Praia suja

Mesmo com poluição, banhistas continuam frequentando praias

Nem as placas que apontam a impropriedade da água para banho afastam os banhistas do mar; o que muitos não sabem, porém, é do perigo que correm

Jock Dean/O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39
Mesmo com todas as praias consideradas impróprias para banho, banhistas se arriscam no mar, em São Luís; há perigo de contrair doenças
Mesmo com todas as praias consideradas impróprias para banho, banhistas se arriscam no mar, em São Luís; há perigo de contrair doenças (água poluída)

SÃO LUÍS - A qualidade das praias da orla de São Luís é motivo de preocupação desde 2012, mas isso não tem atrapalhado o banho de mar da população. Banhistas ouvidos por O Estado dizem não ter costume de consultar a qualidade das praias. Muitos alegam que a capital tem poucas opções de lazer e, por isso, não se pode abrir mão da orla. Há também quem alegue tomar certos cuidados para evitar problemas de saúde decorrentes do contato com a água poluída. Segundo profissionais de saúde, não apenas a água, mas também a areia pode causar diversas infecções.

O maior fluxo de pessoas nas praias de São Luís é no fim de semana e nos feriados, mas, mesmo de segunda-feira a sexta-feira, principalmente turistas hospedados nos hotéis ao longo da Avenida Litorânea ou bairros próximos frequentam a orla da cidade. Já a população local aproveita para praticar atividades físicas ou descansar com a família. Nem mesmo todas as placas ao longo da Avenida Litorânea, cartão-postal da cidade e trecho mais badalado da orla, afasta as pessoas.

Segundo quem trabalha nos bares, os turistas são os que mais perguntam sobre as condições das praias. “Eles veem as placas e perguntam se podem tomar banho. Eu sempre recomendo que não, mas ainda assim muitos deles mergulham. Muita gente vem de cidades onde não há mar e acaba não resistindo. Quem mora em São Luís se preocupa menos com a poluição. Quando chegam, pedem logo para ficar em uma mesa na areia”, afirma Arnaldo Moreira, garçom.

Na sexta-feira, dia 28, a praia não estava lotada, mas muita gente curtia o tempo livre no local. Luciana Rodrigues levou as filhas e as sobrinhas à praia. As crianças, como é comum, brincavam nas poças d’água e de se enterrar na areia. Para evitar que as meninas tenham algum problema de saúde, ela toma certos cuidados. “Além do protetor solar, eu trago água filtrada para que elas lavem as mãos e quando chegam em casa, elas tomam banho e lavam os cabelos”, conta.

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Mas há quem prefira evitar o mar. O funcionário público Antônio Castro é um deles. Ele costuma ir à praia para jogar futebol com os amigos, mas banho de mar é algo que ele não faz há muito tempo em São Luís. “Eu comecei a ter micose e percebi que o problema acontecia sempre que eu tomava banho de mar, então, parei de fazer isso”, afirma.

Cuidados
A infectologista Rosângela Cipriano destacou que, como muitas praias de São Luís estão impróprias para banho, as pessoas precisam mesmo tomar cuidado para não contraírem alguma doença. “Em São Luís, são feitos apenas estudos para testar a qualidade da água, mas não para testar a situação da areia das praias. Como algumas das praias estão com os níveis de coliformes fecais acima do permitido, os banhistas estão propícios a terem problemas gastrointestinais. Como a água entra em contato com a areia, é possível que essa areia também esteja contaminada”, explica.

O contato com a água contaminada pode causar gastroenterite, a mais comum entre as doenças que se pega na água imprópria para banho. A gastroenterite pode ser causada por bactérias, protozoários, como as amebas, ou vírus, como o rotavírus e o norovírus. Esses micro-organismos entram no corpo quando a pessoa ingere água contaminada, ainda que em pequenas quantidades, ou alimentos que tiveram contato com ela. De maneira geral, os sintomas são vômito e diarreia, mas também pode haver cólicas, febre e sangue nas fezes.

Outra doença que pode ser contraída é a hepatite A. Essa doença é causada por um vírus que chega à água pelas fezes de pessoas infectadas. A contaminação é por via oral, ou seja, pela boca, por meio da água ou de alimentos que tenham o vírus – ele consegue sobreviver por cerca de quatro horas na pele, após o banho de mar. “Nas praias de São Luís, os testes feitos não conseguem detectar o vírus da hepatite A. Além disso, não sei se ele sobreviveria por muito tempo na água salgada ao ponto de contaminar as pessoas”, diz Rosângela Cipriano.

A médica alerta ainda que, por causa dos seus hábitos, as crianças estão mais sujeitas a contrair essas doenças, pois é comum que elas ingiram a água do mar, se enterrem na areia e cometam outras imprudências. “Além disso, elas não têm um sistema imunológico menos resistente que o dos adultos”, informou.

Para prevenir as doenças ou diminuir os riscos de contraí-las, é necessário que cuidados básicos sejam tomados. Entre eles, observar os aspectos, conservação e transporte dos alimentos consumidos em praias, não frequentar praias sinalizadas como impróprias para banho, evitar levar animais para as praias, manter o corpo e os pé secos, lavar as roupas de banho após o uso, usar chinelos de borracha para não manter o pé úmido, evitar coçar os olhos, caso necessário, lavar as mãos, ingerir bastante água, evitar exposição excessiva ao sol e tomar cuidado com os afogamentos. “Como parte das praias de São Luís estão poluídas, o ideal seria que as pessoas não tomassem banho de mar nesses locais”, disse Rosângela Cipriano, infectologista.

SAIBA MAIs

Poluídas

Todos os pontos de praia analisados pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) foram considerados poluídos porque apresentaram níveis de Escherichia coli (coliformes fecais) abaixo do que determina a Resolução nº 274/00, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que considera águas das praias próprias para o banho quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras, obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, e colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 800 Escherichia coli por 100 mililitros de água. Para alertar os frequentadores das praias da Região Metropolitana de São Luís, todos os trechos interditados ou impróprios estão sinalizados com placas.

Doenças comuns que podem ocorrer:

Bicho geográfico
O que é: parasita que vive no intestino de cães e gatos, que é depositado no solo pelas fezes. A larva penetra e se aloja embaixo da pele, formando um caminho parecido com um mapa.
Sintomas: coceira e o desenho feito pelo caminho do parasita.
Prevenção: se caminhar em ambiente aberto, como areia, use calçado ou chinelo. Evite levar animais à praia.

Frieira
O que é: doença provocada por um fungo que causa micose entre os dedos, mais conhecido como pé de atleta.
Sintomas: rachaduras entre os dedos que provocam coceira intensa.
Prevenção: seque bem os pés depois de lavá­los, principalmente entre os dedos. Se for preciso, use secador de cabelos.

Intoxicação alimentar
O que é: doença provocada por bactérias que não alteram o sabor dos alimentos. Em geral é causado pela ingestão de alimentos ou água contaminados.
Sintomas: diarreia, vômito, febre alta, mal estar e dor no corpo.
Prevenção: evite alimentos de origem desconhecida. Tome cuidado com a higiene na hora de preparar a comida.

Desidratação
O que é: efeito provocado pela falta de líquidos no organismo.
Sintomas: provoca dores no corpo e na cabeça, vômito, tontura e queda de pressão arterial.
Prevenção: beber bastante líquido, de preferência, água. Em alguns casos, procurar o médico.

Insolação
O que é: exposição excessiva ao sol que causa queimaduras na pele que vão desde a vermelhidão até a formação de
bolhas.
Sintomas: mal estar, ardência na pele, queimadura de segundo grau, bolhas. Em alguns casos, enjoo, vômito e tontura.
Prevenção: evite exposição prolongada ao sol, entre 10h e 16h, use filtro solar com fator acima de 30 e beba bastante líquidos.

Câncer de pele
O que é: doença provocada pela exposição excessiva ao sol.
Sintomas: manchas que coçam, ardem, escamam ou sangram; sinais ou pintas que mudam de tamanho, formato e cor; feridas que não cicatrizam em até quatro semanas e mudança na textura ou cor da pele.
Prevenção: evite exposição prolongada ao sol, entre 10h e 16h e bronzeadores caseiros. Use proteção adequada, como bonés e filtro solar

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