Tensão

Bombardeio dos EUA abre novo capítulo na guerra da Síria

Conflito em território sírio já dura seis anos e provocou mais de 470 mil mortes e grande onda migratória; apoio a Bashar al-Assad põe Rússia e EUA em lados opostos; ataque químico promovido pelo governo sírio em Idlib

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39
Marinha dos EUA mostra lançamento de míssil a partir de destroyer em ataque a base síria
Marinha dos EUA mostra lançamento de míssil a partir de destroyer em ataque a base síria ( Marinha norte-americana mostra lançamento de míssil a partir destroyer americano em ataque a base aérea síria)

WASHINGTON - O bombardeio promovido pelos Estados Unidos na noite da quinta-feira,6, na Síria abre um capítulo completamente novo e desconhecido em uma guerra que já perdura seis anos no país do Oriente Médio.

A paz já não encontra um sentido pleno no território sírio há muito mais tempo, pois o país vive uma tensão constante com Israel desde 1948. Mas o atual conflito armado que já deixou mais de 470 mil mortos na Síria teve início em 2011, quando surgiram grandes protestos contra o regime do presidente Bashar al-Assad – que tratou de reprimir ferozmente esse levante.

Também não é novo o fato de os Estados Unidos intervirem na guerra síria em lado oposto ao de Assad, uma vez que os americanos já vinham atuando em favor dos grupos rebeldes que tentam destituir o presidente sírio.

O bombardeio americano à base militar de Shayrat significou uma retaliação do presidente Donald Trump ao ataque químico promovido pelo governo sírio em Idlib na última terça-feira, 4. Na ocasião, mais de 80 pessoas morreram, entre elas 30 crianças, vítimas de um ataque aéreo ministrado com uma substância tóxica proibida em tratados internacionais.

O gesto do governo Trump provocou reação imediata da comunidade internacional, recebendo o apoio de líderes da União Europeia e de Israel, mas sendo condenado pela Rússia, Irã e China.

O conselheiro político de Bashar al-Assad, Buthayna Shaaban, afirmou na sexta-feira,7, que a Síria e seus aliados "responderão de maneira apropriada" ao bombardeio dos Estados Unidos contra a base militar de Shayrat.

Assad reage

O gabinete do ditador sírio Bashar al-Assad reagiu ao ataque promovido pelos EUA como um "comportamento irresponsável e imprudente".

O regime sírio também negou "categoricamente" que tenha realizado o ataque químico em Khan Sheikhun, cidade síria controlada por opositores do ditador Bashar al-Assad.

Segundo o Pentágono, 59 mísseis Tomahawk foram lançados de dois navios de guerra americanos no mar Mediterrâneo e atingiram a base aérea de Al Shayrat, em Homs, destruindo caças sírios, munição, radares e outros equipamentos militares. A ação durou entre três e quatro minutos.

A Rússia disse que apenas 23 dos 59 mísseis dos EUA atingiram a base síria. Os militares russos disseram ainda que seis jatos foram destruídos na base e que a pista está intacta. Moscou afirma que as defesas antiaéreas do Exército da Síria devem ser reforçadas.

Aliado do regime de Bashar al-Assad, o governo de Vladimir Putin condenou o ataque e disse que ele foi baseado em "pretextos inventados". O Irã também condenou a ação.

Novos ataques

O Pentágono indicou que não deve fazer novos ataques, a não ser que o regime de Assad volte a utilizar armas químicas contra civis. "O uso de armas químicas contra inocentes não será tolerado", diz o porta-voz Jeff Davis.

"Foi uma resposta proporcional" ao ataque a Khan Sheikhun destinada a "dissuadir o regime de utilizar armas químicas novamente". "Será decisão do regime se serão realizados outros (bombardeios), isso será decidido com base em seu comportamento futuro", acrescentou o porta-voz.

Em pronunciamento oficial após o ataque, o presidente dos EUA Donald Trump, falou que é "interesse vital da segurança nacional dos EUA evitar e deter a propagação e o uso de armas químicas".

"Assad sufocou homens, mulheres e crianças inocentes. Foi uma morte lenta e brutal para muitos", declarou Trump. "Até mesmo lindos bebês foram cruelmente assassinados neste ataque bárbaro. Nenhum filho de Deus deveria jamais sofrer horror tão terrível."

Reações

O presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, divulgaram pela manhã de sexta-feira,7, um comunicado conjunto responsabilizando o regime de Bashar al-Assad pela crise.

"Assad tem total responsabilidade por esses acontecimentos. Seu uso contínuo de armas químicas e seus crimes em massa não podem permanecer sem punição", diz o texto.

O secretário de Defesa do Reino Unido, Michael Fallon, afirmou que o Reino Unido não planeja ações na Síria, mas que apoia o ataque americano.

"Nós não estamos comprometidos com uma ação militar na Síria. Nosso parlamento considerou isso em 2013 e rejeitou", disse Fallon. Em 2013, logo após o ataque químico em Ghouta, Trump chegou a criticar o então presidente Obama sobre a intenção de bombardear a Síria. "O que ganharemos senão mais dívida e um possível conflito de longo prazo? Obama precisa de aprovação do Congresso", tuitou.

Justificado

A embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou nesta sexta-feira (7), que o bombardeio que o país fez a uma base aérea na Síria foi "totalmente justificado", informou a Reuters. Ela participa de uma reunião no Conselho na sede da entidade, em Nova York.

"Nós estamos preparados para fazer mais, mas esperamos que não seja necessário", afirmou Nikki Haley, de acordo com a agência de notícias. "Os Estados Unidos não vão concordar que armas químicas sejam utilizadas. É nosso interesse vital de segurança nacional prevenir o uso e a disseminação de armas químicas."

Mais

O saldo da guerra

- O conflito armado na Síria já causou a morte de mais de 470 mil pessoas morreram, de acordo com estimativas do Centro Sírio para Pesquisas Políticas.
- Segundo a ONU, a guerra também levou cerca de 10 milhões de sírios a cruzarem a fronteira do país em busca de paz.
- No Líbano, 25% da população já é composta por sírios refugiados, segundo informações do History Chanel.
- Mais de 7,5 milhões de crianças já foram afetadas diretamente pela guerra síria. Dessas, mais
- Após os três primeiros anos de conflito, a expectativa de vida na Síria foi reduzida em mais 20 anos de 79 anos para 55 anos, de acordo com o Centro Sírio de Pesquisa Política

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