Praia suja

Laudos da Sema têm resultados diferentes de balneabilidade

Último resultado de testes divulgado pela Sema mostra que todos os pontos estão poluídos; laudos anteriores, cujas análises foram feitas no mesmo período do último informado, os apontavam como próprios para banho

Jock Dean/O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39

SÃO LUÍS - A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) divulga constantemente laudos [e-s001]informando as condições de balneabilidade dos 21 principais pontos de praia de São Luís e São José de Ribamar. O último liberado pela secretaria mostra que todos os pontos estão poluídos. Mas laudos anteriores, cujas análises foram feitas no mesmo período, apontavam resultados contrários. A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) ressalta que executa diversas obras para melhorar a balneabilidade das praias de São Luís.

Durante o mês de abril, a Sema divulgou quatro laudos de balneabilidade das praias de São Luís e São José de Ribamar. Os resultados dos laudos apresentados são resultantes das análises do Laboratório de Análises Ambientais (LAA) da Sema. O último laudo divulgado pela Sema, na quarta-feira, dia 26, refere-se à ação de monitoramento realizada no período de 26 de março a 23 de abril deste ano, ou seja, ao longo de um mês, integrando a série de acompanhamento semanal das condições de balneabilidade das praias da Ilha de São Luís.

Para o laudo, foram coletadas e analisadas amostras de água de 21 pontos distribuídos nas praias da Ponta d’Areia, São Marcos, Calhau, Olho d’Água, do Meio e Araçagi. Dos 21 trechos analisados, todos foram considerados impróprios para banho. Esses pontos não estão recomendados para banho porque estão em desacordo com o estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que, em sua resolução nº 240/00, considera impróprio para banho o trecho cuja presença de coliformes fecais for superior a 2000 por 100 mililitros de água.

Laudos contraditórios
Mas chama a atenção o fato de que o último laudo divulgado pela Sema contradiz os anteriores. O documento do dia 19 de abril, referente ao monitoramento realizado no período de 19 de março a 16 de abril deste ano, apontava três dos 21 pontos analisados como impróprios para banho. Eram o trecho à direita da elevatória II da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), na Praia do Calhau; o trecho em frente ao Bar da Praia, na Praia do Meio, e o trecho em frente ao Fátima’s Bar, na Praia do Araçagi. Trechos estes que, no laudo divulgado menos de 10 dias depois, tiveram resultados contrários.

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O laudo divulgado dia 11 e referente ao período de 13 de março a 9 de abril deste ano, trazia o trecho em frente ao Bar da Praia, na Praia do Meio, como área de mar própria para banho. Uma semana antes, no relatório divulgado dia 6 de abril e referente ao período de 26 de março a 2 de abril, dos 21 trechos analisados, seis apresentavam boas condições de banho. Eram os trechos em frente aos bares do Chef e Marlene’s e em frente à Barraca da Marcela, na Praia de São Marcos; os trechos à direita da elevatória II da Caema, em frente à Pousada Tambaú e ao Bar Malibu, na Praia do Calhau; e o trecho em frente ao Bar da Praia, na Praia do Meio.

População desconfiada
Esta não é a primeira vez que laudos da Sema apontam resultados questionáveis. Em 13 de outubro do ano passado, um laudo divulgado pela secretaria apontou que toda a orla de São Luís estava liberada para banho. A notícia foi recebida com desconfiança e os laudos chegaram a ser contestados em audiências públicas. A desconfiança da população aumentou ainda mais no dia 4 de novembro, quando uma mancha negra foi vista por banhistas e frequentadores da Praia do Calhau. A chamada “língua negra” saía da foz do Rio Calhau e ia em direção à praia. A situação evidenciava que esgotos in natura ainda estavam sendo despejados diretamente no rio e, consequentemente, poluindo o trecho da praia. Na mesma semana, um novo laudo da Sema voltou a indicar que este trecho sem condições de balneabilidade.

[e-s001]
Em janeiro deste ano, a “língua negra” foi vista pela quarta vez no mesmo ponto da orla de São Luís. Em agosto de 2015, um vazamento de esgoto acabou contaminando o mar. Uma foto circulou rapidamente pela internet por meio de um grupo de kitesurfistas da capital e gerou um amplo debate sobre a poluição das praias de São Luís. O problema voltou em março de 2016 e repetiu-se em novembro. Nas ocasiões, a Caema informou que a presença da língua negra era decorrente de falhas em estações elevatórias da companhia.

Ações
A Caema está realizando uma série de ações para restaurar a balneabilidade das praias de São Luís por meio do programa Mais Saneamento, que objetiva aumentar de 4% para 70% o índice de esgoto tratado da capital. Para isso, o programa realiza obras que incluem a entrega de duas novas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), a Vinhais e a Anil. A Vinhais foi entregue em agosto do ano passado e a Anil está em fase avançada de obras. A ETE Vinhais beneficia 350 mil moradores de 48 bairros da capital e é uma das maiores do Nordeste. A ETE Anil beneficiará cerca de 56 mil moradores de pelo menos 20 bairros da capital. O programa também inclui a reforma das duas ETEs já existentes e a implantação de redes coletoras e interceptores, totalizando 355 quilômetros dos quais mais de 100 quilômetros já executados. Além disso, segundo a Caema, 35 novas estações elevatórias de esgoto serão implantadas.

Ainda como parte das ações do Mais Saneamento os rios Claro, Calhau e Pimenta estão sendo despoluídos. Os rios Claro e Pimenta já estão sem pontos de esgoto. Já a despoluição do Rio Calhau está em fase de licitação. A despoluição da Lagoa da Jansen também está em execução. A primeira fase foi concluída em 2015, com a retirada de quase 20 pontos de esgoto. A segunda fase de despoluição da Lagoa, já em fase final, retirará 50 pontos de esgoto da lagoa.

Na Avenida Daniel de La Touche, foram trocados 2.200 metros de uma rede de esgoto instalada em 1984. O resultado dessa obra é que, agora, a elevatória do Rio Pimenta não extravasa mais esgoto. São Luís conta, ao todo, com 58 elevatórias, das quais 15 estão sendo recuperadas.

SAIBA MAIS

Laudos

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) passou a divulgar os laudos com as condições de balneabilidade das praias após Ação Civil Pública (ACP) proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) do Maranhão obrigando a secretaria a divulgar amplamente as condições de balneabilidade das praias de São Luís, Raposa, São José de Ribamar e Paço do Lumiar, incluindo a fixação de placas em trechos impróprios para banho. Em abril de 2012, a Justiça Federal acolheu o pedido do MPF, determinando que a Sema divulgasse as condições de balneabilidade das praias e interditasse todos os trechos onde houvesse lançamento direto de esgotos.

Interditadas

Em 2012, as praias da Região Metropolitana de São Luís passaram quase 200 dias interditadas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) após a divulgação de um laudo, no dia 25 de março daquele ano, segundo o qual toda a orla estava imprópria para banho. A liberação ocorreu apenas em 11 de outubro, após a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) executar obras de melhoria do sistema de esgotamento sanitário de São Luís.

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