Artigo

A qualidade dos nossos professores

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39

Assustadoramente, os cursos de licenciatura que forma a massa de professores para atuar na educação básica e tecnológica tiveram os piores resultados desde o início da avaliação (ENADE) quando ainda recebia o nome de Provão do MEC no final dos anos 90. Preocupante, pois além dos cursos estarem fracos e com altíssima evasão, os cursos de licenciaturas estão se esvaziando no tempo e no espaço em relação aos cursos de bacharelados e tecnológicos. Com a proliferação dos cursos EAD em todas as regiões do Brasil, mesmo as mais distantes dos grandes centros urbanos, aqueles que ingressam para obter o tão sonhado “canudo” de nível superior, preferencialmente optarão por cursos que não sejam ligados ao universo acadêmicos das licenciaturas. Nos cursos gratuitos das instituições públicas de ensino superior, a demanda é baixa bem como as notas de corte do Exame Nacional do Ensino Médio e dos vestibulares tradicionais, pois algumas instituições federais e estaduais adotam ainda o vestibular tradicional e qualidade dos alunos que serão os futuros professores também aquém do esperado.

As próximas gerações tendem a ter uma educação precária, o que pode reproduzir a pobreza por causa da menor qualidade dos novos professores. A constatação é do boletim “Perfil dos futuros professores”, divulgado pelo IDados no fim de abril. De acordo com o documento, as faculdades de Pedagogia no país atraem anualmente mais estudantes de escolas fracas e com desempenho ruim no ensino médio - o contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, em que os futuros docentes são recrutados entre os melhores alunos.

“Os alunos que teriam vocação para o magistério muitas vezes são desestimulados pela própria família pelas condições precárias da profissão, baixos salários e descaso do poder público”, lamenta Dora Megid, diretora da Faculdade de Educação da PUC-Campinas. “Acredito no potencial dos alunos de baixa renda, que conquistam resultados brilhantes em faculdades bastante exigentes, mas se não houver algum incremento nas condições de trabalho, esses mesmos estudantes acabam deixando de lecionar”, alerta.

O estudo aponta também que em nenhuma região do país existe uma política para atrair melhores estudantes para o magistério.

Uma combinação perversa solapa o futuro de milhares de brasileiros e do próprio país; a falta de incentivos para a carreira docente e a péssima formação oferecida por cursos de baixíssima qualidade, em especial os ofertados por escolas privadas que tem como único objetivo o lucro e não a rigorosa formação do aluno. Para eles, rigor pode significar a evasão e evasão significa menos dinheiro no caixa. Esta é a lógica, infelizmente. Com baixo salário em relação a outras carreiras de nível superior, estresse, depressão e falta de incentivo à carreira serão os motes que a cada ano afastarão possíveis talentos para a carreira da educação. Enquanto isto o país continua jogando fora seu futuro em desenvolvimento científico e tecnológico. Assim, basear nossa economia em recursos esgotáveis, como as commodities, é mais que um erro estratégico; é um crime de lesa-pátria.

Victoria Angelo Bacon

Secretária executiva da Universidade Federal de Rondônia e docente das Redes Pública e Privada de Ensino, graduada em Letras e Comunicação Social

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