SÃO LUÍS - Nas unidades de saúde da rede pública, médicos e enfermeiros são vítimas, na maioria das vezes, de pacientes e familiares enfurecidos. Os agressores reclamam de uma série de situações e irregularidades de que os profissionais da saúde não são responsáveis. Nas unidades de emergência, o problema se torna ainda mais evidente.
Horas de espera e falta de medicamentos e materiais para exames, por exemplo, são situações que contribuem diretamente para deixar o ambiente das unidades de emergência dos hospitais locais tensos, em que os pacientes descontam suas raivas nos médicos e enfermeiros.
O Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão I), localizado no centro de São Luís, é a principal unidade de emergência da cidade e onde se concentra a maior quantidade dos casos. No local, a superlotação é um problema antigo e todos pagam pelas consequências.
Verificamos profissionais sobrecarregados e com alta demanda. Eles têm de seguir protocolos e o paciente sempre pensa que o problema dele é mais urgente”Marina Barros, coordenadora da unidade de fiscalização do Coren-MA
Relatos
Em contato com O Estado, uma das enfermeiras que trabalha no Socorrão I, que não quis se identificar, relatou que até o momento nunca sofreu agressões físicas, mas as verbais já se tornaram rotina em sua vida profissional. Em uma delas, o desfecho foi em uma delegacia de polícia.
O caso foi registrado em meados de maio do ano passado. Na ocasião, a enfermeira relatou que uma paciente chegou ao local queixando-se de febre. Contudo, o caso dela não era tão grave e, por essa razão, foi recomendado que ela procurasse outra unidade de saúde. “Na verdade, ela já tinha histórico de arrumar confusões”, disse a enfermeira.
Nesse momento, a paciente começou a disparar ofensas contra a profissional. O caso foi para a delegacia, onde foi feito um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). No fim, a agressora pagou multa no valor de um salário mínimo.
“É uma situação que causa o adoecimento dos profissionais de saúde”, relatou a enfermeira. Ela afirmou que também atua no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), onde também passa por situações semelhantes. Para a profissional, é importante que as pessoas conheçam melhor a configuração da rede hospitalar para saber o local mais adequando para se dirigir em caso de alguma urgência e tenham mais educação e respeito na hora do tratamento.
Outra médica entrevistada por O Estado também já passou por situação semelhante. Ela, que também não quis se identificar, trabalha na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Parque Vitória e disse que os casos de agressões verbais são frequentes e em um desses episódios por pouco não sofreu uma violência física.
O caso foi registrado em novembro do ano passado. Na ocasião, uma mãe chegou com o seu filho febril na unidade e queria de imediato o atendimento para a criança. O jovem foi medicado, mas precisava esperar um momento para fazer novos exames, mas esse intervalo revoltou a mãe da criança, que pensou que o atendimento ao filho estava sendo negligenciado.
“A demanda do local é grande. Tive que chamar o pessoal do administrativo para tirá-la da sala”, contou a médica. Ela afirmou ainda que também atua no ambulatório do bairro Coroadinho e passa pelas mesmas dificuldades. “Além da responsabilidade, lidamos com o estresse e a violência psicológica. Não nos sentimos seguros e ninguém faz nada. Muitos amigos meus já foram agredidos”, destacou e médica.
Irregularidades
De acordo com Marina Barros, coordenadora da unidade de fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem do Maranhão (Coren-MA), por diversas vezes a entidade encontrou irregularidades nas unidades de saúde, como superlotação e falta de material de trabalho, que revoltam os pacientes e estes descontam a raiva nos médicos e enfermeiros.
“Observamos diversas reclamações dos pacientes, mas nada justifica a violência. Dessa forma, o profissional de saúde sofre duplamente diante de todos os problemas. É muito complicado trabalhar em um ambiente que não é saudável”, relatou. Como consequência, há caso de depressões, queda de produtividade e até mesmo abandono do trabalho.
“Verificamos profissionais sobrecarregados e com alta demanda. Eles têm de seguir protocolos e o paciente sempre pensa que o problema dele é mais urgente”, completou Marina Barros. Ela afirmou também que seria necessário aumentar a quantidade de profissionais e melhorar as condições de trabalhos para que situações como essas não ocorram novamente.
O Governo do Estado e a Prefeitura de São Luís foram procurados pela reportagem para saber se estavam cientes dos casos de agressão sofridos por médicos e enfermeiros nas unidades de saúde e o que poderia ser feito para resolver esses problemas e também o da falta de condições estruturais das unidades de saúde, mas até fechamento desta edição nenhuma resposta foi obtida.
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