uma "estratégia" do Partido dos Trabalhadores para "esboçar uma vitimização do Lula e uma mitificação dele, como sendo alvo de perseguição".

"Lula é réu não só nesse, mas em outros cinco processos. Obviamente, ele tem que dar justificativas. Não vejo um fato tão inédito. O que acho que é muito forte, observando a perspectiva das eleições, é uma posição estratégica do PT de já tentar esboçar uma vitimização do Lula e uma mitificação, como sendo alvo de perseguição."

Mais

Na avaliação da professora Clarice Gurgel, A "única saída para o PSDB derrubar a candidatura de Lula e a possível eleição dele em 2018 é o Judiciário, porque pela política o Lula já está vencendo". Na avaliação da cientista política, Lula é um sujeito forjado na luta política. Ainda que seja sindical, é uma luta marcada pelo debate sobre poder. Política é disputa de poder. “É interessante que, ao ir depor ao Moro, ele trouxe à tona aquilo que fica escondido em todos os tribunais, que é o caráter político da justiça. Isso ficou muito evidente quando ele rebatia o que o Moro falava. Isso não se faz normalmente no Judiciário, que tem uma atmosfera solene. Mas Lula, que é experiente, que carrega uma legitimidade muito grande, se sentiu à vontade para deixar evidente isso”, disse.

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